Ribau Esteves, Trump e a extrema-direita portuguesa

2016
André ventura, Chega.
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Em 2016, Ribau Esteves decidiu exaltar a vitória de Donald Trump. Dizia que era a oportunidade para Portugal e a Europa seguirem esse mesmo caminho. Sabemos como essa história está a acabar: política de ódio, violência racial, ataques aos direitos dos trabalhadores, negacionismo climático e a tentativa de destruição das instituições democráticas, nomeadamente do voto.

Por Nelson Peralta *

Posto isto, que diz agora Ribau Esteves sobre o acordo PSD-Chega nos Açores? Que o Chega é igual ao Bloco de Esquerda e que são ambos igualmente maus. Discutamos o argumento.

1 – O argumento não é novidade

É usado onde quer que a extrema-direita cresça. Já vimos este filme. Trump gritava que os antifa e os supremacistas brancos eram iguais, apesar de só os últimos matarem. Lula e Bolsonaro eram iguais, apesar de só o último defender o regresso da tortura.

2 – Não referem uma única proposta do Bloco comparável

Porque não existe. Em 2015, o Bloco apoiou uma solução de governo precisamente para fazer cumprir a Constituição, nos direitos e rendimentos de trabalho e nos serviços públicos.

A proposta do Chega é rasgar a Constituição. No que se refere a liberdades direitos e garantias, retirando da lei os crimes de ódio, discutindo penas de mutilação típicas de fundamentalistas religiosos, com confinamento específico para etnias. É, como o próprio PSD diz, um partido com posições racistas e xenófobas. O seu programa quer ainda privatizar todo o Serviço Nacional de Saúde e a Escola Pública.

Equivaler propostas de ódio racial a alterações ao código laboral é absurdo. É relativizar os direitos humanos. Uma coisa é discordar democraticamente de soluções, outra é usar os mecanismos da democracia para acabar com ela e inviabilizar a vida de parte da população na sociedade.

3 – A quem serve o acordo nos Açores?

O único ponto concreto é o ataque aos pobres. Em plena crise e na região mais pobre do país querem cortar apoios sociais. Mas o objetivo não são as políticas, é o acordo em si. André Ventura foi muito claro (entrevista ao DN/TSF) sobre o que queria do PSD: não é que apoie as políticas do Chega, é que não exista cordão sanitário, que seja dada dignidade ao Chega.

A direita sabe que, depois do governo Passos/Portas, tão cedo não ganhará eleições. Não tem credibilidade para falar de economia e da vida das pessoas. Resta a esperança numa nova roupagem e em novos (velhos) medos espalhados pela extrema-direita, mas para implementar as mesmas políticas de desigualdade social e ataque à população mais empobrecida. Para esse caminho querem a legitimação.

Rui Rio deu-a. Ribau Esteves festeja-a.

Nelson Peralta.

* Deputado do Bloco de Esquerda na Assembleia da República.

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