O perigo para a biodiversidade do Projeto Hidroagrícola do Baixo Vouga

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Baixo Vouga Lagunar (foto de António Garcia).

Meio século de previsão dos ambientalistas e meio século de ideias obsoletas da administração pública.

A partir de 1979 o NPEPVS (Núcleo Português de Estudo e Proteção da Vida Selvagem), entre 1985 e 1990, o núcleo distrital de Aveiro da QUERCUS e a partir dessa data a FAPAS alertaram para o perigo que representava para a biodiversidade local o Projeto Hidroagrícola do Baixo Vouga, nomeadamente com a construção de um dique impeditivo da livre circulação da maré.

Até finais da década de 80 do passado século, os campos do Baixo-Vouga representavam uma área de grande potencial para a biodiversidade entre as demais áreas lagunares do norte do país, constituindo-se como a quarta zona húmida portuguesa a nível nacional, depois do estuário do Tejo, da Ria Formosa e do estuário do Sado.

A construção do primeiro troço do dique nos anos 90 veio confirmar que as alterações a que o referido projeto hidroagrícola se propunha estava tão somente a alterar dramaticamente as características dos campos do Baixo-Vouga, com diminuição de espécies selvagens, nomeadamente com o desaparecimento de áreas de cria para algumas delas.

A acrescentar ao impacto negativo do dique então construído o Baixo-Vouga lagunar veio a somar outro tipo de agressões, como o projeto BIORIA, atentatório para o meio, pela exagerada perturbação que teve numa área que deveria ser um espaço protegido.

A continuação da concretização de um velho projeto hidroagrícola, que no passado foi alvo de Estudo de Impacte Ambiental, o qual concluiu como consequências negativas aquelas que o NPEPVS/QUERCUS/FAPAS já tinham referido, não passa de mais uma cartada política, e de interesses que não visam a conservação dos campos do Baixo-Vouga.

Historicamente a Ria de Aveiro formou-se em contato com o oceano e sempre que esta ligação era impedida graves problemas advinham para a região. As lagunas costeiras e os ecossistemas associados a elas surgem naturalmente desta forma. Sobretudo nas últimas décadas do final do passado século surgiram em vários países da Europa projetos megalómanos em nome do progresso, da agricultura, do turismo, etc. que ameaçaram as zonas húmidas, como a Ria de Aveiro. Marismas, salinas e lagunas sofreram com essas “idiotices” e regiões importantíssimas como as marismas de Andaluzia, a Camarga Francesa ou as lagunas italianas sofreram muito…mas perceberam que tinham errado e recuaram passando a proteger e a valorizar a biodiversidade das zonas húmidas nacionais.

Portugal não aprendeu nem quer aprender vá-se lá saber porquê… Ria de Aveiro, Montijo, Alcochete, Barrinha de Esmoriz, Alagoas Brancas, Ria Formosa, continuam a ser notícia pelos atentados que se teimam em levar para o terreno prejudicando sempre o ambiente e em particular a biodiversidade.

As zonas Húmidas são de proteção recomendada a nível mundial. A Ria de Aveiro é uma Zona de Proteção Especial para as Aves e possui zonas IBA. A CIRA (Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro) devia saber disso e o ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) sabe-o garantidamente.

A FAPAS, Associação Portuguesa para ac Conservação da Biodiversidade, condena estes projetos megalómanos de degradação do Baixo Vouga Lagunar e exige que o Ministério do Ambiente determine a elaboração dos estudos adequados à avaliação das intervenções anunciadas.

Mais informações em https://www.fapas.pt/em-defesa-do-baixo-vouga-e-da-ria-de-aveiro-sitio-da-rede-natura-2000/

FAPAS (Núcleo Aveiro/Zonas Húmidas)
Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade

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