Estaremos a criar uma rede de mobilidade ciclável?

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Parque de bicicletas, Aveiro.
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Atualmente em Aveiro é visível a criação de mais uma estrutura de fomento e apoio à prática de uma mobilidade ciclável. Ao longo da cidade conseguimos observar estas estruturas de recolha e receção da nova BUGA 2.0 que será uma bicicleta elétrica partilhada. No entanto, há um conjunto de questões que gostaria de colocar e refletir.

Por Leonardo Costa *

A questão central que gostaria de fazer é se a criação da BUGA 2.0 significa que está a chegar a verdadeira rede de mobilidade ciclável em Aveiro?

1. Uma rede de mobilidade ciclável não se trata apenas de criar bicicletas partilhadas. É um sistema muito mais abrangente que engloba um conjunto de dimensões importantes como são as ciclovias que devem garantir segurança, conforto, conetividade, atratividade e acessos que incentive ao uso da bicicleta e onde seja fácil alcançar os destinos pretendidos pelos ciclistas.

Além das ciclovias as infraestruturas de apoio também são igualmente relevantes como são estacionamentos e os sistemas de bicicletas partilhadas. No entanto, está a ser/foi realizado algum diagnóstico de identificação de necessidades e problemas levantados por quem anda de bicicleta em Aveiro? Alguma vez questionaram se o utilizadores da bicicleta, ou até mesmo quem anda de BUGA, sente segurança, conforto ou facilidade em chegar aos pontos pretendidos quando anda pelas estradas em Aveiro?

2. Uma outra dimensão relevante que deve entrar no momento de implementação de uma rede de mobilidade ciclável, prende-se com a dimensão da estratégia. Eu não consigo comprar a ideia de que só criamos as infraestruturas necessárias atendendo ao número de pessoas que anda de bicicleta. O paradigma deve ser completamente diferente e deve começar pela verdadeira vontade de incentivar ao uso da bicicleta, conquistando novos utilizadores.

Este deve ser o objetivo – Aumentar o número de utilizadores de bicicleta – e, nesse sentido, teremos de criar as condições físicas e estratégicas aquando da implementação da rede. É por isso que a literatura científica recomenda a identificação clara de pontos como o público-alvo que a rede pretende atingir e que maior potencial tem de alterar os seus hábitos de mobilidade para uma mobilidade ciclável. Ao mesmo tempo, e quando estamos a desenhar uma rede é igualmente importante identificar os pontos-chave da cidade e cujo potencial de procura é maior por parte dos ciclistas. Desta forma, seremos mais eficazes e eficientes no alcance do objetivo pretendido.

3. Por fim, é importante desenvolver um compromisso com a mobilidade ciclável e envolver um conjunto de agentes na estratégia. E aqui os munícipes aveirenses também são importantes. Os mesmo não devem só contar para quando as infraestruturas estão feitas, mas sim no princípio da sua criação. Quantos munícipes aveirenses participaram em algum questionário sobre como gostariam de ver uma ciclovia desenvolvida? Este envolvimento não só cria a oportunidade de ouvirmos novas visões, de quem circula pela cidade todos os dias, mas também permite criar um sentimento de participação e de inclusão em algo que está a ser feito também por “nós”, munícipes, para a “nossa” cidade de Aveiro.

Em virtude do que foi mencionado, não tenhamos dúvidas que a mobilidade ciclável é vista como sendo importante para combater problemas e desafios que enfrentamos nas cidades. Primeiramente, porque é um tipo de mobilidade sustentável e em segundo lugar porque consegue combater o problema do uso excessivo do carro individual, que além de poluente, apresenta desafios como a ocupação do espaço, congestionamentos, ruído, e onde o fomento do uso da bicicleta, sobretudo nos centros das cidades, poderia contribuir para amenizar alguns destes problemas. Acredito que Aveiro ainda tem um longo caminho para a criação de uma rede de mobilidade ciclável, mas gostaria muito de ver uma estratégia a ser desenvolvida nesse sentido. Para já ficamos com a magnifica BUGA 2.0, poucas ciclovias segregadas e a criação de vias partilhadas entre automóveis, ciclistas, como é grande parte do trajeto feito da estação até à Universidade de Aveiro.

* Coordenador do núcleo de estudantes socialista da Universidade de Aveiro. Licenciado em administração pública, mestrando em administração e gestão pública e pós-graduação em planeamento regional e urbano na Universidade de Aveiro.

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