“Temos boas razões para celebrar”

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Paulo Jorge Ferreira, Reitor da Universidade de Aveiro.
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O investimento nas pessoas tem de começar cedo, de forma a estimular talentos e despertar vocações.

Paulo Jorge Ferreira *

Celebramos o início de um novo ano. Trata-se de uma estreia, para os nossos novos estudantes; e de um reencontro, para todos os outros membros da comunidade académica.

Agradeço aos novos estudantes e às famílias a confiança que depositaram na Universidade de Aveiro. O percurso que este ano iniciam vai sem dúvida ajudar-vos a serem donos do vosso futuro. Obrigado por terem apostado na Universidade de Aveiro. Asseguro-vos que também apostamos tudo em vós.

Não posso esquecer os diretores e representantes do Ensino Secundário e Agrupamentos de Escolas presentes. Ser professor é mais que assegurar transmissão cultural: ser professor é moldar e preparar o futuro. Uma missão nobre, mas tantas vezes incompreendida e tantas vezes desvalorizada. Muito obrigado pela vossa presença e pelo contributo para a formação dos jovens que nos procuram.

Um agradecimento especial também a todos os patrocinadores dos prémios e bolsas de mérito que hoje entregaremos. Premiar a excelência é essencial para promover a aquisição de bons hábitos de trabalho, o desenvolvimento individual e a motivação.

Neste dia de festa, saúdo todos. Desejo-vos um ano académico inesquecível. E este ano, olhando aos resultados da primeira fase do Concurso Nacional de Acesso, temos boas razões para celebrar.

A nível nacional, e contrariamente ao ano passado, 2018 parecia pouco favorável. O ano passado, o número de candidatos tinha excedido o número de vagas, algo inédito desde 2009 e que não se repetiu este ano. Na verdade, registaram-se menos 3000 candidatos ao ensino superior neste ano.

Apesar disto, na primeira fase do Concurso Nacional de Acesso foram colocados na Universidade de Aveiro mais de 2100 estudantes, o maior número de sempre. O número de candidatos que elegeram a Universidade de Aveiro como a sua primeira escolha foi superior ao número de vagas que colocámos a concurso e aumentou significativamente face ao ano anterior. A proporção de colocados com nota superior ou igual a 18 subiu 50% face ao ano passado.

No âmbito do programa Erasmus, chegaram-nos mais de 430 estudantes de 38 países, que muito contribuem também para renovar e enriquecer a Universidade. Estes novos estudantes, que acolhemos de forma única num grande piquenique, vieram juntar-se a uma comunidade vibrante de mais de 14000 estudantes onde estão representados cerca de 90 países. É nosso desejo que este ano vos fique na memória como o primeiro ano de uma viagem inesquecível através do conhecimento.

Bem-vindos a todos e obrigado por escolherem a UA.

Completam-se esta semana 100 dias de trabalho desde que a atual reitoria iniciou funções.

Parece-me oportuno fazer um breve balanço do que temos feito e do que planeamos fazer.

Começo pela administração e serviços. Com a entrada em funções de uma nova equipa reitoral é necessário imprimir à administração e serviços direções compatíveis com o novo programa de ação. Este passo é essencial para a boa articulação entre os planos estratégico e operacional. Foi com esse intuito que nomeei um novo Administrador, uma nova equipa de administração e um novo diretor do Serviço de Gestão de Recursos Humanos e Financeiros.

A necessidade de dotar a Universidade de Aveiro de apoio jurídico coerente e eficaz levou a que criássemos uma estrutura interna, designada Núcleo Jurídico, que ficou adstrita à Administração.

A intenção de vir a criar na Universidade uma unidade orientada para o seguimento da atividade administrativa conduziu à criação de outra estrutura interna, com funções de observatório no âmbito da modernização administrativa.

A vocação transversal que têm os Serviços de Tecnologias de Informação e Comunicação e a mesma necessidade de lhes imprimir rumo compatível com as novas direções estratégicas levou à nomeação de novo diretor, que iniciou funções esta semana.

Criámos na mesma altura uma terceira estrutura interna, esta dedicada à cibersegurança, matéria prioritária para qualquer organização contemporânea. Iniciou funções nos Serviços de Ação Social, também esta semana, um novo diretor delegado, lugar vago há vários anos e cuja necessidade se vinha a sentir – naquele que é um dos serviços mais importantes, se não o mais importante, para os nossos estudantes. As alterações mencionadas não refletem juízos de valor sobre pessoas, mas sim necessidades de orientação estratégica. Por isso, e sempre que aplicável, tivemos presente a preocupação de recolocar as pessoas que ocupavam cargos dirigentes em posição condigna e adequada às suas qualificações e experiência.

Sobre o emprego científico

E falando de pessoas, a afirmação da Universidade de Aveiro como uma instituição de referência nacional e internacional exige a contínua renovação da sua capacidade de investigação competitiva. O enriquecimento humano é fundamental e para isso é necessário atrair, renovar e rejuvenescer.

Quando tomámos posse parecia já fora do alcance da Universidade de Aveiro abrir os mais de 200 concursos (o maior número a nível nacional) que haviam sido identificados ao abrigo da norma transitória do Decreto-Lei 57 de 2016.
Havia dúvidas quanto ao financiamento. A lista de concursos carecia de atualização. O prazo final tinha-se tornado impossível. Mas não fazer nada era ignorar a lei, perder uma oportunidade, desmotivar centenas de jovens investigadores e assistir ao empobrecimento humano da nossa instituição.

Trabalhando com o ministério, a FCT e as unidades de investigação venceram-se as dificuldades. Preparámos o contrato-programa com a FCT e lançámos os primeiros 150 concursos menos de 60 dias depois de termos iniciado funções. Seguiram-se mais 53 concursos.

Cumprimos a lei. Nenhuma outra instituição fez tanto; e nenhuma outra instituição atuou em menos tempo. Em 2019, o impacto orçamental destes concursos excederá 6,6M€. A este valor é necessário somar perto de 1M€, que por lei terá de ser suportado pela Universidade de Aveiro. As receitas foram certificadas pela FCT a tempo de serem inscritas no orçamento de 2019.

Além destes concursos, estão previstos mais 134 no âmbito de projetos específicos, com um impacto orçamental em 2019 superior a 5M€. Desses, 82 estão já em curso ou mesmo concluídos.

O impacto orçamental destes concursos apenas é superior a 1M€ por mês. Menciono ainda o recente concurso para estímulo ao emprego científico individual, cujo resultado fala por si: 53 lugares para a Universidade de Aveiro.

Mas o investimento nas pessoas tem de começar cedo, de forma a estimular talentos e despertar vocações. Por isso lançámos há dias o Programa de Bolsas de Doutoramento da Universidade de Aveiro, aberto naturalmente aos dois subsistemas – universitário e politécnico. Retomamos assim uma ideia antiga, que não era explorada há 11 anos. Gradualmente, criaremos condições para que mais jovens investigadores de todas as áreas científicas concretizem o seu potencial e contribuam para o desenvolvimento dos sistemas económico e científico.

A avaliação e o descongelamento de carreiras são também temas de interesse geral. Uma vez conhecidos os resultados das avaliações de desempenho, a Universidade de Aveiro poderia avançar com os pagamentos resultantes, nos termos da lei. A regulamentação vigente poderá agradar mais a uns que a outros, mas não está na nossa mão alterá-la retroativamente. O que podemos e devemos fazer é informar cada membro da comunidade sobre a sua situação, um por um; e atuar de forma a pagar-lhes o mais cedo possível.

Havia obstáculos. Em primeiro lugar, o orçamento deste ano foi estabelecido em Agosto do ano passado e o impacto orçamental dos pagamentos ultrapassa 1,3€M, ainda este ano. Em segundo lugar, os resultados da avaliação do triénio que terminou em 2017 não tinham ainda sido homologados. Em terceiro lugar, havia um grande número de processos por encerrar que não podiam sequer ser homologados.

Atacámos o problema dividindo-o em duas fases. Tratámos dos obstáculos orçamentais. Os pagamentos serão realizados este mês.

Recebi de muitos de vós perguntas acerca do estado deste processo, que fundamentadamente sentiam ter-se arrastado. Reuni com sindicatos e um grupo parlamentar, nalguns casos mais que uma vez. Expliquei o que iríamos fazer e o que estávamos a fazer. Hoje, podemos dizer que cumprimos. Agradeço-vos a todos a paciência.

O trabalho foi intenso e estes dois dossiers (emprego científico e avaliação) colocaram enorme pressão sobre serviços e pessoas. A resposta tem sido perfeita, mas o trabalho está ainda longe de terminado: recebemos mais de 300 candidaturas só para os concursos ao abrigo da norma transitória. Ao Vice-Reitor Artur Silva, que conduziu estes processos com energia ilimitada, e a toda a equipa igualmente dedicada que tornou possível esta dinâmica de que tanto nos orgulhamos, o meu agradecimento em nome de todos. Muito obrigado.

Alguns outros assuntos

Destaco os eventos e sucessos desportivos do último ano, mas cedo o palco ao Presidente da Associação Académica para eventual análise ou comentário. É justo dar-lhe essa possibilidade. Na frente desportiva, estrategicamente tão importante para a UA, devemos muito ao seu trabalho e dos seus antecessores. Mas aproveito para agradecer já aos Serviços de Ação Social todo o empenho que têm demonstrado, também nesta vertente.

Sublinho o percurso que estamos a fazer rumo à certificação ambiental da Universidade de Aveiro. É um esforço da maior importância e que merece o convicto apoio de todos nós. A Universidade de Aveiro preocupa-se com a educação e com o ambiente: com o ambiente, porque queremos deixar o melhor planeta possível para a próxima geração; com a educação, porque queremos deixar a melhor geração possível no planeta. Não deixaremos cair nenhum destes objetivos, que se complementam.

É justo mencionar ainda que temos instaladas no Parque de Ciência e Inovação, operacional há poucos meses, cerca de 66 empresas. Vejo-as como 66 promessas e 66 oportunidades para a região e para o país. Estamos a trabalhar para que surjam ainda mais. O país precisa de todas. Porque há ainda muito a fazer, termino mencionando o futuro.

O trabalho da reitoria nestes primeiros 100 dias foi direcionado para o interior da grande máquina que faz mexer a Universidade de Aveiro, ou para dossiers importantes como o da avaliação ou emprego científico, que era prioritário fecharmos. Impõe-se, agora, dirigir o olhar para fora – para a comunidade. Esse esforço, na verdade, já começou.

Estamos a construir no coração do Campus de Santiago um espaço voltado para as pessoas, com o intuito de estimular a vida no campus. Inclui uma zona de estudo disponível 24 horas em 24 e um espaço intercultural, entre outros. O objetivo último é conseguirmos que um qualquer dos campi da Universidade de Aveiro não seja um mero lugar de visita ou de passagem – mas um lugar que se vive e que se sente.

Por isso criaremos, dentro de dias, uma estrutura interna de apoio à reitoria, voltada para a vida nos campus, para o aumento da articulação com as comunidades envolventes, atenta à acessibilidade e mobilidade e às vertentes social, cultural e desportiva.

Há um outro compromisso da maior importância que assumo aqui. Diz respeito aos serviços e às pessoas: a intenção de autonomizar, previsivelmente até ao final deste ano civil, a área de recursos humanos como uma Direção de Serviços própria. Este passo é essencial para dotar a UA de uma verdadeira política de gestão de recursos humanos, em que aspetos como avaliação, carreiras, formação e mobilidade – entre outros – possam ser tratados de forma integrada, a bem das pessoas.

É um grande prazer anunciar, em primeira mão, uma iniciativa consistente com um compromisso que assumi quando da minha tomada de posse: a criação conjunta, pelas universidades de Aveiro e do Minho, de um programa de incentivos à investigação nas artes, humanidades e ciências sociais. Nestas áreas, as oportunidades de financiamento são por vezes reduzidas, apesar da importância que todos lhes reconhecemos.

O diploma de graus e títulos, que estabelece entre outras reformas o fim dos mestrados integrados, coloca à Universidade de Aveiro um desafio de grande dimensão. Está já convocada uma reunião com os principais interessados no processo. Esta oportunidade de reorganização da oferta formativa deve exigir-nos reflexão profunda.

Retomaremos as reuniões com todos os diretores, numa base mensal, estando já marcadas as de Outubro e Novembro. Fará parte da agenda a discussão da natureza e modo de funcionamento das próprias reuniões e o início da recolha de contributos para um documento de orientação estratégica, a ser submetido ao conselho geral.

De forma a complementar essas reflexões, realizaremos no final deste mês uma reunião aberta à comunidade. Entendemos que o documento de orientação estratégica é da Universidade de Aveiro e não da reitoria, e como tal deve ser pensado com a Universidade de Aveiro e não apenas pela reitoria. Alargar o debate a todos parece-nos essencial para que o resultado pertença efetivamente a todos. Para aprofundar e complementar o debate, realizaremos um conjunto de visitas a todas os departamentos e escolas politécnicas da Universidade de Aveiro, entre o final de Novembro e a primeira semana de Dezembro. Reuniremos com as Comissões Executivas e unidades de investigação relevantes, visitaremos as instalações e estaremos disponíveis para ouvir os que quiserem participar e dar o seu contributo.

Para sermos a Universidade das pessoas, é necessário criar condições para que o sentido crítico e participativo se desenvolva na totalidade em toda a comunidade académica. Estas medidas vão justamente ao encontro desse objetivo. Outras virão, porque o compromisso da Universidade de Aveiro com as pessoas é para continuar.

* Reitor da Universidade de Aveiro, discurso na sessão solene de abertura do ano letivo 2018/19.

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