O futuro das viagens de negócios e dos congressos

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Vista Alegre (imagem zenhotels.com).

A London School of Economics deixou um alerta aos gestores e às organizações: equipas que trabalham à distância/virtualmente revelam, quando comparadas com equipas que trabalham presencialmente, menor grau de confiança interna, coesão social, comunicação, consenso, partilha de informação e memória dos processos e sistemas de interação.

Por Cristina Siza Vieira *

A presença física é imprescindível para o negócio. Por isso, embora o turismo de negócios possa vir a ter uma recuperação mais lenta do que o turismo de lazer, e sofra mesmo alguma perda irrecuperável, esta não será seguramente tão violenta quanto Bill Gates vaticinou (menos 50%).

Os portugueses são um bom exemplo da máxima de que a presença física é mesmo a alma do negócio, com o talento moldado nos tempos em que iam em busca de especiarias, sedas, ouro e prata e aperfeiçoado pelo Oliveira de Figueira, personagem de aparição breve mas marcante nas aventuras do Tintin. O ser humano é, sem dúvida, ser de relação, de trabalho de equipa, e se a presença e as vendas online estão para ficar e crescer, é com a proximidade da presença física que se estabelecem e fortalecem relações de confiança, o conhecimento do cliente, das suas necessidades e desafios, que se negoceiam as condições do serviço e especificidades dos bens (e preços), muitas vezes à mesa do almoço, no café nas feiras ou congressos, numa bebida no hotel.

Duas universidades de referência fizeram estudos recentes com conclusões muito interessantes. A London School of Economics deixou um alerta aos gestores e às organizações: equipas que trabalham à distância/virtualmente revelam, quando comparadas com equipas que trabalham presencialmente, menor grau de confiança interna, coesão social, comunicação, consenso, partilha de informação e memória dos processos e sistemas de interação, em resultado do que “virtual teams are generally less effective than face-to-face teams”. Isto apesar dos esforços (e custos) associados a contrabalançar estes efeitos negativos. Já a Universidade de Harvard demonstrou que o turismo de negócios induz crescimento económico, pela partilha de informação e de ideias com origem em diversos países e regiões que têm especializações e conhecimento em diferentes áreas de negócios (um exemplo surpreendente é o efeito de arrasto que traria a paragem das viagens de negócios dos japoneses, não apenas nas economias da sub-região Ásia/Pacífico mas também na Índia, Alemanha, EUA e Arábia Saudita) (in “What Would Happen if Business Travel Stopped?”)

Portanto, qual o futuro das viagens de negócios individuais/de visita a clientes e das viagens para participar em reuniões, congressos e convenções?

Quanto às primeiras, ninguém duvide: assim que o CFO de uma empresa começar a fazer contas entre o que se poupa em viagens mas o que não se ganha em vendas, e a ver a concorrência a viajar, põe logo os motores em marcha. Quanto às segundas, e já que o trabalho remoto vai deixar raízes, os encontros presenciais vão ser ainda mais essenciais para criar a cultura de empresa (e aliviar a fadiga do Zoom …); e, sobretudo, tanto do lado das empresas como dos países existe grande interesse no regresso destes eventos, já que as relações humanas construídas durante os mesmos alimentam a inovação, a criatividade e o crescimento de produtividade.

Pode tardar – há quem vaticine que só para 2024 o turismo de negócios estará de plena saúde – e não recuperar tudo e em todos os segmentos, mas enquanto as relações humanas forem reais, também os negócios se farão face a face.

* CEO da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal. Artigo publicado orginalmente em https://www.hoteis-portugal.pt/news/2222/23

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