O monstro da inflação volta a atacar

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Indicadores (imagem gráfica).

Em outubro de 2022, a taxa de inflação, dada pelo Índice de Preços no Consumidor (IPC), era de 10,14% para Portugal, o valor mais alto desde outubro de 1992 (dados INE e Eurostat).

Por Elisabeth Pereira *

No entanto, os preços da energia e dos bens alimentares aumentaram, em termos homólogos, 27,6% e 18,8% respetivamente. Em janeiro de 2022, a taxa de inflação era de 3,3% e um ano antes de 0,3%.

As principais consequências da inflação repercutem-se na diminuição do poder de compra dos indivíduos e famílias e na incerteza que provoca. Se os preços aumentam e os salários, pensões e outros rendimentos não acompanham o aumento dos preços, o poder de compra diminui e o bem-estar também, refletindo-se de forma mais grave nas pessoas de menores rendimentos que podem deixar de conseguir fazer face às despesas de alimentação, higiene, saúde e habitação.

A inflação quando começa a aumentar muito rapidamente pode tornar-se particularmente grave, porque as políticas económicas, quer orçamentais por parte dos governos quer monetárias por parte dos bancos centrais, requerem tempo para controlar os seus efeitos.

Depois da inflação de dois dígitos que caracterizou a Europa nas décadas de setenta a noventa do século XX, a inflação parecia um problema do passado. A Comissão Europeia e o BCE estabeleceram regras e mecanismos para controlar os défices, o endividamento e a inflação nos vários países membros da União Europeia (UE). O BCE estabeleceu para a orientação da sua política monetária o objetivo primordial de uma estabilidade de preços de 2%, a médio prazo. Este objetivo vem determinar um peso maior na decisão do BCE (de acordo com a aplicação da Regra de Taylor) da taxa de juro diretora, com influência direta nas taxas de juro dos empréstimos.

A atual situação de inflação é o resultado de políticas macroeconómicas dos países desenvolvidos, orientadas em grande parte para o consumo. Estão sustentadas em políticas orçamentais e na preponderância da gestão da política monetária realizada por bancos centrais independentes para a estabilidade de preços, subestimando a importância da integração do comércio internacional. Para reduzir custos, estes países permitiram concentrar grande parte do seu fornecimento de energia e produtos intermédios à indústria e de bens de consumo essenciais em produtores externos.

A guerra Rússia-Ucrânia veio espoletar um choque adverso da oferta, pelo aumento dos preços dos combustíveis, petróleo e gás, acentuado pela escassez dos bens que eram produzidos em grandes quantidades naqueles territórios, como é o caso dos cereais. Esta situação agravou a dependência destes bens, particularmente dos países europeus, assim como os problemas estruturais existentes nos domínios da dependência energética e da transição climática, e despertou o mundo inteiro para o ressurgir dos problemas da inflação e para a sua persistência.

A existência prolongada da inflação, além dos problemas sociais e políticos que acarreta, traz incerteza e perda de confiança dos agentes económicos, podendo levar a uma inevitável recessão. Pelo que 2023 não será um ano fácil… espera-se a persistência de elevadas taxas de inflação e para a combater espera-se que as taxas de juro continuem a aumentar, embora a um ritmo inferior a 2022, pois em alguns países europeus já se preveem recessões.

* Professora do Departamento de Economia, Gestão, Engenharia Industrial e Turismo da Universidade de Aveiro. Este artigo de opinião faz parte da edição número 38 da Revista Linhas da UA.

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