
Há um murmúrio que percorre o nosso país, uma corrente de otimismo que nasce no mar e se sente terra adentro. É a convicção, partilhada por muitos de nós, de que Portugal tem nas mãos uma oportunidade histórica, um desígnio que nos é quase inato: o de sermos a grande ponte do mundo.
Por Paulo Ramalho *
A nossa herança, escrita nas estrelas que guiaram os nossos navegadores, chama-nos a um novo tipo de descoberta. Hoje, as cartas de marear são digitais, as caravelas são gigantes do aço que deslizam sobre os oceanos, mas o espírito é o mesmo. A missão é clara: transformar Portugal na mais inteligente, eficiente e sustentável plataforma logística da Europa, um elo insubstituível entre os mercados da Europa, África e Américas.
Não partimos do zero. A nossa visão de futuro assenta em fundações sólidas, e a maior delas é a força coletiva do nosso sistema portuário. A verdadeira genialidade da nossa estratégia não reside num único ponto, mas na harmonia e complementaridade de uma rede de portos que serve o país de norte a sul. É esta visão de um Portugal marítimo, coeso e multifacetado, que nos posiciona de forma única no cenário global.
De Viana do Castelo ao Algarve, cada porto desempenha um papel vital. No coração desta rede, um quarteto de portos comerciais demonstra a diversidade e a profundidade da nossa capacidade. Em Leixões, pulsa o coração da nossa indústria exportadora; é o cais onde a inovação e o design do nosso dinâmico tecido empresarial do Norte embarcam para o mundo. Em Lisboa, um porto polivalente serve a maior área de consumo do país e acolhe o mundo através dos seus terminais, unindo a sua herança histórica a uma modernidade vibrante. Em Setúbal, encontramos um centro de excelência europeu, especializado no setor automóvel e no tráfego Ro-Ro, demonstrando a nossa capacidade de criar soluções de alta precisão para indústrias de ponta. E em Sines, a sua capacidade para receber os maiores navios do mundo e a sua eficiência na movimentação de cargas tornam-no um elo crucial nas grandes rotas transatlânticas.
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Nenhum destes portos existe isoladamente. Eles são os nós de uma rede inteligente, trabalhando em sintonia. A sua força combinada oferece ao comércio mundial um leque de soluções que poucos países conseguem igualar, garantindo que qualquer tipo de carga encontra em Portugal um ponto de entrada ou saída otimizado.
É sobre esta base colaborativa que agora ousamos sonhar mais alto. A visão para o futuro de Portugal como potência logística vai muito além de mover contentores. O nosso objetivo é orquestrar os fluxos globais com uma inteligência e uma consciência que nos coloquem na vanguarda.
O primeiro pilar deste futuro é a tecnologia. Estamos a construir os “portos do futuro” em todo o nosso território, onde a Inteligência Artificial otimizará cada movimento de cais, onde o 5G permitirá a comunicação instantânea entre navios, gruas e camiões autónomos, e onde o blockchain garantirá uma transparência e segurança totais em toda a cadeia de abastecimento. Queremos que um importador em Munique ou um exportador em São Paulo possa seguir a sua carga em tempo real, com a certeza de que a sua passagem pela rede portuária portuguesa é sinónimo de eficiência e fiabilidade.
O segundo pilar é a sustentabilidade, e aqui, a nossa ambição é sermos líderes. O futuro da logística será verde, ou não será. Portugal está na posição ideal para liderar esta transição em toda a sua costa. Estamos a investir na criação de “corredores verdes”, onde a energia que alimenta os nossos portos será renovável, e onde o hidrogénio verde se tornará o combustível de eleição. O nosso maior investimento, no entanto, é na ferrovia. Cada euro aplicado na modernização das nossas linhas e na sua ligação a todos os portos é um passo em direção a um futuro mais limpo. Queremos que a mercadoria que chega a qualquer um dos nossos cais deslize suavemente sobre carris até ao coração da Europa, retirando milhares de camiões das estradas e reduzindo drasticamente a nossa pegada carbónica.
Finalmente, e mais importante, o nosso futuro assenta nas pessoas. Uma nação logística de ponta precisa de mais do que betão e aço; precisa de talento. A nossa visão inclui a formação de uma nova geração de portugueses: engenheiros logísticos, cientistas de dados, especialistas em comércio internacional e técnicos altamente qualificados que serão os maestros desta complexa sinfonia nacional. Queremos criar um ecossistema de conhecimento e inovação em torno da logística, transformando o nosso país num polo de atração e desenvolvimento de capital humano.
Imagine o que isto significa. Um contentor descarregado em qualquer porto português não seguirá simplesmente viagem. Poderá ser encaminhado para uma plataforma logística avançada a poucos quilómetros, onde o seu conteúdo será processado, montado, personalizado para o mercado francês ou alemão, e só depois seguirá para o seu destino final. Estaremos a agregar valor, conhecimento e emprego em cada passo da cadeia, em todo o território. Deixaremos de ser apenas uma porta para nos tornarmos uma fábrica de soluções e oportunidades.
Este é o nosso horizonte. Um Portugal que utiliza a sua localização divina não apenas como um ponto no mapa, mas como o centro nevrálgico de uma rede global inteligente. Um país que honra o seu passado de pioneirismo, abraçando as ferramentas do futuro para construir uma economia mais forte, mais verde e mais próspera para todos. A tarefa é imensa, mas a direção está traçada e a vontade é firme.
Está na hora de, juntos, transformarmos o nosso potencial em legado e fazermos do nosso país a bússola que orienta o comércio mundial.
* Artigo publicado no site Transportes & Negócios.
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