Na morte de Cristo está a vitória divina sobre o ódio do mundo

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Foto Diocese de Aveiro (Páscoa 2022).

A lança do soldado que abriu o peito de Jesus e do qual saiu sangue e água – a Eucaristia e o Batismo – são os sinais que perpetuam e atualizam a entrega salvadora do Filho de Deus por nós e por toda a humanidade.

* D. António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro

A Paixão de Jesus ocupa o centro deste segundo dia do tríduo pascal. Adoramos e veneramos, de um modo especial, a entrega da sua vida até à morte e morte de cruz, porque pela sua Cruz veio a alegria ao mundo inteiro.

A cruz de Jesus ajuda-nos a tomar consciência que não podemos ficar insensíveis perante as cruzes dos irmãos. Muitas vezes a violência e a guerra (vejamos o que acontece neste momento na Ucrânia) não dão espaço ao diálogo, o consumismo desenfreado destrói a vida e o planeta, impera o sofrimento de tantas vítimas inocentes … Esta realidade não nos deve deixar indiferentes, mas levar-nos a contemplar na cruz dos irmãos a própria cruz de Cristo.

Na morte de Cristo está a vitória divina sobre o ódio do mundo. Na sua morte está toda a sua glorificação, porque não é uma morte absurda, mas assumida como consequência de uma vida entregue por amor a todos nós. Jesus não está disposto a que, sem mais, lhe deem a morte, mas é Ele que impõe a sua hora como vontade e projeto de Deus. O Pai entregou-lhe tudo nas suas mãos e Ele tudo guardará fielmente, porque a sua morte é um dom para toda a humanidade. A sua morte é por todos, por isso também lava os pés a Judas, aquele que o vai entregar.

Contemplamos também na cruz de Jesus a nossa própria cruz. A cruz do nosso pecado, a cruz da fragilidade própria da natureza humana que nos expõe a tantas formas de sofrimento, o horror da guerra, a perda de um ente querido ou o medo da própria morte. Somos convidados a fixar o nosso olhar no Crucificado para que “conservemos com firmeza a fé que professamos” e acreditemos que fomos salvos pela sua obediência ao projeto salvador do Pai, quando clama: «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito».

Na celebração de hoje destacamos o amor com que Jesus nos amou até dar a vida por nós. A paixão e a cruz ensinam-nos que Deus não quer a morte do seu Filho, nem a de ninguém, mas sim a vida. Não há maior dor do que ser julgados injustamente por aqueles que amamos e por quem oferecemos a nossa vida. Nesses momentos, a cruz torna-se mais pesada e a oferta da vida mais generosa. Quando o outro faz parte do nosso sofrimento, como destinatário da nossa entrega e sacrifício por amor, a cruz tem sentido para quem a assume e transforma-se em salvação para quem dela beneficia.

A lança do soldado que abriu o peito de Jesus e do qual saiu sangue e água – a Eucaristia e o Batismo – são os sinais que perpetuam e atualizam a entrega salvadora do Filho de Deus por nós e por toda a humanidade.

Para Jesus, o amor do Pai é uma urgência de resposta e compromisso, uma necessidade de discernimento, um apelo para a entrega e para a confiança. O projeto maior que Deus nos oferece tem o selo da vida de Jesus e chama-se santidade. Fixemos o nosso olhar no Crucificado e aprendamos a ser dom para os outros, tal como Ele deu a sua vida por nós.

Aveiro, 15 de abril de 2022. Homilia na celebração da Paixão do Senhor.

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