Futebol: Proliferação de vínculos amadores irregulares

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Futebol.

Não vou falar do coronavírus mas de outro surto que cresce no futebol português. Não posso deixar de abordar o problema gritante que invade o Campeonato de Portugal e que carece das entidades desportivas, das autoridades com competência em matéria de investigação criminal e dos próprios agentes desportivos uma tomada de posição.

Por João Evangelista *

Refiro-me ao fenómeno dos contratos paralelos que toma hoje, com o investimento desregulado das SAD´s, proporções inimagináveis.

A proliferação de vínculos amadores irregulares, que têm subjacente uma relação laboral e, por isso, tornam especialmente grave a situação pessoal e financeira dos jogadores quando existe incumprimento é apenas a face visível de um problema maior.

Depois de meses caóticos para os jogadores do CD Fátima SAD e da Leiria SAD, entramos numa nova vaga de incumprimento e abandono (vulgo dispensa) de jogadores estrangeiros, cujos processos de legalização estão, muitas vezes, instruídos pelos clubes de forma irregular, desde logo, mediante a apresentação de contractos fictícios ou para o exercício de funções que não correspondem às que os jogadores exercem na verdade.

O Marinhense, caso mais recente, não é infelizmente o único. Só no meio destas linhas já enumerei ilícitos disciplinares e criminais suficientes para nos preocupar a todos, por comprometer a integridade das nossas competições.

Além do trabalho para rever medidas e procedimentos, não deixaremos de denunciar, por todos os meios à nossa disposição, estas situações.

Aos jogadores deixo uma mensagem de cautela e apelo, para que se informem previamente a assumirem compromissos desportivos, sobre direitos e obrigações.

Mantendo o seu papel interventivo na proteção dos direitos laborais dos jogadores de futebol, o Sindicato voltou a prestar auxílio numa situação em que podem estar em causa diversos procedimentos ilícitos.

Com efeito, e depois de ter saído em auxílio dos jogadores de três clubes na transição de 2019 para 2020 nomeadamente, Vilafranquense, da II Liga, Fátima SAD e União de Leiria SAD, do Campeonato de Portugal, o Sindicato saiu a terreiro para intervir no caso ocorrido na Marinha Grande, onde quatro jogadores colombianos enfrentam seis meses de salários em atraso e procuram apoio jurídico para assegurar a sua desvinculação do Atlético Clube Marinhense.

Além de acompanhar de perto as situações dos jogadores Mosquera, David Rojo, Victor Córdoba e Jean Sinisterra, o Sindicato vem monitorizando uma série de outros casos em que, para além dos chamados falsos vínculos amadores, ocorrem fortes suspeitas de burla, falsificação de documentos e auxílio à imigração ilegal.

Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol.

* Presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (artigo publicado no site http://sjogadores.pt e jornal Record)