É preciso reaprender a viver o espírito natalício

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Presépio (imagem partilhada pelo Facebook da Diocese de Aveiro).
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Dizemos que o Natal é, por excelência, a festa da família, lugar de manifestação da vida e do amor que vêm de Deus. Vida com sentido e em todas as etapas da vida humana: desde o nascimento até à morte natural.

Por António Manuel Moiteiro Ramos *

Viver o Natal é celebrar o Deus que toma a iniciativa de sair ao nosso encontro, que se esconde na humildade de um Menino que, das alturas, nos visita como o Sol nascente (cf. Lc 1,78). Este Menino é o Filho de Deus, que brilha para todos e que mobiliza e motiva tantos encontros pessoais, familiares, eclesiais, sociais e culturais.

O Natal é, portanto, ponto de encontro de Deus connosco e de encontro entre as pessoas. Coloca-nos diante do rosto de um Menino que vem para nos salvar com a sua proximidade. O caminho é este: «Encontrareis um Menino recém-nascido, envolto em panos e deitado numa manjedoura» (Lc 2,12). Este Menino nascido em Belém é o sinal que nos indica o caminho e o sentido da própria vida. Os Pastores, iluminados em plena noite, «foram apressadamente» (Lc 2,16) ao seu encontro. Também os Magos fizeram o percurso para irem ao seu encontro. Os que O procuram encontram-no, mas não no bulício das luzes e das multidões. Para O encontrar, é preciso ir aonde Ele está, pôr-se a caminho, inclinar-se, ser pequeno, para percebermos a grandeza do momento que celebramos. Como os Pastores e os Magos, iluminados pelo esplendor da glória de Deus, que se reflete no rosto de Jesus Menino, façamos também nós a caminhada para irmos ao seu encontro. Sem Jesus, não há Natal.

Encontramo-lo na simplicidade do Presépio. Ali está a «Palavra» e o sentido de todas as coisas. É preciso aprender a contemplar, neste quadro vivo, a grande família humana e a dar lugar ao outro. “Da alegria trazida pelo Senhor, ninguém é excluído” (EG 3). O Natal comporta o desafio de nos deixarmos envolver pelo amor de Deus, de tornar o nosso coração, o nosso mundo, um lugar para todos:crianças e idosos rejeitados e maltratados, jovens que perderam o rumo na vida, pobres e explorados, imigrantes e refugiados. Este amor não só o faz conhecer, mas dá-o, comunica-o. Ele escolheu habitar a nossa história como é, com o peso dos seus limites e dos seus dramas.

É preciso reaprender a viver o espírito natalício. Deixemo-nos interpelar pelo Verbo de Deus que se fez carne e montou a sua tenda no meio de nós (cf. Jo 1,14). No Menino Jesus «manifesta-se a ternura de Deus, fonte de salvação para todos os homens» (Tit 2,11-14). Ele inspira-nos e abre-nos os olhos para a ternura, para a caridade, para a salvação. Ao fazer-se pobre, torna-nos ricos com os dons da vida divina, da paz verdadeira, da alegria plena, da salvação. Todos temos algo a dizer sobre este Menino de Belém; a nossa fé terá algo a dizer àqueles que não sabem viver o Natal, aos mais afastados, aos que vivem nas “periferias da vida“, àqueles a quem falta a luz, a vida e a alegria do evangelho (cf. EG 30).

Dizemos que o Natal é, por excelência, a festa da família, lugar de manifestação da vida e do amor que vêm de Deus. Vida com sentido e em todas as etapas da vida humana: desde o nascimento até à morte natural. Como Maria e José, somos chamados a guardar este tesouro e a fazer de “toda a vida da família um pastoreio misericordioso” (AL 322), o lugar onde Deus possa nascer e abrigar-se. A missão dos pais é a de ser expressão do rosto de Deus na vida dos filhos. Não deixemos que a chama do Natal se apague nas gerações mais novas, por causa das correntes frias do nosso tempo.

Jovens, deixai-vos interpelar e convocar, não tenhais medo de vos abeirar da “fonte” que pode saciar as vossas vidas! A humanidade aspira à alegria da paz, sede bons construtores da casa comum, onde haja paz, justiça e fraternidade.

O Emanuel, Deus connosco, quer nascer na nossa Diocese de Aveiro, nas nossas comunidades; preparemo-nos, com humildade e simplicidade, apagando todos os gestos de violência e todos os sinais de dureza do nosso coração, dispondo-nos para receber o dom da alegria e da paz que irradiam deste mistério. Uma vida simples é sinal de partilha. Nestes meses de visita pastoral tenho-me encontrado, nas escolas, com alunos de mais de 30 nacionalidades diferentes. Para estes também é Natal e nós somos as testemunhas desse Emanuel que se fez um de nós.

Na ternura do Menino que nasce, manifesta-se toda a proximidade, a ternura e a bondade do nosso Deus. Celebremos e anunciemos esta alegre notícia! Aproximemo-nos de Deus que se faz próximo que vem ao nosso encontro, para que ele possa irromper nas nossas vidas.

Boas Festas, com as maiores bênçãos do Deus menino!

* Bispo de Aveiro. Mensagem de Natal de 2022.

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