Duas rodas / Bicicletas: Normas aduaneiras podem fazer estrangeiros repensar projetos em Portugal

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Stand da 'Portugal Bike Value'.
Comercio 780

O secretário-geral da Associação das Indústrias das Duas Rodas (ABIMOTA), com sede na cidade de Águeda, mostra-se preocupado com entraves aduaneiros colocados a fabricantes instalados em Portugal.

O alerta acontece num momento em Portugal viu reconhecido o estatuto de maior produtor europeu de bicicletas.

“Tem a ver com a entrada de mercadorias no nosso país. Estamos com problemas de algumas empresas, sobretudo empresas muito exportadoras e de capital estrangeiro”, refere Gil Nadais numa entrevista ao programa da Comunidade Portuária de Aveiro que é transmitido pela Rádio Voz da Ria (ouvir podcast em http://www.rvria.pt/podcasts/4).

Portugal arrisca-se a perder competitividade e, consequentemente investimentos, com os entraves colocados à importação de mercadoria.

“Nos portos portugueses, a Autoridade Tributária funciona com normas que, por exemplo, a Holanda não aplica à entrada de componentes e peças”, explica Gil Nadais, fazendo eco dos receios que chegam à ABIMOTA. “Algumas empresas que se estabeleceram entre nós estão a pensar abandonar Portugal”, avisa.

A “pressão financeira destes compromissos que não existem na Holanda” leva que os fabricantes optem pelos portos locais e a logística posterior encarece o material, pela necessidade de fazer o transporte para Portugal e depois exportar o produto fabricado para o Centro da Europa.

“É um conjunto de despesas que não deviam acontecer e estão nalguns casos a colocar em causa o lugar que conquistámos”, insiste o secretário-geral da ABIMOTA.

Discurso direto

“Estávamos sempre próximos, esperávamos alcançar o objetivo, é para isso que trabalhamos, finalmente conseguimos. É um trabalho de longos anos, em que a associação teve um papel importante, mas mais importante ainda foi o das empresas, na qualidade e resposta eficaz aos mercados” .

“As pessoas estão a equacionar novos estilos de vida saudável, utilizam mais a bicicleta. A bicicleta elétrica veio trazer uma nova oportunidade, um novo meio de transporte. Há uma mudança civilizacional, as pessoas estão mais atentas ao ambiente e à saúde”.

“As cidades têm de adaptar-se. Chegou a Portugal a sinalização para zonas mistas e partilhas de ruas pelos carros e bicicletas. É uma mais valia, convida a uma fruição maior da cidade. A bicicleta está muito mais protegida, mas também o peão. São cada vez mais necessárias, também, as vias dedicadas. É um movimento geral”.

“Isto só é possível porque temos tido do melhor do mundo, líderes do mundo, de ponta, como nos quadros de alumínio ou rodas pedaleiras. Vai começar a produzir uma empresa de quadros de carbono. Estamos na linha da frente dos novos materiais e tecnologias. E também empresas estrangeiros que vieram montas bicicletas. Temos um bom mix, que precisamos de fortalecer e dar-lhe condições para afirmar-se”.

“É importante para Águeda, que é onde está o maior núcleo industrial que trabalha na área do ciclismo, mas as empresas já se estendem de Braga a Vila Franca de Xira. É um produto com fabricação disseminada, isso ajuda muito na dinamização da imagem de marca para o estrangeiro, a Portugal Bike Value. Não é uma indústria regional mas nacional. Temos a maior fábrica da Europa em Gaia”.

Indicadores

» De acordo com dados do Eurostat, Portugal produziu 2,7 milhões de unidades em 2019, mais 600 mil do que a Itália, o segundo maior construtor europeu. A UE produziu mais de 11,4 milhões de bicicletas, o que representa um aumento de 5% em relação ao ano anterior. Segue-se a Itália (2,1 milhões), Alemanha (1,5 milhões), Polónia (900 mil) e Países Baixos (700 mil);

» 2019 foi o melhor ano de sempre para o setor nacional, que fechou com 402,8 milhões de euros só em exportações. No início de 2020, havia empresas a registarem crescimentos de produção da ordem dos 400%, aguardando-se pela correção por força dos efeitos económicos e sociais da situação pandémica.

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