Autocarros elétricos da Aveirobus.

Na mais recente edição da Assembleia Municipal Jovem de Aveiro, o Presidente da Câmara, Ribau Esteves, teve nova oportunidade para se dirigir às futuras gerações. Seria, porventura, o momento ideal para inspirar, informar e lançar sementes de pensamento crítico junto dos jovens aveirenses. Infelizmente, o que se assistiu foi exatamente o oposto: um discurso enviesado, carregado de inverdades e mitos ultrapassados sobre o sistema energético nacional e internacional.

Por Francisco Albuquerque *

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Numa tentativa de capitalizar politicamente um apagão ocorrido no sistema elétrico nacional, o Presidente decidiu apontar o dedo ao encerramento das centrais a carvão em Portugal. Fê-lo com a leveza de quem nunca estudou o assunto com rigor. As centrais a carvão não foram encerradas por “capricho político”, mas sim porque deixaram de ser economicamente viáveis. Produzir eletricidade a partir de carvão, além de altamente poluente, tornou-se simplesmente caro e obsoleto face às alternativas mais baratas, como a eólica, solar ou mesmo gás natural. E, diga-se, mesmo que estivessem em funcionamento, não teriam evitado o apagão em causa — nenhuma dessas centrais estaria operacional à hora da falha. Portanto, invocar o seu encerramento como causa do incidente é tecnicamente falso e politicamente oportunista.

Ribau Esteves também fez questão de lembrar que “a China está a construir 200 centrais a carvão”, omitindo, convenientemente, que estas servirão essencialmente como reserva estratégica, para cobertura de picos, e não como base do consumo energético. O que também não disse — talvez se tenha “esquecido” — é que a China foi, de longe, o país que mais investiu em energias renováveis na última década. De facto, investiu mais de dez vezes o valor da Europa. O país asiático está a construir o maior sistema de armazenamento e produção solar do planeta. Isso, aparentemente, não coube no discurso preparado para as crianças de Aveiro.

Na verdade, o histórico ambiental do Presidente Ribau Esteves fala por si. Ao longo de 12 anos de mandato, as apostas em energia sustentável no município limitaram-se a investimentos de vitrine, sempre atrelados a fundos comunitários: um ferryboat elétrico, alguns moliceiros eletrificados e a renovação da frota de autocarros. São iniciativas meritórias, mas absolutamente insuficientes. Em vez de liderar um plano municipal robusto de transição energética, o executivo optou por soluções pontuais, muito boas para a fotografia, mas incapazes de mudar o paradigma energético da cidade que continua obsoleto e pouco preparado para o futuro.

Mais grave ainda é usar uma sessão da Assembleia Municipal Jovem — um espaço que deveria promover pensamento crítico e cultura democrática — para distorcer factos perante um público que, por definição, ainda está em formação. É pedagogicamente inaceitável.

Talvez fosse mais útil explicar aos jovens por que razão, mesmo com todos os investimentos em educação tão propagandeados, a Escola Secundária Dr. Jaime Magalhães Lima registou recentemente os piores resultados do distrito no ranking nacional. Talvez fosse mais pedagógico enfrentar os dados com humildade, em vez de disfarçar falhas com populismo energético.

A verdade, Sr. Presidente, é que desinformar não é liderar. E com os desafios climáticos e sociais que enfrentamos, Aveiro precisa urgentemente de líderes que saibam distinguir entre conversa fiada e política séria. Porque educar é esclarecer, não enganar.

* Gestor Industrial.

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