CDS-PP – Não bastará uma nova liderança

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Comercio 780

Torna-se por demais evidente que, se nas próximas eleições legislativas o CDS-PP não voltar a ter representatividade no “Palco” da política nacional que é a Assembleia da República, não fará sentido que continue a existir enquanto partido.

Por Paulo Marques *

Há poucos dias, Nuno Melo, a propósito de eventual candidatura à liderança do CDS PP, assumiu aos jornalistas que seria candidato, “ a menos que algo de extraordinário acontecesse”.

Desejado desde a saída de Paulo Portas, acredito que, atendendo à actual situação em que o partido se encontra, seja o nome mais credível e consensual para liderar o CDS-PP.

No entanto, por si só, uma nova liderança não garantirá o futuro político do Partido, sendo fundamental que, efectivamente, algo de extraordinário aconteça para que reassuma o lugar a que tem direito na Política Nacional.

Porém, Independentemente do nome que se apresentar ao Congresso, terá que ter a arte e o engenho necessários para rejuvenescer, fortalecer, unificar e apaziguar alguns espíritos menos esclarecidos, recuperar militantes e simpatizantes, bem como cativar novo eleitorado.

Na qualidade de Vice-Presidente da Comissão Política da Concelhia de Aveiro, militante com muitos anos de dedicação ao Partido, sinto que o futuro do CDS-PP dependerá de mudanças profundas a vários níveis, porque as novas alternativas políticas apresentam-se com diferentes perspectivas e soluções, libertas das amarras ideológicas, caracterizando-se por serem liberalmente adaptáveis à sociedade de hoje.

Apesar de, nalguns casos, não apresentarem uma orientação clara quanto às suas políticas e propósitos, podendo ser caracterizadas como verdadeiros hinos à utopia política, para além de tudo o que possamos questionar ou duvidar, os resultados das últimas legislativas comprovam a sua influência no eleitorado, a alteração do paradigma político português, tradicionalmente conhecido.

O CDS-PP precisa de uma verdadeira mudança, uma reforma a todos os níveis, começando por repensar se as lutas internas pelo poder deverão continuar a fazer as delícias dos meios de comunicação social, em vez de serem resolvidas internamente, dentro de casa.

Urge readaptar, reinterpretar as bases ideológicas que serviram de fundamento à sua criação ou seja, a Democracia Cristã, o Liberalismo económico e o Conservadorismo, reajustando a lógica política do discurso ao contexto político, económico e social de hoje.

Só desse modo o Partido cativará as gerações mais novas e reconquistará todos aqueles que, cansados do comodismo partidário e da “cassete”, se afastaram ou ingressaram noutras forças partidárias.

Nesse sentido, é prioritário acabar com a ideia balofa de que as ideologias não podem ser postas em causa ou que os doutos carreiristas partidários não devem ser questionados.

Defendo a ideia de que, também ao nível Concelhio e Distrital, os estatutos devem ser revistos, analisados e reinterpretados à luz do distanciamento político do eleitorado a que o partido chegou.

Por um lado, não faz sentido que em tempo de eleições se apele à participação cívica e democrática dos cidadãos sem olhar à militância ou simpatia partidária, quando, por outro lado, lhes é negada a participação cívica nas Assembleias Concelhias e Distritais, a escolha dos representantes locais e distritais, bem como dos delegados aos Congressos ou seja, negar-lhes a proximidade política que deveria caracterizar as bases partidárias.

Não faz sentido que o partido continue fechado em si mesmo, negando ou dificultando a participação plural e aberta na actividade do mesmo. A continuar assim, nada faz sentido.

Torna-se por demais evidente que, se nas próximas eleições legislativas o CDS PP não voltar a ter representatividade no “Palco” da política nacional que é a Assembleia da República, não fará sentido que continue a existir enquanto partido.

A realidade política do CDS de hoje é consequência das decisões políticas assumidas no passado.

O percurso eleitoralmente descendente prova que ninguém está isento de responsabilidades, pela razão de que os atores políticos do presente e do passado ajudaram a escrever a história do Partido.

Por estas e muitas outras razões é que devemos questionar tudo, desde a Ideologia aos comportamentos, desde as decisões políticas aos objectivos, desde a Visão à Missão, desde a própria existência à sobrevivência, escusando de apontar o dedo, porque o Partido nunca foi de um só.

A meu ver, os nomes, os lugares, os acontecimentos que contribuíram para a construção da história do CDS, nunca deverão ser esquecidos, independentemente da contextualização temporal, política e social em que ocorreram.

Contudo, apesar da vital importância no processo de construção democrática em Portugal, a narrativa histórico política do CDS já não cativa nem serve como retórica granjeadora de novos eleitorados, nem ao nível das gerações mais velhas.

Não podemos esquecer ou ignorar a sua importância, mas também é verdade que não representa soluções, caminhos ou alternativas, mas apenas e tão só, um idealismo político imbuído de um saudosismo balofo que apenas faz sentido na mente dos que não querem uma verdadeira mudança.

Termino afirmando que os próximos desafios eleitorais, verdadeiros testes de sobrevivência, serão indicadores fundamentais da tendência do eleitorado relativamente ao futuro do CDS-PP.

Caberá à nova equipa a responsabilidade de fazer algo “extraordinário” para reafirmar a tal Direita que ultimamente anda muito torta ou pelo menos, algo desorientada.

* Vice-Presidente da Comissão Política do CDS-PP de Aveiro.

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