Aveiro nos ‘Encontros Internacionais de Aquicultura’

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Ria de Aveiro, produção de ostra.

Em finais de 1993, o Presidente Girão Pereira disse-me ter tido conhecimento de que haveria verbas da Comunidade Europeia destinadas à Aquicultura e encarregou-me de saber quais as possibilidades da Câmara poder vir a ter acesso a elas.

Depois de consultar e obter a colaboração de um especialista em Biologia Marítima e de dois representantes aveirenses de serviços estatais ligados às Pescas, elaborámos um projecto de intercâmbio de experiências entre profissionais deste sector a nível internacional, o qual, após ter recebido o acordo da “Mairie” da cidade-irmã de Arcachon, um dos maiores centros franceses de Ostreicultura, e do Ayuntamiento de Chiclana de la Frontera, que ocupava um lugar de referência a nível da Aquicultura europeia, foi apresentado a Bruxelas, onde foi aprovado.

Os “Encontros” efectuaram-se, no ano de 1994, em França, Espanha e Portugal. O realizado no país vizinho foi noticiado televisivamente, tendo eu sido entrevistado para a Televisão da Andaluzia, realizando-se o de Encerramento, no mês de Maio, em Aveiro. Os participantes, principalmente os portugueses, manifestaram a sua satisfação pela possibilidade que lhes tinha sido proporcionada de conhecerem diferentes meios, realidades e técnicas.

Recordo-me de termos visitado alguns campos de ostras do “Bassin d’ Arcachon” e o “Lycée de la Mer” da vizinha cidade de La Teste e de, em Espanha, termos conhecido as instalações de uma grande empresa, onde era produzido o peixe, principalmente douradas – estavam a tentar com o robalo e o linguado –, desde a maternidade, até aos viveiros de alimentação semi-intensiva, passando pelos laboratórios, onde se fazia investigação avançada sobre Aquicultura e Piscicultura.

Também nunca me poderei esquecer, se bem que por um motivo bem diferente, de uma noite de “Flamenco”, incluída no Programa de Animação de Chiclana, que eu tinha previamente aprovado, mas sem saber que seria obrigado a estar presente até às 5 da manhã.

Durante o decorrer dos “Encontros”, tive que me deslocar a Bruxelas, para dar conhecimento do andamento dos trabalhos e prestar contas, na medida em que era a CEE quem suportava a quase totalidade dos encargos, na sua qualidade de patrocinadora.

Nessa minha visita às instalações da Comunidade, aconteceu-me uma coisa curiosa. O local, onde eu tinha de me apresentar, situava-se no Boulevard Charlemagne. Lá chegado, disseram-me para me dirigir para uma determinada sala, onde se encontravam várias pessoas, todas falando francês umas com as outras. Dado o nível linguístico dos falantes, apercebi-me de que não eram de países francófonos, tendo chegado à conclusão de que éramos todos portugueses, Coordenadores de vários projectos, e que lá estávamos com a mesma finalidade, pelo que se passou, dentro de pouco tempo, por falar na nossa língua.

Uns meses após o encerramento dos “Encontros”, fui surpreendido, quando recebi um convite pessoal para ir comunicar, aos candidatos a um novo projecto europeu, de que não me recordo nem do nome, nem do tema, como tinham sido concebidos, programados e levados a efeito os nossos “Encontros Internacionais de Aquicultura”, de que eu tinha sido o Coordenador, os quais tinham sido considerados por Bruxelas – com toda a franqueza e sem falsas modéstias, nunca percebi bem porquê – não só como um êxito, mas também como um modelo a ser seguido.

Enviei o texto, que me era pedido, em francês – seis páginas formato A4, a que correspondia um tempo de leitura de, aproximadamente, 20 minutos –, com um mês de antecedência, a fim de que o mesmo pudesse ser traduzido para as restantes línguas oficiais e dei conhecimento do convite ao novo Presidente da Câmara, Celso Santos, que tinha tomado posse do cargo, quando Girão Pereira tinha partido para o Parlamento Europeu, o qual me disse que iria propor à Câmara para eu ser acompanhado por um Vereador.

Chamei-lhe a atenção para o facto de o convidado ser eu, por ter sido Coordenador dos Encontros, e não a Autarquia, pelo que a ida de um Vereador poderia vir a levantar problemas protocolares o que, infelizmente, veio a acontecer, com grande pesar da minha parte, porque tinha e tenho em grande apreço a pessoa em questão, que se viu relegada para lugares secundários.

Por exemplo, no jantar de encerramento, não consegui, por mais que pedisse, que lhe fosse dado um lugar na Mesa de Honra, onde eu estive.

Quanto à minha intervenção, que teve lugar numa grande sala, cujos lugares estavam todos ocupados, foi seguida de um período de perguntas, a que respondi em francês, dado que não havia tradutores de português. Correu bem e recebi felicitações não só dos organizadores, mas também de alguns participantes de várias nacionalidades.

Para terminar, direi que, em Agosto de 2015, li, no “Diário de Aveiro”, declarações de um ostreicultor local que dizia dever muito do seu êxito a uma visita que tinha feito, alguns anos antes, a Arcachon, onde tinha tido a oportunidade de estabelecer contactos que continuava a manter e a serem-lhe muito úteis. Fiquei bastante satisfeito, pois pensei reconhecer o nome de uma das pessoas com quem tinha estado, naquela cidade, há vinte e um anos.

* Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, Técnico Superior Assessor Principal da Câmara de Aveiro – reformado (página do autor em Aveiro e Cultura).

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