As Brigadas de Intervenção Rápida e os lares

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Testes em lares.

Se há idosos que são atirados para as ERPI e outras pessoas para os Lares, porém, a grande maioria dos que aí estabelecem a sua morada encontra condições logísticas, de conforto, de segurança, de serviço e de sociabilidade como jamais teria experimentado.

Por Lino Maia *

1- Sob o patrocínio da Ministra do Trabalho Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, no dia 4 de Setembro foi celebrado o Protocolo de Criação das Brigadas de Intervenção Rápida. São seus subscritores o Instituto da Segurança Social (ISS) e a Cruz Vermelha Portuguesa (CVP).

O Protocolo visa estabelecer uma parceria que promova o apoio às respostas sociais e às populações mais vulneráveis no contexto de pandemia provocada pela COVID-19, através da constituição de uma rede nacional de Brigadas de Intervenção Rápida para fazer face à ocorrência de surtos nas respostas sociais de Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) e Lar Residencial (LR).

Estas Brigadas são compostas por pessoal ajudante de ação direta, auxiliares de serviços gerais, enfermeiros, psicólogos e médicos, num total de cerca de 400 efetivos, com capacidade de ação imediata na contenção e estabilização de surtos em ERPI, Lares residenciais e outras respostas de acolhimento residencial, designadamente em situações de falência do funcionamento da resposta social e durante o estrito espaço de tempo necessário para que a resposta se reorganize e consiga assegurar o seu regular funcionamento.

A constituição e gestão das Brigadas é assegurada pela CVP, em articulação direta com o ISS, via Centros Distritais, a quem cabe sinalizar prioridades de intervenção e solicitação à CVP para mobilização de equipas. O objectivo é garantir que nos 18 distritos do Portugal Continental haja uma resposta “pronta a intervir” quando as Instituições ficam sem pessoal. A distribuição por distrito é ajustada à sua dimensão geográfica e populacional.

2 – Durante algum tempo, falou-se de um certo “milagre português”. E parece ter chegado a haver vontade de exportar a ideia da menor expressão e do maior controlo do Covid-19 entre nós. Agora, porém, confrontamo-nos com a realidade de um vírus que, não tendo nacionalidade também não reconhece fronteiras.

Estamos num planalto, com a persistência de um elevado número de contágios infeciosos que não está a ser acompanhado por igual número de recuperações. E, sabendo-se que tardará a desejada vacina, não há perspectivas sobre a eficácia de qualquer remédio…

Nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) e nos Lares Residenciais do Sector Social Solidário temos mais de 80.000 utentes. Provavelmente haverá outros tantos nos Lares legalizados e nos clandestinos.

Se há idosos que são atirados para as ERPI e outras pessoas para os Lares, porém, a grande maioria dos que aí estabelecem a sua morada encontra condições logísticas, de conforto, de segurança, de serviço e de sociabilidade como jamais teria experimentado. Mas é ali que também estão pessoas normalmente muito frágeis, com múltiplas dependências ou com um histórico de saúde muitas vezes complicado, carecidos de afeto, de proteção e de múltiplos cuidados. Também é por aí que estão muitas pessoas que, noutras condições, se confrontariam com o abandono numa solidão que muito mais os fragilizaria.

Claro que os Lares – Residenciais ou de Idosos – a todos nos devem ocupar e preocupar. Não porque seja das pessoas que fazem do Lar a sua casa que venha o vírus. Mas, porque para ali ele mesmo possa ser transportado involuntariamente e ali encontrar condições de fácil propagação, vitimando utentes, trabalhadores e dirigentes..

Nesta pandemia que nos aflige, sem recorrer a uma linguagem milagreira, comparativamente com outros países, podemos com verdade dizer que, entre nós, são menores os números de contaminações por Covid-19 e de letalidade em Lares. Certamente porque a realidade portuguesa é bem diferente: são as comunidades que se mobilizam, erguem e gerem os Lares, com envolvimentos comunitários e proximidades interessadas de trabalhadores e dirigentes. E é a mesma comunidade que ergueu o Lar e que com ele está em comunhão que sofre com um doente e chora uma morte.

3 – O Outono, que aí vem, faz-nos temer e tremer.

É importante não baixar a guarda.

É fundamental a resiliência dos dirigentes e a dedicação cuidada dos trabalhadores.

É necessário que haja apoio público para testar e para dotar todas as Instituições dos necessários equipamentos de proteção individual.

É imperioso que haja uma bem conduzida campanha de vacinação generalizada contra a gripe, porque qualquer gripe e qualquer constipação podem ser confundidas com contágios do Covid-19 e provocar situações de pânico.

Apesar de todas as prevenções e de todos os cuidados, podem acontecer situações em que seja necessário durante o estrito espaço de tempo reorganizar a resposta e assegurar o seu regular funcionamento.

stas Brigadas de Intervenção Rápida podem ser um bom recurso em eventuais e difíceis situações.
Reconhecimento a quem o merece…

Lino Maia (CNIS).

* Presidente da CNIS – Confederação Nacional das Instituições Sociais. Editorial da edição de setembro do jornal Solidareidade.pt. Artigo original em http://www.solidariedade.pt/site/detalhe/14053

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