Balanço ambiental de 2018 e perspectivas para 2019

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Pateira de Fermentelos, Águeda.
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Num contexto cada vez mais premente de alteração de comportamentos, de modo a garantir a sustentabilidade do nosso Planeta, o grande desafio passa por conseguir conciliar futuramente o crescimento económico da região e de Portugal, em todas as vertentes que o mesmo implica, com atitudes individuais e coletivas mais respeitadoras do Ambiente.

Por Quercus / Direção de Aveiro *

Como tem acontecido em anos anteriores, o Núcleo Regional de Aveiro da Quercus faz o balanço ambiental relativo ao ano de 2018, sobretudo ao nível regional, selecionando os melhores e os piores factos, e apresentando algumas perspectivas para o ano de 2019.

Os piores factos ambientais de 2018

Expansão descontrolada de espécies exóticas

Apesar do Governo ter apresentado a compromisso político de aumento das áreas destinadas a espécies autóctones, travando a expansão da área de eucalipto, até à data não se verificou qualquer alteração prática no terreno. A actual monocultura do eucalipto, que se verifica em muitas áreas da nossa região, é um dos maiores fatores de risco para a propagação e elevada extensão dos incêndios. A negligência e inação das entidades públicas não só agravam as condições que facilitam a propagação dos fogos como também provocam elevados prejuízos no futuro, com a degradação acelerada e irreversível do solo e a expansão descontrolada de espécies infestantes.

É preocupante a expansão descontrolada de algumas espécies exóticas, como a acácia e a erva-das-pampas na região. É urgente o reforço das medidas para monitorizar e controlar este problema, dado que sem uma ação concertada contra a propagação descontrolada destas plantas invasoras, os custos ambientais e económicos serão enormes e os danos irreversíveis. Caso o controlo destas espécies invasoras não se inicie de imediato, as intervenções para controlar esta espécie irão tornar-se mais complexas e muito onerosas.

A Quercus tem registado também um aumento de ninhos de vespa-asiática detectados na região de Aveiro. A expansão acelerada da espécie exige um novo e enérgico plano de monitorização e combate desta espécie invasora, a qual está a pôr em causa não só o equilíbrio ecológico, mas também a sobrevivência de muitas colmeias e a consequente produção de mel por parte de muitos pequenos produtores.

Descargas poluentes nos rios e ribeiras

Os recorrentes episódios de poluição, registados ao longo do ano, particularmente nos rios Caima, Cértima, Ul e Vouga, bem como na Ria de Aveiro e na Pateira de Fermentelos, fazem com que estes ecossistemas se apresentem ano após ano, ameaçados.
Os cursos de água continuam a registar elevadas concentrações de nutrientes e cargas orgânicas, associadas sobretudo a más práticas agrícolas com uso excessivo de fertilizantes e a descargas poluentes com origem urbana e industrial.

A Quercus Aveiro considera inaceitável que se verifiquem situações de incumprimento sistemático de diversas entidades e empresas da região. A fiscalização continua a ser insuficiente e a aplicação de sanções e suspensão ou cancelamento de licenças de descarga, sempre que se verificam situações de incumprimento sistemático, continua a ficar aquém do esperado.

A inexistência de saneamento básico em diversos pontos do distrito põe em causa a saúde pública e o ambiente. É urgente investir na expansão da rede de saneamento e de abastecimento de água.

Com o lançamento da iniciativa Guarda-Rios, a Quercus Aveiro alertou para as ameaças que atingem os rios e ribeiras da região, apelando a todos os cidadãos da região que visitem regularmente os seus rios e ribeiras para verificar o estado de saúde dos ecossistemas.

A Quercus Aveiro abriu diversos processos de averiguação e realizou ações de monitorização nos rios Cértima e Vouga, Ria de Aveiro e Pateira de Fermentelos.

Impacto do ruído na estrada EN109 e na ligação Travassô-Esgueira

Cinco anos depois de recolher indicadores preocupantes de ruído associado ao tráfego em Cacia, o Núcleo Regional de Aveiro da Quercus constata que o tráfego rodoviário continua intenso, e não foi adotada qualquer medida para o seu controlo e mitigação, nomeadamente no que respeita aos veículos pesados.

Sobreexploração dos recursos e captura ilegal na Ria de Aveiro

Os bivalves, capturados nas zonas proibidas da Ria de Aveiro, são comercializados ilegalmente e constituem um grave risco para a saúde pública. A captura por meio de métodos ilegais, que utilizam artes de arrasto pelo fundo ou redes rebocadas similares que operam em contacto com o fundo, está a destruir o ecossistema e a vida estuarina na Ria de Aveiro. Além disso, a apanha selvagem de casulo, uma espécie de verme utilizado como isco para a pesca, está a pôr em risco a existência de mais de duas centenas de espécies. Quando os apanhadores revolvem o fundo da ria onde há muitas espécies essenciais para o ecossistema que acabam por morrer.

Podas abusivas e destruidoras

Em 2018 continuaram-se a executar podas abusivas a centenas de árvores um pouco por todo o distrito. As intervenções realizadas evidenciam uma preocupante falta de conhecimentos na área da arboricultura. Seria de esperar, de alguns municípios da região, pelo conjunto dos seus valores paisagísticos, maior competência na gestão dos seus espaços verdes.

Fiscalização insuficiente

A articulação entre a Quercus e as entidades públicas tem sido muito importante para a identificação e acompanhamento dos crimes ambientais no distrito.
É urgente dotar estes serviços de mais meios humanos e materiais necessários para o cumprimento efetivo da missão e dos objetivos definidos.

Os melhores factos ambientais de 2018

Projeto Cabeço Santo

O Projeto Cabeço Santo continuou em 2018 a contribuir ativamente para a recuperação ecológica e paisagística de uma mancha florestal no concelho de Águeda,

conseguindo aumentar a extensão da área à sua guarda. Este é um projeto único em Portugal, com uma área de intervenção de mais de 120 hectares.
Foram promovidas cerca de três dezenas ações de voluntariado. As iniciativas contaram com a participação de mais de 300 voluntários e mais de uma centena de visitantes. Durante o ano, dinamizaram-se uma dezena de ações de divulgação em diversos eventos nacionais e internacionais, assim como diversas iniciativas de carácter pedagógico e educativo em instituições de ensino da região. Durante os meses de agosto e setembro, a equipa técnica realizou diversas ações de vigilância noturna para detetar comportamentos de risco ou criminosos em zonas críticas. Foram plantadas milhares de árvores autóctones e cortadas, arrancadas e descascadas milhares de acácias.

Este ano trouxe também novos parceiros e apoios, nomeadamente as empresas INDASA S.A., Acail Gás Medicare, Zeocel e a associação Os Pioneiros, que apoiaram a plantação de milhares de árvores autóctones e os trabalhos de recuperação ecológica, juntando-se assim à Câmara Municipal de Águeda, Altri, Espaço Talassa,
Petus, Critec e Associação Florestal do Baixo Vouga.

Quercus e ADRA lançam campanha para ajudar a recuperar a floresta da região

Até 20 de março de 2019, a AdRA – Águas da Região de Aveiro, S.A., vai promover uma campanha em que, por cada 500 adesões dos seus clientes à fatura digital, doa 100 árvores para ajudar a Quercus recuperar a floresta da região.

Com esta campanha, para além de se associar e agregar a região em redor de uma causa que diz respeito a toda a sociedade, a AdRA pretende envolver os seus colaboradores em diversas ações de plantação em áreas do Projeto Cabeço Santo, em Águeda.

Estudo de caracterização ecológica do Sítio de Interesse Comunitário do rio Vouga

Na primeira fase, foi realizado o levantamento da informação científica e técnica que permite uma real caracterização da área, com vista a identificar lacunas e oportunidades de intervenção. O tratamento desta informação permitiu identificar lacunas de informação e oportunidades de intervenção para a gestão dos valores naturais presentes nesta área classificada.

A realização dos estudos no terreno permitiu a definição de medidas de gestão que pretendem revitalizar o rio Vouga, através de ações como a requalificação das suas margens e repovoamento.

Participação em estudos de impacte ambiental

A Quercus Aveiro participou na avaliação de estudos de impacte ambiental de propostas de construção de unidades de criação de frangos, em Mira, e de instalação de uma aquacultura a sudoeste de Aveiro.

Nestes estudos de impacte ambiental foram detetadas várias fragilidades e correções. A Quercus considerou que este tipo de projetos, quando sujeitos a consulta pública, se façam acompanhar nesse processo de um conjunto de informações mais extenso e detalhado. Só desta forma se pode assegurar uma participação pública bem informada e consciente, que é um dos principais objetivos de uma submissão a consulta pública.

Acompanhamento de uma colónia de andorinha-do-mar

A Quercus Aveiro continuou a acompanhar uma presença de uma colónia de andorinha-do-mar numa marinha próxima ao Centro Municipal de Interpretação Ambiental de Aveiro, garantindo assim a presença e o sucesso reprodutor desta espécie na área, promovendo a preservação da biodiversidade na Ria de Aveiro.

Monitorização da Cegonha-branca

Em 2018 realizou-se a monitorização dos parâmetros reprodutores, tendo-se efetuado o acompanhamento de 133 ninhos. Os valores obtidos estão em linha com o histórico da região, tendo-se obtido um valor médio de 2,35 juvenis por ninho. A dimensão das ninhadas variou entre 0 juvenis (24,8% dos ninhos) e 6 juvenis (0,75% dos ninhos).

Verificando-se, nas últimas duas décadas, alterações ao padrão de migração da espécie, sendo a sua permanência durante o inverno cada vez mais frequente. O último censo data de 2015, ano em que se contabilizaram 422 indivíduos invernantes na região, enquanto em 2006 eram 79.

Perspetivas ambientais para 2019

Autarquias optam por alternativas aos herbicidas nos espaços públicos

A Campanha contra os Herbicidas em Espaços Públicos desafia as autarquias a abdicar do uso de herbicidas nos espaços públicos da sua responsabilidade e em alternativa optarem por métodos não químicos, nomeadamente a monda mecânica ou térmica. São ainda poucas as autarquias que aderiram a esta Campanha, pelo que, em 2018, a Quercus Aveiro espera que mais autarquias sigam o exemplo da autarquia de Castelo de Paiva, da União de Freguesias de Recardães e Espinhel e da Junta de Freguesia de Couto de Esteves que, na nossa região, já assumiram publicamente a mudança na prática do controlo de plantas infestantes.

Melhoria das condições da Linha do Vouga

A Quercus considera que a Linha do Vouga é uma infraestrutura com potencial para se poder tornar numa alternativa mais sustentável em termos de transporte para a região.
O investimento de 3,7 milhões de euros, feito em 2009, na supressão e automação de mais de 50 passagens de nível, como requalificação da linha, não pode ser desperdiçado.

A Quercus defende que é urgente a melhoria das condições da linha, a modernização do material circulante e a eletrificação da linha.

Aplicação das políticas públicas na floresta da região

Necessidade de serem implementadas políticas públicas, promotoras da gestão sustentável da floresta e do desenvolvimento rural, equilibrando a despesa de prevenção com a despesa de combate a incêndios.

A Quercus espera uma alteração séria das políticas públicas para a floresta, que promovam o investimento no mundo rural, defendendo a aplicação de algumas melhorias, como a diminuição das áreas ocupadas pelo eucalipto, a gestão da paisagem florestal em mosaico, a plantação de mais espécies autóctones e a aplicação de um plano nacional para o controlo ou erradicação de espécies infestantes.

Com o investimento na prevenção estar-se-á a investir no futuro e com a garantia de um maior retorno de que beneficiará toda a sociedade, travando este ciclo infernal de destruição.

Mais e melhor investimento na sensibilização para a Conservação da Natureza

Face a um desinvestimento claro na área da conservação da natureza nos últimos anos por parte do estado central, é tempo de assumir os problemas de cariz ambiental e a conservação da natureza como prioritários. Mais investimento na sensibilização ambiental a desenvolver na região, seria um passo essencial para a mudança de comportamentos e atitudes e, dessa forma, constituiria uma oportunidade de informar a população para a importância da conservação da natureza.
O Núcleo Regional de Aveiro espera que os municípios do distrito sigam os exemplos dos investimentos e iniciativas realizadas pelas autarquias de Águeda, Arouca, Castelo de Paiva, Murtosa, Oliveira do Bairro e Sever do Vouga.

* Direção do Núcleo Regional de Aveiro da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza.

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