Toda a guerra depois de finda ainda vive em nós

1161
Capa de "Era uma vez na tropa".
Comercio 780

Aqui são retratadas as vivências de um miliciano, em jeito de alter ego, forçado a entrar numa guerra de causas e motivações alheias, em condições muito adversas.

Por Ireneu de Sousa Mac *

E a guerra colonial acabou?

Não. Não acabou. Toda a guerra depois de finda ainda vive em nós.

Uma guerra não acaba enquanto houver um último sobrevivente e enquanto os familiares ou amigos, que sofreram danos colaterais tiverem memória.

A absurdez e perversidade da guerra colonial marcaram a saúde, a personalidade e a carreira do autor, assim como o seu estilo de escrever.

Aqui são retratadas as vivências de um miliciano, em jeito de alter ego, forçado a entrar numa guerra de causas e motivações alheias, em condições muito adversas. Uma guerra sem fundamento, sem preparação e sem solução. Uma guerra para onde foram lançados, à sua sorte e ao seu primário sentido de sobrevivência, milhares de portugueses subtraídos do seu ambiente, esbulhados da normal alegria da juventude.

Os traumas adquiridos para a vida toda, incluindo a “culpa do sobrevivente”, refletem-se, de certo modo, em alguns relatos.

Como bem disse o médico Gerhard Trabert: “Quem sobrevive sente-se culpado por ter sobrevivido e os outros terem morrido”. Por ter, quiçá, matado para sobreviver.

Num tempo em que outros Estados apontavam esforços ao desenvolvimento das suas próprias metrópoles, visando maximizar o bem-estar dos seus povos, em Portugal, os “cabeças de ouro” massacravam e a dizimavam a juventude, amputando famílias e traumatizando gerações.

* Autor de “Era uma vez na tropa – Rescaldos da Guerra em desfile de memórias”. Cresceu numa aldeia da Bairrada, onde nasceu em 1948. Concluída a escola primária, o autor começou a trabalhar na agricultura familiar. Aos 18 anos, pensando num futuro melhor, ingressou num colégio como aluno adulto externo. Em 2 anos, por método e força de vontade, concluiu o 5º ano do liceu com reconhecido êxito. A dois meses do fim do curso (6º e 7º anos), com expetativas de sucesso, o autor foi chamado para a guerra colonial, ficando impedido de concluir o seu projeto. Depois da guerra, trabalhou e estudou, obtendo um bacharelato.

Publicidade, serviços e donativos

» Está a ler um artigo sem acesso pago. Faça um donativo para ajudar a manter o NotíciasdeAveiro.pt de acesso online gratuito;

» Pode ativar rapidamente campanhas promocionais, assim como requisitar outros serviços.

Consultar informação para transferência bancária e aceder a plataforma online para incluir publicidade online.

Comercio 780