Rankings universitários

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Sessão de entrega de medalhas (Universidade de Aveiro, junho de 2022).
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As instituições de Ensino Superior (IES) são as únicas entidades públicas portuguesas a competir internacionalmente e a serem comparadas a nível internacional com outras instituições congéneres.

Por Paulo Jorge Ferreira *

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As comparações são feitas por publicações especializadas em Ensino Superior, que atribuem classificações que consideram a reputação, corpo docente, investigação científica, impacto na comunidade, internacionalização, satisfação dos estudantes, sustentabilidade ambiental, entre outros.

A popularidade destas listas ordenadas tem aumentado significativamente e os resultados são muitas vezes usados por estudantes e decisores. Há problemas óbvios com estas comparações.

Em primeiro lugar, só faz sentido comparar instituições entre si se as respetivas realidades forem comparáveis. Em particular, se decidirmos comparar os resultados produzidos, então devemos também comparar os recursos usados na produção desses resultados.

As universidades portuguesas estão aqui em desvantagem. A despesa total do Estado em IES é inferior à média europeia em cerca de 6000 dólares por estudante (em paridade de poder compra). Considerando que há 223 mil estudantes nas universidades públicas, para que estas tivessem um nível de financiamento equivalente precisariam de um reforço de 1300 milhões de dólares (PPC). A diferença é tão significativa que levanta dúvidas acerca da legitimidade destas comparações, quando os recursos são tão díspares.

O segundo problema resulta da natureza do que é comparado. Recorre-se, em geral, a elementos quantitativos para avaliar cada universidade. Mas são estas medidas justas e completas? Aferem a totalidade dos contributos de uma universidade enquanto parte da sociedade?

Os rankings influenciam a visão que o mundo adquire de cada universidade, sem prestar a devida atenção à forma como esta se vê no mundo. Qualquer avaliação deve ser realizada em função da missão e objetivos da instituição avaliada, considerando o sistema no seu todo, e estes devem ser comparáveis para se poder realizar uma ordenação com significado.

Pode questionar-se também se as medidas refletem a qualidade do trabalho de cada instituição, em determinada vertente, ou meramente a sua quantidade. Medimos o que é importante, ou o que é fácil medir?

Várias universidades influentes têm mostrado o seu descontentamento retirando-se deliberadamente de alguns rankings. A Universidade de Zurique, em cujo seio já surgiu uma dúzia de prémios Nobel, foi uma das últimas a fazê-lo, referindo-se às “consequências indesejadas”: a sobrevalorização da quantidade em detrimento da qualidade e a subordinação institucional a indicadores quantitativos.

É bom dispor de modelos que afiram o desempenho das instituições, desde que respeitem a diversidade das entidades avaliadas e comparem apenas o que é comparável. O princípio aplica-se noutros níveis – do institucional ao individual.

Vale a pena pensar nisso.

* Reitor da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente em UA.pt e JN.pt.

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