
Num recente relatório da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) ficou a saber-se que, entre 2010 e 2024, o número de publicações periódicas registadas em Portugal caiu de 2971 para 1675, uma redução de 40%.
Por Dinis de Abreu *
Verificou-se, também, que esta quebra drástica afectou sobremaneira a Imprensa regional e local, com 83 municípios a terminarem o ano de 2024 sem qualquer publicação periódica editada. O deserto noticioso avança, não faltando as mais variadas conjecturas e versões para esta decadência da Imprensa escrita.
Dir-se-á que a “culpa” pertence, em primeira linha, à fragilidade das empresas locais detentoras desses títulos, com estruturas incipientes em muitos casos.
Dir-se-á, depois, que a concorrência da instantaneidade da informação, veiculada pela Internet e pelo audiovisual, teria forçosamente de acarretar efeitos devastadores sobre este tipo de publicações.
Mas haverá que reconhecer, também, que o suporte de assinaturas, que assegurava e mantinha a maioria dessas publicações, com vendas residuais em banca, terá diminuído bastante, quer por apatia das novas gerações de residentes, quer por desinteresse das comunidades emigrantes.
O relatório da ERC assinala, ainda, uma crescente fragmentação e digitalização do sector, com um número cada vez maior de operadores a actuar exclusivamente online. O papel está a ficar uma opção de museu…
De facto, e perante a actualização feita pela ERC, em Agosto deste ano, conclui-se pelo reforço e predominância do digital. No conjunto das publicações periódicas registadas, a maioria existe apenas em formato online, com os distritos de Lisboa e Porto a concentrar a fatia principal, seguidos por Braga, Aveiro e Coimbra.
Em contrapartida, Beja e Bragança são os distritos com menor representação editorial, sendo de notar que o número de municípios sem qualquer publicação periódica subiu para 85.
São dados preocupantes e cujo agravamento parece imparável. As consequências deste estado de coisas são já visíveis noutro plano.
De acordo com o índice de pluralismo dos media na União Europeia, Portugal caiu do sétimo lugar, em 2022, para a décima terceira posição em 2025.
Na origem desta descida está, obviamente, a crise de sustentabilidade económica dos media, com redacções mais precárias, e, não poucas vezes, sujeitas a uma orientação editorial voltada para os interesses económicos ou políticos dos titulares das empresas.
Este relatório, elaborado pelo Centre for Media Pluralism and Media Freedom, coloca a Alemanha e a Suécia na liderança dos países de risco mais baixo, enquanto enfatiza que a pluralidade de mercado enfrenta um risco “médio-alto” devido à crise das pequenas e médias empresas de media e à precariedade crescente da profissão.
São dados que dão que pensar e que nos remetem para um futuro sombrio, se não houver um volte-face capaz de alterar, quanto antes, o plano inclinado em que os media se encontram, com a Imprensa escrita à cabeça.
* Artigo publicado no site do Clube de Imprensa.
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