Não basta encontrar um tesouro, mas sim valorizá-lo

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Eucaristia, JMJ (Aveiro).

A Jornada Mundial da Juventude tem mostrado o rosto jovem da Igreja e apresentado o rosto jovem de Cristo aos jovens. Ela constitui um laboratório de fé, um instrumento de evangelização dos jovens e de transformação da Igreja e do mundo que nos rodeia.

Por António Moiteiro, Bispo de Aveiro *

Queridos jovens, famílias, irmãos bispos, sacerdotes e diáconos e todo o povo de Deus aqui reunido para celebrarmos o encontro com Cristo vivo e ressuscitado e manifestarmos a alegria de sermos seus discípulos. O cristão é um peregrino a caminho. Todos o devemos percorrer juntamente com muitos irmãos, a fim de ajudarmos este mundo a ser lugar de acolhimento para todos, tal como esta assembleia constituída por membros de diferentes continentes e nações aqui representados. Somos, de facto, uma igreja universal verdadeiramente católica, onde todos têm lugar, cada um com as suas raízes, língua e diversidade cultural.

1. Uma vida com sentido

Salomão, no início do seu reinado, sentindo-se um jovem que ainda não sabe governar o seu povo, pede a Deus um coração cheio de sabedoria para saber discernir entre o bem e o mal. Todos nós, e de modo particular, vós jovens, que tal como Salomão sonhais com um mundo mais inclusivo, sustentável, onde todos tenham lugar, precisamos de observar e cumprir o sonho que cada um transporta dentro de si.

O Evangelho de S. Mateus é todo ele um programa de vida para a missão de construir o Reino de Deus, o qual vivendo em comunidade se tornará realidade na vida de cada um de nós. O encontro com Jesus, concretizado no Reino de Deus, é um autêntico tesouro e uma pérola de grande valor, pelo qual vale a pena vender tudo para o conseguir. Aqueles que vendem tudo para conseguir o tesouro ou a pérola que encontraram, aparentemente ficam mais pobres, mas na realidade alcançaram o grande objetivo da sua vida. Não se insiste nas renúncias e nos sacrifícios que isso supõe, mas na grande alegria da conquista. Temos de apostar tudo para conseguir o Reino.

O crescimento do Reino é uma realidade que nos deve encher de alegria. Procurar a Deus, encontrar-se com Ele, exige esforço da nossa parte e renunciar a tudo o que impede esse encontro. O encontro com Deus exige uma atitude de procura, não ficar numa apatia indolente, mas procurar o que é fundamental na vida. Para Cristo, o fundamental é o Reino que nos deu: é a realidade que deve polarizar toda a existência e é capaz de mudar radicalmente a orientação de toda uma vida. Isto supõe uma opção prévia a favor de algo que se encontrou e pelo qual vale a pena dar a vida. Não basta encontrar o tesouro, mas sim valorizá-lo como verdadeiro tesouro.

2. O rosto jovem da Igreja

A Jornada Mundial da Juventude tem mostrado o rosto jovem da Igreja e apresentado o rosto jovem de Cristo aos jovens. Ela constitui um laboratório de fé, um instrumento de evangelização dos jovens e de transformação da Igreja e do mundo que nos rodeia.

Podemos perguntar-nos: Qual o tesouro, isto é, a espiritualidade da JMJ ? Fazer a experiência da universalidade da Igreja, tal como a experimentámos ao longo desta semana nas várias comunidades cristãs da nossa diocese, e que na próxima semana será uma experiência ainda maior; experimentar a alegria de ser cristão no cuidado e serviço aos outros; viver a Eucaristia como o centro da vida cristã; dar lugar ao sacramento da Penitência em ordem à conversão e mudança de vida; sentir a alegria que brota da certeza de se ser amado e acolhido.

O Papa Francisco, na exortação apostólica Cristo Vive, apresenta duas grandes linhas de ação para a pastoral juvenil, nas quais se destaca a relevância do envolvimento pessoal dos jovens: «Uma é a busca, a convocação, o chamamento, capaz de atrair novos jovens para a experiência do Senhor. A outra é o crescimento, o desenvolvimento de um caminho de amadurecimento daqueles que já fizeram essa experiência» (ChV 209).

Maria é-nos apresentada como grande modelo para uma Igreja jovem, que quer seguir Cristo com frescura e docilidade. «Maria levantou-se e partiu apressadamente» (Lc 1,39) ao encontro de Isabel, atravessando montanhas. Este itinerário é a viagem da nossa vida, na qual podemos destacar alguns aspetos fundamentais: Quando recebe o anúncio do anjo e não se coíbe de fazer perguntas (cf. Lc 1,34); tem uma alma grande disponível e dispõe-se ser «a serva do Senhor» (Lc 1,38); acompanha a dor do seu Filho Jesus, sustenta-o com o seu olhar e abriga-o no coração; estremece de alegria (cf. Lc 1,47); vive à sombra do Espírito Santo, contempla a vida à luz da fé e tudo guarda no seu coração; era uma pessoa inquieta, pondo-se continuamente a caminho; pensa, em primeiro lugar, naqueles que dela precisam (cf. Lc 1,39); protege o seu filho, partindo com José para um país distante (cf. Mt 2,13-14); permanece junto dos discípulos reunidos em oração, à espera do Espírito Santo (cf. At 1,14); com a sua presença e ação acompanha o nascimento da Igreja missionária (cf. At 2,4- 11).

No anúncio do Evangelho não há limites, fronteiras, todos somos enviados. Não tenhamos medo de ir e levar Cristo a qualquer ambiente, até às periferias existenciais, inclusive a quem parece mais distante, mais indiferente, a ir sem medo com o anúncio missionário onde quer que nos encontremos e com quem estivermos. Jovens, vós sois a semente de um mundo futuro! Com Maria levemos Jesus, que por nós quer chegar a muitos.

* Aveiro, Missa de Envio, JMJ 2023-7-30.

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