Leite: Competitividade da indústria não poder ser feita à custa dos produtores

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Vacaria.

A competitividade da indústria não poder ser feita à custa dos produtores, conduzindo-os à descrença, desistência e abandono.

Por Carlos Neves *

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Os produtores de leite associados da APROLEP reuniram recentemente em Assembleia Geral e decidiram expressar a sua preocupação neste momento de incerteza política e económica em que se mantém altos os custos de produção, sobretudo o custo com a alimentação animal.

Iniciámos 2023 com um preço que remunerava os elevados custos de produção e o trabalho dos produtores, mas ao longo de 2023 o preço do leite ao produtor baixou 11 cêntimos por litro apesar dos custos se manterem elevados. Se esta tendência continuar em 2024 voltaremos à situação que vivemos entre 2010 e 2022. Estivemos 12 anos com preços abaixo da média europeia, e muitos meses com o pior preço entre os 27 estados-membros. Não admira que nesses 12 anos Portugal tenha perdido 75% dos produtores de leite no continente e 40% dos produtores açorianos. Restam 3500 produtores, 2000 nos Açores e 1500 no continente.

Os compradores de leite terão que decidir o sinal que vão dar aos poucos produtores que resistem na produção. Dessa decisão irá depender o abastecimento com leite nacional e o funcionamento das cooperativas, da indústria e da distribuição. Dessa decisão ira depender a manutenção da atividade agrícola em muitas regiões do meio rural português ou a continuação da debandada de produtores e a procura de atividades alternativas.

Um alimento natural e completo como é o leite não pode voltar a ser desvalorizado como foi ao longo de anos sucessivos. A distribuição não pode voltar a usar o leite como isco para atrair consumidores com a colaboração de indústrias que escoam leite sem estratégia e sem valorização.

A competitividade da indústria não poder ser feita à custa dos produtores, conduzindo-os à descrença, desistência e abandono. A indústria do setor cooperativo, pela sua dimensão, pela sua origem e por toda a sua história, não se pode distrair e não pode esquecer que o seu primeiro objetivo é valorizar o leite dos produtores a quem pertence e deve lealdade.
A mensagem a passar aos poucos produtores de leite portugueses que ainda garantem o abastecimento lácteo nacional deve ser de agradecimento por todo o esforço feito ao longo dos últimos anos, de resiliência e de esperança num futuro em que o seu trabalho seja respeitado e valorizado.

* Secretário-geral da APROLEP

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