Museu dos Telefones, Aveiro.

Entre os muitos caminhos que a vida nos apresenta, existem encontros e conexões que transcendem o acaso e se revelam como verdadeiros momentos de descoberta. Foi assim que conheci Agostinho Pinto – um daqueles instantes que a memória preserva com nitidez: onde o gosto pelo conhecimento, pela tecnologia e pela preservação da memória se cruzaram.

Por Raquel Castro Madureira *

Ao longo da minha vida profissional no sector das telecomunicações, na Ordem dos Engenheiros, na vida política activa e mais recentemente no ensino e na investigação em smart cities, fui aprendendo que a verdadeira inovação não reside apenas nos dispositivos que criamos, mas nas histórias que eles carregam, os modos de vida que alteraram profundamente e como marcaram gerações. E ninguém melhor do que Agostinho Pinto para personificar essa compreensão profunda sobre a evolução tecnológica das telecomunicações em Portugal e no mundo. Agostinho Pinto não apenas coleciona telefones; ele colecciona histórias.

Histórias de inovação, de superação, de ligações que transcendem o mero aspecto tecnológico.

Agostinho Pinto, ex-consultor da PT/MEO e profundo conhecedor do sector, iniciou sua história com as telecomunicações em 1971, nos então CTT (Correios, Telégrafos e Telefones). Desde o início de sua carreira, demonstrou um interesse genuíno pelo funcionamento, a evolução e o impacto dos telefones na sociedade. Esse fascínio, que se consolidou ao longo de décadas, foi o alicerce para a construção de uma das mais notáveis colecções particulares no campo das telecomunicações em Portugal: o Museu dos Telefones, Celeiro Ti Deolinda em Sarrazola, Cacia, Aveiro. De toda a coleção, destacam-se telefones usados desde os primórdios das comunicações telefónicas em Portugal, e, pela sua raridade a lista telefónica dos anos 50: O Guia dos Correios, Telégrafos e Telefones, Continental, Insular e Ultramarino.

A dedicação de Agostinho em preservar cada detalhe, cada tecnologia obsoleta, representa mais do que um trabalho de historiador ou colecionador. Representa um compromisso ético com a memória coletiva, um testemunho de que o progresso só pode ser verdadeiramente compreendido quando respeitamos e estudamos as suas raízes. O Museu dos Telefones não é pois, apenas uma colecção de objectos antigos; é um portal que nos transporta através de décadas de transformação comunicacional. Cada aparelho, cada componente restaurado por Agostinho é como uma página de um livro vivo, narrando a saga das telecomunicações em Portugal e no mundo. Pois em cada objecto restaurado por Agostinho Pinto, pulsa não apenas a memória de um dispositivo, mas a energia criativa de gerações que ousaram conectar o mundo.

Como tecno evangelista, reconheço no trabalho de Agostinho Pinto uma missão quase sagrada: transformar o que poderia ser visto como sucata tecnológica em narrativas fascinantes sobre a evolução humana. O seu museu não é um depósito de objectos, mas um laboratório vivo onde cada visitante pode tocar, sentir e compreender como chegámos até aqui e como a tecnologia das telecomunicações transformou a vida da humanidade e das relações humanas, reduzindo distâncias, uniformizando o acesso à informação e conduzindo-nos à ubiquidade.

Este livro que agora se apresenta vai muito além de uma simples documentação. É um convite à reflexão sobre nossa jornada tecnológica desde o século XIX ao século XXI, sobre como cada pequena inovação nos aproxima, nos conecta, nos transforma. Através das páginas deste livro, Agostinho Pinto conduz-nos por uma viagem no tempo, revelando não apenas a história dos telefones, mas a história de como superamos distâncias, barreiras e limitações.

Aos leitores, deixo um repto: não vejam este trabalho como um arquivo do passado, mas como um mapa para compreender o nosso presente e um desafio para imaginar o nosso futuro. Que este livro inspire, provoque e desperte em cada um a curiosidade sobre nossa jornada tecnológica e o reconhecimento do papel de Portugal e dos Portugueses nesta grande teia. Porque, no fim, somos todos narradores e personagens desta grande história de conexões que à semelhança das Descobertas, aproxima pessoas, ideias e culturas, transformando limites em possibilidades.

* Engenheira. Prefácio para livro “Museu dos Telefones”

Cartaz de lançamento.

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