Rio Vouga (Foto de António Garcia).

O rio, a calçada e a revolta, onde a história se escreve em pedra, o abuso não pode fechar o caminho do rio.

Por António Garcia *

Regresso a um trilho simpático para apreciar o Vouga, a jusante das Termas que ele banha: um PR que casa terra batida com estrada medieval e calçada romana, sempre com o rio por companhia — ida pela margem esquerda, volta pela direita. Bucólico, silencioso, água a murmurar, pássaros a pontuar o passo. E, no meio da beleza, a sombra do abuso.

O PR-12 leva-nos primeiro junto ao caudal represado. Quase à Ponte da Foz, a surpresa amarga: um muro alto com portão a barrar o caminho público, “propriedade privada” e “cão” em ameaça. Retroceder? Não. Com bastão na mão e cuidado redobrado, transpusemos o obstáculo e retomamos o trilho logo adiante. (Era domingo; o cão, ao que parece, também folgava.)

Pouco depois, novo atropelo: na própria ponte, portão mecânico a impedir a passagem entre margens. Uma frincha salvou a continuidade, mas o que não se contorna é o cheiro nauseabundo que invadia o ar — poluição orgânica a jusante, compatível com despejos no rio (ETAR? privados?). Revolta. Crime ambiental à vista desarmada.

PR 12.

Felizmente, a calçada romana restitui dignidade ao caminho de regresso: lajes antigas, polidas por séculos de passadas, a imaginar a ligação Viseu–Albergaria-à-Velha com o Vouga por guia. Vestígios medievais ainda se adivinham; é história viva sob os pés — e por isso doem mais as agressões que lhe fazem.

De volta às Termas, um piquenique no jardim, o rio por cenário, patos a queixarem-se da falta de água, termalistas a cumprir rotinas de saúde. Beleza há, mas não pode servir de cortina.

Nota: a participação pelo crime ambiental e pela usurpação do domínio público já seguiu para a Câmara, APA Centro e GNR. Porque amar um rio é também defendê-lo

* https://www.facebook.com/antoniotony.garcia.9

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