Geminação de Aveiro com Arcachon

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Arcachon.
Comercio 780

Há dias, escrevi um artigo sobre as relações entre Aveiro e Bourges. Hoje, abordarei a geminação com Arcachon que tem vindo a ser a irmanação mais potente e com resultados mais evidentes e duradouros para Aveiro. As duas cidades nada têm a ver uma com a outra, mas o ”bassin” arcachonense e a sua zona envolvente têm grandes parecenças com a nossa região lagunar.

Por Diamantino Dias *

Esta geminação nasceu de um encontro casual de delegações das duas autarquias, creio que em Bordéus. As visitas oficiais iniciaram-se e estabeleceu-se um intercâmbio a nível de várias instituições.

No que me diz respeito, efectuei várias deslocações a essa cidade, acompanhando as seguintes entidades:

– uma equipa de juvenis do “S. C. Beira-Mar” que participou num torneio de futebol;

– o “Coral Vera Cruz” que deu um concerto, juntamente com um Orfeão local, na Igreja de Notre Dame;

– uma delegação dos Bombeiros Velhos, convidada para o aniversário da corporação local;

– os participantes do “Encontro Internacional de Aquicultura”, de que fui Coordenador;

– quatro marnotos aveirenses — Felisberto Fortes, Manuel Regala, João Cravo e João Ventura — que se deslocavam à Guérande, a convite da União Europeia, para visitarem o salgado daquela península e trocarem experiências com os seus colegas franceses;

– o doutor Vasco Branco que tinha sido convidado para fazer um grande painel cerâmico, num túnel da avenida marginal;

– o Vereador João José Ferreira da Maia aproveitou a minha ida, quando fui preparar as comemorações do “5º Aniversário da Geminação”, para se deslocar e tratar de assuntos referentes à recolha e tratamento de lixo, com um autarca local, reuniões essas em que dei uma ajuda como intérprete;

– finalmente, ajudei o pintor aveirense e meu amigo, Jeremias Bandarra, a montar uma exposição comemorativa do supracitado aniversário, que esteve aberta ao público, durante dez dias, na Sala de Exposições, anexa ao “Hôtel de Ville”. Nessa mostra, para além de trabalhos dos mais conceituados artistas plásticos e artesãos aveirenses, também se prestava informação turística não só através de folhetos, mas também de um “Quiosque Interactivo” que continha a informação constante do meu “Roteiro Turístico” e na concepção do qual eu tinha colaborado com um técnico de Informática de uma empresa de que era sócio o Eng.º Belmiro Couto. Tive o grato prazer de ser procurado por uma pessoa que se tinha deslocado expressamente de Paris para ver a referida máquina que, para meu espanto, foi considerada, por esse visitante, como uma novidade.

Durante esta estadia, auxiliei as entidades locais na elaboração do programa das festividades referentes ao predito aniversário, por exemplo, fazendo as necessárias traduções, festas estas, cujo prato forte foi constituído por um espectáculo a cargo da “Confraria de São Gonçalo” e nas quais participou a fadista aveirense Lisete da Conceição, com o guitarrista Armindo, que já tinha acompanhado Amália Rodrigues.

No que respeita à vinda a Aveiro de Delegações de Arcachon, referirei, somente, que os Bombeiros do ”Sud Bassin” não só se fizeram representar, durante muitos anos, em todos os aniversários dos Bombeiros Velhos, mas também levaram a cabo frequentes e importantes acções de formação junto destes seus colegas aveirenses.

Mas o que me levou a afirmar que de todas as geminações, “a mais potente e com resultados mais evidentes e duradouros para Aveiro” tinha sido esta, foi a circunstância de ela ter sido determinante para que se instalasse, em Aveiro, o actual “Centro Comercial Glicínias Plaza”, com todas as consequências que isso acarretou a nível comercial, económico, social e até urbanístico – creio não ser excessivo afirmar que foi a primeira vez que a mancha citadina se estendeu para sul da antiga Variante ou 109, hoje avenida Europa.

Assim sendo, penso que merece que se dê notícia de um facto pouco conhecido. Há perto de trinta anos, a “Leclerc” pensou expandir a sua rede de centros comerciais para a Península Ibérica, tendo incumbido um seu funcionário de efectuar uma prospecção.

Aconteceu que essa pessoa, Roger Schiltz, quando visitou Aveiro, considerou que esta cidade seria o sítio ideal para instalar o Centro de que quereria ser o Director. Tentou marcar uma entrevista com o Presidente Girão Pereira, mas, ao fim de duas ou três tentativas goradas, voltou para casa, situada na localidade de Pyla, que pertence à comuna de Arcachon.

Um dia, encontrou o respectivo “Maire”, Pierre Lataillade, que tinha sido seu professor de Inglês, o qual já não o via há uns tempos, pelo que lhe perguntou em que é que se ocupava. Disse-lhe que continuava a trabalhar para a “Leclerc” e falou-lhe do seu projecto para Aveiro e dos seus problemas em falar com o Presidente da Câmara local. “Se é só esse o teu problema, vai deixar de existir, dentro de minutos; vem comigo ao meu gabinete.” Um telefonema para o seu colega da cidade irmã portuguesa e, dois dias depois, a desejada entrevista teve lugar.

Mais tarde, foi dito a Roger Schiltz, por um membro do “Conseil Municipal d’Arcachon”, Michel Morlighem, que quem lhe poderia ser muito útil, em Aveiro, seria eu, porque conhecia muita gente, pelo que, durante uns anos, me vi envolvido num processo de prospecção, criação e gestão de Centros Comerciais e lojas, em Espanha e Portugal, especialmente, em Aveiro e Figueira da Foz.

Como esta actividade era incompatível com as funções que exercia, passei à aposentação, depois de ter integrado o quadro de pessoal dos Serviços Municipais de Turismo durante trinta e oito anos e nove meses e, inesperadamente, terminei a minha vida de trabalho, aos setenta e seis anos, após uma experiência de duas décadas no sector privado, tendo, assim, tido a oportunidade de conhecer, se bem que superficialmente, um mundo diferente daquele em que, até aí, tinha vivido.

Diamantino Dias.

* Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, Estudos Portugueses e Franceses, Técnico Superior Assessor Principal da Câmara de Aveiro – reformado (página do autor em Aveiro e Cultura)

 

 

 

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