
Ribau Esteves apresentou, este sábado, no palco do Teatro Aveirense, o seu livro de balanço de três mandatos na Câmara de Aveiro (“Aveiro, Coragem de Mudar”, convidando para uma entrevista conjunta os jornalistas Estela Machado (CNN Portugal, ex-Porto Canal) e Rafael Barbosa (diretor do JN) que não deixou de abordar outros temas da política, incluindo partidária, e da governação, dos últimos anos e da atualidade, e até o seu futuro político, que, confirmou, está a ser tratado com Luís Montenegro sem querem apontar o lugar em causa.
O início da conversa serviu para referenciar os dois prefácios da autoria do ex-secretário-geral do PS António Costa (de quem foi contemporâneo como presidente da Câmara de Lisboa e com quem lidou depois como Primeiro-Ministro) e de Luís Montenegro, atual Primeiro-Ministro e líder PSD). “O que tem de ser a vida de um presidente de Câmara é trabalhar em espírito de equipa, lealdade e seriedade com o Governo, independentemente de ser do nosso partido ou de outro, porque o nosso partido, quando governamos, tem de ser as pessoas, o nosso território”, sublinhou. O lamento foi para o contrário, que é “esta coisa horrorosa que vai crescendo nas nossas democracias, a partidarite, que além do mais dá cabo dos partidos e da democracia”. A originalidade de juntar um ex e um atual Primeiro-Ministro a prefaciar o mesmo livro deu “um gosto muito pessoal, pelo que ambos me deram e para dizer às pessoas: a política é um espaço de convergência e divergência, de concordância e discordância, apenas temos de ser elegantes e positivos quando discordamos e não aquilo que se vai assistindo de uma forma dramaticamente crescente, que é um absurdo radicalismo que estraga as relações e não ajuda a vida das pessoas a ser melhor”, declarou o autor.
Uma passagem do livro que chamou a atenção ao diretor do JN foi a crítica à “judicialização da política”. Ribau Esteves explicou que a sua “discordância” no recurso à tais expedientes “é as pessoas não saberem ser democratas”. Lembrou a “obra do Rossio”, que foi sufragada pelos aveirenses nas urnas. “Quem perdeu não soube respeitar a democracia e a derrota, tentando em tribunal impedir de fazer uma obra” que foi “seguramente” das mais difíceis. “Havia muito medo e controvérsia, mas a pressão não era tanto essa. Ali a questão principal era o medo”, disse, recordando a complexidade da intervenção para criar o parque de estacionamento subterrâneo e a praça jardim em cima. “O atentado à democracia é não saber perder democraticamente”, apontando outro caso, mais recente, quando Alberto Souto, candidato do PS à Câmara, recorreu ao tribunal para evitar a demolição da vivenda que foi sede Cerciav para ampliar o conservatório de música. “Em vez de ficar na dialética política, mete-nos em tribunal, é isto que condeno. Se era uma asneira grave, passível de julgamento, claro que deve participar, agora uma obra não, um objetivo político que os cidadãos validaram, não”.
“O discurso político é muito pouco objetivo, é baseado em intenções”
Confrontado pela jornalista da CNN Portugal com o prefácio de Luís Montenegro, em que este admite que Ribau Esteves quando quer afirmar as suas convicções e fundamentar posições chega a “verbalizar tiradas no limite do exagero”, o ainda autarca assume que é propositado: “As democracias estão a desgastar-se pelo politicamente correto, não pertenço a esse grupo. O objetivo é fazer, resolver problemas, qualificar o território. Quando assumimos fazer isso e não ficamos no politicamente correto é incómodo. Os eleitores, os cidadãos, gostam muito disso. A maior parte dos cidadãos não percebe o discurso político moderno. Não é por falta de inteligência, mas porque o discurso político é muito pouco objetivo, é baseado em intenções, quando são os resultados que interessam às pessoas”, disse, lembrando que isso lhe valeu reeleições sucessivas. “Não estou a exercer o poder pelo exercício do poder, mas para usar o poder como instrumento de desenvolver o território e qualificar a vida das pessoas”, insistiu.
Motivado pela “determinação de avançar e realizar”, Ribau Esteves garantiu que não desanimou na vida autárquica ao ponto de querer antecipar a saída. “Nunca, nem em Ílhavo, tive um dia em que dissesse ‘estou farto de aturar isto e quero ir embora’. Tive sempre a vantagem de ter gente boa nas equipas a trabalhar comigo, competente, séria e dedicada. Se não fosse assim, tinha posto na rua. Para trabalhar comigo tem de ser bom, dedicado, com disponibilidade, as férias são um episódio meramente espiritual”, ironizou, lembrando que a Câmara de Aveiro, à sua chegada, “era péssima, do pior que o País tinha em várias dimensões, e alcançamos a excelência, não já em tudo, mas um bocadinho e a gente ia lá”, destacando, novamente, que “foi um presidente sempre bem acompanhado em espírito de grupo muito forte”, rejeitando a imagem de um edil “quero, posso e mando”.
Apesar de ter sido ‘falado’ para eventual candidato à Câmara do Porto nas autárquicas passadas, Ribau Esteves disse apenas que foi convidado “oficialmente”, pelo PSD, para “ser candidato a outras Câmaras” e que na resposta pediu “compreensão pelo meu não”, por entender agora que é altura de “fazer outras coisas na vida”. Se possível na política. Face à insistência da entrevistadora, o edil respondeu: “Aquilo que estamos hoje a fazer é conversar com o líder do meu partido. O partido entende que os meus recursos, o meu conhecimento, deve ser útil num quadro de serviço público e estamos a conversar sobre isso com toda a seriedade e tranquilidade”, aguardando que “as conversas estejam terminadas e haja um acordo”. Questionado se poderia passar por uma empresa pública, garantiu que as abordagens não chegaram ao ponto do lugar de destino, nem deseja colocar o seu futuro “na lógica de eu quero ser isto ou aquilo”.
Discurso direto
“Quando ponderei ser candidato à liderança do PSD, eu tinha condições para avançar, tinha era pouca gente para avançar comigo, precisava de uma equipa Hoje há tanta gente que defende que o País tem de ser melhor, que temos de lutar todos. Ficam no comodismo da luta pela palavra e não no incómodo de pegar na sua vida e vir para a terra sujar os pés. O Luís Montenegro tinha feito o seu trabalho durante seis anos, fez a sua rede, e percebi que não tinha condições. Avançou o Jorge Moreira da Silva e teve o meu apoio”;
“Aveiro era conhecida como a Veneza de Portugal. Achava que tínhamos de mudar essa frase, mas manter a lógica identitária do território, que é de facto única. Na altura não tínhamos dinheiro a não ser para serviços públicos municipais. Encontrámos uma obra parada há 10 anos e negociámos um fundo do Centro2020, o Centro Municipal de Interpretação Ambiental. Tínhamos de promover o equipamento. Pegámos na ideia dos vários canais, aproveitando a promoção ambiental. A ‘Cidade dos Canais’ foi ideia minha”;
“É um erro os autarcas terem assentado uma boa parte da sua gestão político-eleitoral em baixar impostos aos cidadãos. É um erro. Não é simpático. O que as pessoas querem é viver melhor, que a terra tenha mais qualidade, mais equipamentos, atividades desportivas e culturais. As pessoas ficam todas contentes com baixa do IMI, mas quando vamos à matemática, certos exercícios de baixar impostos são ridículos. Na fatura fiscal das famílias a componente dos impostos municipais não chega a 10 % , o problema da carga fiscal que é pesadíssima não é o IMI, é no IVA, por exemplo”;
“A Lei das Finanças Locais só levou ajustamentos nos últimos anos, a tabela salarial e os quadros de pessoal são ridículos. Mudou completamente, andamos aflitos para as pessoas virem trabalhar connosco, para segurar as pessoas, porque pagamos absurdamente mal. Daí a proposta de aumentar os salários em 30% imediatamente, isso não perturba em nada o défice das contas públicas. Em Aveiro, se tem impacto orçamental é uma obra a menos”.
“Pensei, lutei por isso, que a forma de comemorarmos os 50 anos da democracia era refundar o Estado, que tem o desenho de há 50 anos. É urgente mudar, as decisões do Tribunal Constitucional marcadamente partidárias, para que é o Tribunal Constitucional ? Com juízes escolhidos pelos partidos. Isto faz sentido ? Desinquietar e modernizar o país, vendo as reformas dos outros países para termos um Estado muito melhor que é hoje.
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