Covid-19: Quem dá mais? Quem quer o desconfinamento? Onde? Quando? Como?

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Marta Temido, Ministra da Saúde.

A aprendizagem comunitária em Infecciologia, Saúde Pública, Virologia, Epidemiologia e Probabilidades e Estatística é agora quase vertiginosa. No entanto, o que deveria ser melhor conhecido, no essencial e na actual situação pandémica, é Gestão do Risco na perspectiva epidemiológica.

Por António de Sousa Uva *

O escarcéu voltou. Os canais noticiosos inundam-nos com uma selecção de “especialistas” COVID do mais elevado recorte (muitos dos quais há cerca de um ano na arena mediática), a maioria dos quais muito sabedores nas suas áreas de conhecimento, mas que apenas sabem o que é uma doença quando adoecem, o que não os impede de perorar acerca da ciência que estuda a distribuição das doenças na comunidade. É o que há, como já antes foi por nós referido e, apesar disso, é bom que aconteça já que reflecte um enorme compromisso da comunidade com a actual emergência em Saúde Pública.

Esse compromisso é indispensável numa emergência em Saúde Pública, mas será isso análogo a definir as políticas públicas em matéria de gestão do risco?

Dito de outra forma, deverão as políticas de Saúde Pública ser baseadas apenas nessas opiniões (porque é disso que se trata, independentemente da sua erudição) mais ou menos aportadas a (maior ou menor) evidência?

Quem determina essas políticas deverá decidir tendo isso em conta ou alinhando as suas decisões com as opiniões publicitadas (que são diferentes das publicadas e ainda mais diferentes das existentes)?

Haverá alguma decisão em políticas públicas em Saúde Pública que não tenha impacto em aspectos, entre outros, de natureza social e económica?

A aprendizagem comunitária em Infecciologia, Saúde Pública, Virologia, Epidemiologia e Probabilidades e Estatística é agora quase vertiginosa. No entanto, o que deveria ser melhor conhecido, no essencial e na actual situação pandémica, é Gestão do Risco na perspectiva epidemiológica.

Quando é que se perceberá que “avaliação do risco” ou “avaliação individual do risco” na sua acepção mais ampla (o “risk assessment” ou o “individual risk assessment”) são feitas recorrendo a uma abordagem essencialmente científica, enquanto a gestão do risco (risk management) não é, nem de longe nem de perto, apenas (e só) determinada por esse conhecimento?

Não será a gestão do risco, essa sim, uma actividade que determina a adopção de escolhas e de decisões da exclusiva competência de quem tem essa capacidade? e, por isso, essas decisões deverão ser tomadas apenas com base no conhecimento científico?

Não parece que o caminho percorrido até à actualidade seja muito nítido em relação ao papel de cada um dos diversos players envolvidos. Assumamos todos que qualquer gestão de risco de natureza epidemiológica nunca é completamente exacta, menos ainda perfeita, e o nosso compromisso deve ser baseado na confiança em quem define essas políticas objetivando o melhor controlo possível da doença. Ou virámos todos uma espécie de treinadores de bancada e, pior ainda, com laivos “pseudocientíficos”?

* Médico do Trabalho, Imunoalergologista e Professor Catedrático de Saúde Ocupacional da ENSP (UNL). Artigo publicado originalmente em Healthnews.pt.

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