
E se o seu filho chegasse a casa a queixar-se que sofria bullying? E se o seu neto lhe contasse que estavam a apropriar-se da conta de uma rede social para lhe extorquir dinheiro? E se o professor do seu filho o chamasse por ser acusado de excluir colegas através de mensagens online?
Por Danielli Dartico Simões, Ana Raquel Simões, Hugo Alexandre Simões *
Estes são exemplos de relatos que demonstram um desafio crescente: como preparar pais e filhos para prevenir o bullying e o cyberbullying? O Plano de Prevenção Anti-Bullying do Agrupamento de Escolas de Ílhavo (PPAB/AgEI) existe porque jovens sofrem, muitas vezes em silêncio, carregando marcas que podem durar toda a vida. O PPAB/AgEI introduz, no dia a dia da escola, dinâmicas de promoção de bem-estar e de segurança entre pares, em atividades que decorrem ao longo do ano letivo.
Reconhecendo que esta transformação não pode ficar encerrada nos muros da escola, nem limitar-se à ação dos alunos, há a necessidade de envolver toda a comunidade educativa: docentes, assistentes operacionais e as próprias famílias. O Plano de Capacitação dos Encarregados de Educação (EE) – Pais Embaixadores Anti-Bullying, integrado no 3.º ano do PPAB pretende capacitar famílias para assumir um papel de liderança e multiplicação de boas práticas na promoção da cidadania digital, munidas de informações sobre o bullying e o cyberbullying. No 1.º ano de implementação, foram formados 42 Pais Embaixadores Anti-Bullying, alargando a prevenção aos lares, às conversas à mesa e aos momentos de dúvida que antes ficavam por partilhar.
Foram dinamizadas 4 sessões, com a presença de múltiplos convidados da comunidade alargada, incluindo representantes da Universidade de Aveiro, forças de segurança pública, o Município e órgãos locais, o centro de saúde, psicólogas do agrupamento, a Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo, entre outros.
A capacitação vai além da partilha de informação: adota uma metodologia colaborativa, inspirada em modelos ativos como o jigsaw, em que cada participante assume um papel interventivo, partilhando experiências e soluções para cenários reais. Durante as sessões, os EE organizam-se em equipas com funções definidas (porta-voz, gestor de tempo, gestor digital). Cada elemento participa numa especialidade — cidadania digital, liderança parental, psicologia do bullying, segurança digital — e partilha as informações com o grupo, colaborando na resolução de situações inspiradas no cotidiano escolar e familiar.
Entre as várias dimensões trabalhadas, a cidadania digital assume especial relevância num tempo em que crianças e jovens, nativos digitais, vivem entre o presencial e o online, sob o olhar atento dos pais. É essencial que aprendam a promover práticas seguras e responsáveis no uso da tecnologia em família.
O sucesso deste plano não se mede apenas pelas intenções, mas pelas conversas que começam a acontecer, silêncios que se quebram, e famílias que deixam de se sentir sozinhas. Mas o trabalho não termina aqui. Cada pai, cada mãe, cada professor pode ser um embaixador desta mudança. Basta ouvir mais, julgar menos, agir com coragem. Porque prevenir o bullying é, acima de tudo, uma escolha coletiva.
* Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente em https://www.ua.pt/pt/noticias/13/92810 .
Siga o canal NotíciasdeAveiro.pt no WhatsApp.
Publicidade e donativos
Está a ler um artigo sem acesso pago. Pode ajudar o jornal online NotíciasdeAveiro.pt. Siga o link para fazer um donativo. Pode, também, usar transferência bancária, bem como ativar rapidamente campanhas promocionais (mais informações aqui).






