Cidades, Centro Histórico e Turismo acessível para todos

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Museu de Aveiro.
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Na contemporaneidade vulgarizam-se expressões como design universal, design para todos, design sem barreiras, design acessível, design inclusivo e design transgeracional.

Por Claudete Oliveira Moreira *

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É muito importante que nos destinos turísticos as pessoas com incapacidade, deficiência física, sensorial (visual e auditiva), cognitiva, com limitações funcionais ou com necessidades específicas (idosos, crianças, pessoas com dificuldades permanentes de locomoção ou com lesões temporárias, grávidas, pessoas com carrinho de bebé/criança, com estatura muito baixa ou muito alta, pessoas obesas, com alergias respiratórias, com intolerâncias alimentares), não encontrem barreiras que condicionem as suas experiências de turismo e de lazer.

As barreiras que se apresentam à acessibilidade universal são diversas e estão para além das barreiras físicas, são também culturais, atitudinais, informacionais, comunicacionais, sensoriais e cognitivas. Os destinos turísticos, os produtos e os serviços têm de se configurar para todos, a inclusão e a acessibilidade são imperativos societais transversais às componentes do sistema turístico, às políticas públicas e às estratégias definidas para o turismo.

A existência de políticas de turismo acessível, de legislação, de normas, de códigos e de guias, explicitando princípios, requisitos exigíveis, orientações e recomendações, a par da criação de programas de incentivo, designadamente por parte do Turismo de Portugal, têm sido fundamentais para qualificar os espaços, os equipamentos e os serviços orientados para o turismo e para o lazer. O investimento na educação e formação dos profissionais, capacitação e sensibilização, conforme os princípios do design universal, são ações que muito contribuem para que o turismo seja socialmente responsável, os espaços e os serviços se tornem inclusivos, dignos, seguros, confortáveis, cómodos e que permitam autonomia na fruição. O fim último é que se apresentem adaptados a cada utilizador, às suas características, capacidades funcionais e necessidades. Ser inclusivo e acessível para todos é um atributo fundamental dos lugares, que muito releva para os cidadãos residentes e para os turistas, para a competitividade e sustentabilidade dos destinos turísticos, para a promoção, imagem e branding.

Para os destinos turísticos e para os agentes do sistema turístico local importa fazer uma análise diagnóstico do design dos serviços, por forma a avaliarem o grau de acessibilidade e identificarem barreiras, investirem na aplicação dos princípios e orientações do design universal nos equipamentos, nos produtos e nos serviços, praticarem uma monitorização constante e uma melhoria e inovação permanentes, convergentes com as características, capacidades funcionais e necessidades dos clientes, visitantes e turistas. O turismo acessível para todos deve ser visto como uma oportunidade de negócio, principalmente se se levar em conta que o turismo grisalho (silver tourism) – um segmento muito expressivo no contexto do turismo acessível e do turismo cultural urbano – está em franco crescimento. O turismo acessível para todos é um desafio contínuo, impondo uma configuração integral e uma adaptação e melhoria constantes, que acompanhem as novas tendências: soluções inovadoras para os prestadores de serviços e necessidades e interesses dos visitantes e turistas.

As cidades são destinos turísticos preferenciais, exercendo uma grande capacidade de atração. Nos centros históricos a implementação dos princípios do design universal no espaço público nem sempre é fácil. O planeamento urbano deve dar especial atenção aos percursos turísticos pedestres; ao mobiliário urbano que conflitua com a circulação pedonal; ao nivelamento de passagens de peões com passeios rampeados e ao piso tátil direcional; a sinais sonoros audíveis; ao número de lugares reservados de estacionamento acessível para pessoas com mobilidade reduzida, que deve ser proporcional à capacidade de acolhimento dos equipamentos (hotéis, restaurantes, centros culturais e de congressos, museus, monumentos, parques temáticos, entre outros); à total ausência destes lugares de estacionamento, à subdotação face às necessidades, às dimensões não raras vezes inadequadas. Estes são apenas alguns exemplos do tanto que há a fazer nas cidades e nos seus centros históricos.

Nas atrações turísticas a prestação de serviços adaptados às características e necessidades do utilizador, à medida, a pedido, com ou sem agendamento, deve generalizar-se. A acessibilidade física ao equipamento e no equipamento é fundamental, mas também aos seus conteúdos. Neste particular o recurso a som, imagem, texto, maquetes, realidade imersiva, realidade aumentada, valoriza a interpretação e a experiência turística.

À escala local, da cidade, importa conhecer a oferta de equipamentos, produtos e serviços de turismo acessível, mapeá-los, comunicá-los e promovê-los. As cidades deviam dispor de guias de turismo acessível. Aplicações móveis com informação sobre o grau e as condições de acessibilidade do espaço público, dos equipamentos orientados para a prestação de serviços com relevo para o turismo e lazer, e sobre programação. Uma estratégia particularmente útil no contexto dos destinos turísticos inteligentes e do turismo acessível para todos. Com informação sobre percursos autónomos, percursos que necessitam de ajuda, tipo de pavimento, inclinação, existência de degraus e de ressaltos, wc adaptado para pessoas com mobilidade reduzida, serviços para cães de assistência, informação sobre idiomas disponíveis nas atrações turísticas, possibilidade ou não de visitas guiadas, modos de apresentação dos conteúdos (tátil, áudio guia, em linguagem gestual), a possibilidade de ser disponibilizado um assistente pessoal, localização e disponibilidade de estacionamento acessível para pessoas com mobilidade reduzida, unidades de alojamento, restaurantes, cafetarias, gelatarias, esplanadas e bares acessíveis, com disponibilização de informação sobre a existência de menus com referência a alergénios e intolerâncias alimentares, são apenas alguns exemplos. A criação de informação digital sobre turismo acessível para as cidades portuguesas, para os seus centros históricos, é absolutamente estratégica no âmbito da gestão dos destinos turísticos.

* Universidade de Coimbra, CEGOT, Departamento de Geografia e Turismo. Artigo publicado originalmente em Intercities – Revista das Cidades Inteligentes.

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