As profissões do futuro

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Trabalho no futuro (imagem divulgada em https://meetingnotes.com).

À medida que a Inteligência Artificial (IA) continua a evoluir a passos largos, é impossível ignorar as profundas transformações que esta revolução tecnológica está a imprimir nas profissões do futuro. Uma mudança de paradigma está em curso, redefinindo não apenas a natureza do trabalho, mas também a forma como concebemos a colaboração entre humanos e máquinas.

Por Henrique Jorge *

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Como criador do Projecto ETER9 (**), vejo a IA não apenas como uma força disruptiva, mas como uma ferramenta poderosa para moldar um futuro mais eficiente, inovador e inclusivo. À medida que avançamos nesse novo mundo, é crucial que cada um de nós contribua para a construção de um ambiente profissional que celebre a interligação entre humanidade e tecnologia, onde o potencial da IA é realizado em benefício de todos.

No Projecto ETER9, dedicado à exploração da interacção entre inteligências artificiais e seres humanos, tenho obtido uma visão privilegiada sobre o potencial transformador da IA. Ao reflectir sobre o futuro das profissões, é evidente que a adaptabilidade e a compreensão profunda das dinâmicas tecnológicas serão cruciais para navegar neste novo cenário.

A automatização generalizada já não é uma “ameaça” distante; é uma realidade que está a moldar o mercado de trabalho. Faz-me lembrar o que mais me agradava na programação nos tempos áureos da informática. As rotinas só se escreviam uma vez, para serem utilizadas muitas vezes; quantas fossem necessárias, em prol da eficácia de execução e rapidez de desenvolvimento. Profissões baseadas em tarefas repetitivas estão a ser gradualmente absorvidas por algoritmos e robôs (***). No entanto, em vez de vermos isso como uma perda de empregos, devemos abraçar a oportunidade de reinventar o trabalho tradicional.

As profissões do futuro serão caracterizadas por uma colaboração simbiótica entre humanos e máquinas. Enquanto a IA assume as tarefas rotineiras, os seres humanos estarão livres para se concentrarem em áreas que requerem criatividade, emoção e pensamento crítico — habilidades inerentemente humanas.

Ao adaptarmo-nos a este novo ambiente laboral, é imperativo que cultivemos competências-chave que se alinhem com as necessidades emergentes. A capacidade de aprendizagem contínua será essencial, pois as tecnologias evoluem rapidamente. A compreensão aprofundada da IA, bem como a capacidade de trabalhar em conjunto com algoritmos, serão vantagens significativas.

Além disso, a criatividade e a resolução de problemas complexos serão competências valorizadas. Enquanto a IA lida com tarefas previsíveis, capazes de serem matematicamente possíveis de executar em fracções de segundo, os humanos serão encarregados de lidar com desafios ambíguos e situações únicas que requerem intuição e discernimento.

Trabalhos repetitivos e previsíveis estão a ser assumidos por máquinas, libertando recursos humanos para tarefas mais criativas e cognitivamente desafiantes. No entanto, isso levanta a seguinte questão:

— Como podemos adaptar-nos e prosperar num cenário em constante mudança?

O mercado de trabalho do futuro exige uma mentalidade de aprendizagem contínua. À medida que as tecnologias evoluem, é imperativo que os profissionais se reinventem e adquiram novas habilidades. A educação formal e informal torna-se uma ferramenta poderosa, proporcionando a flexibilidade necessária para se manter relevante num mundo onde as competências se tornam obsoletas mais rapidamente do que nunca. Um curso superior hoje pouco vale se não for regado com a aprendizagem contínua.

A IA não está aqui para substituir os seres humanos, mas para potenciar as suas capacidades. A colaboração entre humanos e máquinas será uma constante, exigindo uma abordagem interdisciplinar para resolver problemas complexos. As profissões que se centram na gestão, interpretação e aperfeiçoamento de sistemas de IA serão cada vez mais valorizadas.

Num mundo cada vez mais automatizado, as habilidades humanas únicas, como criatividade, empatia e inteligência emocional tornam-se preciosas. As profissões que exigem pensamento crítico, resolução de problemas não padronizados e compreensão emocional, estarão em alta demanda. A capacidade de inovar e pensar fora da caixa será mais valiosa do que nunca.

Com a crescente confiança em algoritmos para tomar decisões importantes, surge a necessidade de profissionais dedicados à ética e governança da IA. Garantir que os sistemas sejam justos, transparentes e alinhados com os valores sociais torna-se uma preocupação crítica. Os especialistas em ética da IA terão um papel fundamental na criação de um futuro onde a tecnologia serve ao bem comum.

O empreendedorismo digital emergirá (já emergiu) como uma força motriz das profissões do futuro. A capacidade de identificar oportunidades, criar soluções inovadoras e adaptar-se rapidamente às mudanças no mercado será fundamental. Aqueles que possuem uma mentalidade empreendedora e estão dispostos a abraçar o risco serão os arquitectos do amanhã.

Com o declínio de algumas profissões tradicionais, novas oportunidades e profissões também emergem. Especialistas em ética da IA, programadores especializados em lidar com sistemas de aprendizagem profunda, designers de experiência de utilizador para interfaces homem-máquina e engenheiros de cibersegurança tornar-se-ão pilares fundamentais da nova era profissional.

A criação e manutenção dos sistemas de IA também se tornarão áreas críticas. Profissões dedicadas à supervisão e garantia de que a Inteligência Artificial opera de maneira ética e segura serão essenciais para mitigar os desafios éticos e sociais associados à sua implementação generalizada.

À medida que delineamos as profissões do futuro, é imperativo acolher a mudança com sabedoria e resiliência. A IA não é uma ameaça, mas sim uma ferramenta poderosa que pode libertar os seres humanos para se dedicarem ao que fazem de melhor. Ao desenvolvermos competências específicas e abraçarmos novas oportunidades, podemos moldar um futuro onde humanos e inteligências artificiais colaboram harmoniosamente, aproveitando o melhor de ambos os mundos. O desafio é grande, mas as oportunidades são igualmente vastas. Estamos a trilhar um caminho emocionante rumo a um novo horizonte profissional, onde a imaginação e a inovação serão os verdadeiros motores do progresso.

Num passado recente, a ideia de máquinas e algoritmos a realizarem tarefas complexas parecia pertencer ao domínio da ficção científica. No entanto, o presente é marcado pela automatização, aprendizagem de máquinas e IA, transformando indústrias e redefinindo assim o panorama profissional.

Não podemos ignorar o facto de que as profissões do amanhã serão radicalmente diferentes das de hoje, e é essencial que estejamos preparados para navegar nesse novo oceano de oportunidades e desafios.

(*) Quando fui convidado para a minha primeira TED Talk em 2017 no TEDx Lugano, o tema era curiosamente sobre as Profissões do Futuro. Seis anos depois, é interessante verificar como as visões daquela época estão agora profundamente integradas no nosso quotidiano. É crucial reconhecer que a maior parte do nosso tempo é dedicado ao trabalho; portanto, é fundamental que seja uma actividade agradável e envolvente, e não o contrário! Agora, mais do que nunca, é essencial agir para moldar um futuro do trabalho melhor.

(**) ETER9 é uma plataforma de rede social que possibilita aos utilizadores criar contrapartes digitais baseadas em algoritmos de IA avançados. Estas contrapartes interagem, aprendem com experiências e tomam decisões em nome dos utilizadores, estendendo a presença digital para além da realidade física. As contrapartes digitais podem partilhar informações, ideias e até mesmo representar os seus utilizadores quando estes não estão disponíveis (mesmo em caso extremo de ausência como a doença ou morte).

Um dos objectivos do Projecto ETER9 é aliviar os humanos de tarefas digitais mundanas, delegando essas responsabilidades às suas contrapartes, enquanto se concentram em actividades mais significativas a nível humano.

(***) Do checo “robota” (trabalho forçado), e adoptado para português como “robô”, é um termo usado para descrever seres artificiais criados para realizar trabalho humano. Foi o escritor checo Karel Capek — por sugestão do seu irmão Joseph — que cunhou essa expressão em 1920, quando escreveu uma peça de teatro. Dependendo se se é pessimista ou optimista, estes seres, agora mais poderosos, poderão destruir ou ajudar a humanidade a evoluir.

* Fundador e CEO da ETER9. Artigo publicado originalmente no site Linktoleaders.

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