
“Estou arrependido agora, mas não enganei ninguém”. Um indivíduo de 47 anos assumiu no Tribunal de Aveiro que aplicou centenas de milhar de euros, de várias pessoas dos seus meios de relacionamento, sem estar devidamente credenciado para tal, usando sub contas associadas à sua conta pessoal, para negociar no mercado financeiro ‘Forex’, embora garanta que os ‘investidores’ eram devidamente esclarecidos sobre os riscos inerentes. “As pessoas foram todas informadas daquele formato, ninguém se opôs. Eu fazia a gestão da minha conta, estavam associadas a mim, o risco também era meu”, referiu.
O arguido, que responde por burla qualificada, ilibou a esposa, formada em economia, também acusada no processo, de qualquer participação direta na atividade desenvolvida numa pequena localidade de um concelho da Bairrada, onde a mulher tem raízes familiares, construindo uma casa moderna “vistosa”, que terá ajudado a criar a ideia de uma ‘de sucesso na vida’.
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), o indivíduo, que teve experiência profissional em empresas especializadas nos mercados financeiros antes de avançar por conta própria, recebeu pelo menos cerca de 900 mil euros dos pretensos investidores. No processo são identificados 16 alegados lesados de uma ‘carteira’ com mais de três dezenas de sub contas.
90% das aplicações terão sido feitas no mercado de capitais, mas também em matérias primas como petróleo. “O dinheiro entrou, investiu-se e foi todo perdido por causa do ‘crash’ da libra esterlina no Brexit”, explicou, referindo-se ao momento em que Reino Unido votou pela saída da União Europeia (junho de 2016), provocando uma das maiores quedas daquela moeda desde os anos 80.
Amigos do futebol e o padre da paróquia entre os lesados
“Também perdi todo o dinheiro que tinha, é muito chato quando isso acontece”, disse o arguido em resposta ao Procurador do Ministério Público, que o questionara como foi possível não antecipar que o resultado do referendo a favor da saída da UE poderia causar um “descalabro”, como sucedeu. Apesar disso, insistiu em “arriscar” num cenário diferente da queda da libra “com o dinheiro dos outros”, notou o magistrado.
As queixas de burla chegaram a tribunal depois de um demorado processo de insolvência do casal arguido em que não houve lugar a qualquer ressarcimento dos alegados lesados, onde figuram pessoas do círculo de amizade, incluindo um vizinho agricultor que perdeu as poupanças, amigos do clube de futebol, onde era treinador, o pároco (a título pessoal), mas também o próprio conselho pastoral e alguns dos seus membros, neste caso aliciados pela possibilidade de terem retorno financeiro para construir um centro paroquial, ou um utente do lar da localidade, entre outros.
50.000 euros seria o mínimo pedido a cada ‘investidor’. Na angariação de dinheiro, segundo a acusação, o arguido usaria cartão de apresentação com dados profissionais inválidos, facultando durante a atividade mapas e gráficos bancários dos fluxos financeiros.
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