A Inflamação de Opiniões e a Verdadeira Sabedoria

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Emissão televisiva.

Em tempos de sobrecarga informativa, muitas vezes irrelevante para o contexto nacional, a televisão tem sido palco de uma proliferação de comentadores que, em vez de trazerem análises baseadas na sua experiência ou conhecimento científico, frequentemente ocupam o espaço com visões que servem mais ideologias partidárias do que esclarecimento público.

Por Diogo Fernandes Sousa *

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Esta tendência, alimentada pela busca de audiências e pelo apelo de figuras politicamente conectadas, levanta questões sobre a integridade e a verdadeira utilidade da opinião que se difunde.

A frase de Winston Churchill – “Nem toda a sabedoria é nova sabedoria” – alerta-nos para a importância da profundidade e da experiência genuína sobre as novidades vãs, lembrando-nos de que as ideias válidas resistem ao tempo e ao teste da aplicação prática.

Na televisão, a opinião de um comentador deveria ter valor pela sua capacidade de informar, educar e promover um debate saudável. Contudo, verifica-se uma tendência crescente para que os espaços de comentário sejam ocupados por figuras mais valorizadas pela sua lealdade partidária do que pela sua perspetiva analítica.

A influência dos interesses partidários em quem se escolhe para comentar os temas não só reduz a diversidade de visões como limita o debate. Os analistas que expressam convicções mais isentas, muitas vezes com formação académica sólida ou experiência profissional relevante, são frequentemente ofuscados por um elenco de comentadores cuja mais-valia reside, essencialmente, no seu alinhamento com determinada força política.

Este fenómeno não seria problemático se não contribuísse para desvirtuar a função do espaço mediático de comentário, transformando-o numa arena de promoção política. O que Churchill nos lembra é que a verdadeira sabedoria, aquela que se mantém ao longo do tempo, é a que resiste ao ruído das circunstâncias passageiras e é orientada pelo discernimento e pela experiência.

Hoje, uma análise sensata e crítica dos factos é constantemente ofuscada por opiniões desprovidas de substância exterior aos interesses partidários. Para a democracia, esta distorção é prejudicial pois o público fica exposto a opiniões enviesadas que, longe de ajudarem a formar uma visão abrangente e equilibrada, o induzem a um entendimento truncado da realidade.

A grande proliferação de comentadores leva a outro problema: a perda do respeito pelo verdadeiro valor da opinião fundamentada. A banalização do comentário destrói, aos poucos, a confiança do público, que percebe, por entre o ruído, que os méritos profissionais de muitos desses comentadores não justificam a presença constante nos meios. Este excesso cria uma indiferença, um distanciamento entre os telespectadores e o espaço mediático, afetando a qualidade da análise e obscurecendo a voz daqueles que realmente poderiam trazer ao debate uma sabedoria autêntica.

Mais do que novos rostos e opiniões fugazes, a televisão precisa de dar voz a comentadores que, baseados na experiência e no conhecimento profundo dos temas que abordam, possam trazer uma visão crítica, descomprometida e, sobretudo, construtiva.

A democracia fortalece-se não só com a diversidade de opiniões, mas também com a qualidade e a integridade da análise. Se a opinião pública é moldada por vozes que carecem de mérito e apenas seguem linhas partidárias, perde-se a oportunidade de se promover um entendimento esclarecido e uma cidadania informada.

Se queremos um espaço público saudável, que valorize a verdadeira sabedoria e fomente o respeito pela opinião, é essencial que os meios de comunicação primem pela qualidade e não pelo alinhamento. Só assim se poderá assegurar que a opinião partilhada se baseie num conhecimento autêntico e numa verdadeira contribuição para a sociedade, ao invés de numa cacofonia que desmerece o espaço mediático e banaliza a opinião.

* Escritor do Livro “Rumo da Nação: Reflexões sobre a Portugalidade”. Professor do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte.

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