A importância de incluir Educação Ambiental no nosso plano curricular

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Créditos de foto: www.pensamentoverde.com

No panorama que vivemos atualmente, as preocupações ambientais estão cada vez mais presentes nos tópicos de conversas dos mais jovens. Contudo, existe um sentimento de impotência por parte dos mesmos que se sentem ignorados pela sociedade. Hoje partilho a minha opinião com base na minha experiência pessoal, como adolescente, que fui, incapacitada de ver mudanças, de estudante universitária de Engenharia do Ambiente, que todos os dias é inundada de informação infeliz, mas acima de tudo como jovem adulta extremamente preocupada com o futuro do planeta.

Eva Ramos *

Nós, jovens, sentimo-nos insatisfeitos com a falta de respostas e de mudança e, por isso, muitas vezes voltamo-nos para o ativismo ou para atividades mais rebeldes por falta de atenção. Mundialmente surgiram movimentos que unem os jovens com um propósito em comum: proteger o planeta para o seu futuro. O ativismo oferece-nos uma forma de nos exprimirmos e de dar voz livremente aos nossos pensamentos.

Contudo, nestes últimos anos de licenciatura tenho-me apercebido, à medida que aprofundo os meus conhecimentos e através de conversas com colegas politicamente ativos, de debates com professores e pontualmente em manifestações com jovens ativistas, que embora a preocupação seja geral existem dois grupos distintos de preocupados. Na faixa etária que compreende o ensino básico e secundário, os adolescentes participam na discussão porque os seus pares também o fazem, e no final do dia são poucos os que de facto agem para atingir a mudança. Já na faixa etária que compreende o ensino superior os jovens que se movem e lutam pela mudança não veem evolução. Nestes dois casos faltam ferramentas para que daqui saiam ferramentas essas que poderiam ser alcançadas nas escolas, através da Educação Ambiental.

No que toca aos adolescentes pré-ensino superior, a Educação Ambiental seria o mecanismo de preparação individual, pois poucos são os jovens que de facto sabem o que podem fazer individualmente. Por exemplo, deparei-me com um grupo de meninas do 11º ano numa greve estudantil que se questionavam sobre um cartaz que dizia que o “Consumismo não é Verde”. De que vale expor os alunos aos problemas se depois não os ensinamos a reciclar, ou a fazerem escolhas de consumo mais conscientes. Passamos anos de estudos a estudar a história do mundo, mas pouco tempo a falarmos do planeta que teremos no futuro se não mudarmos o nosso estilo de vida.

Depois quando chegamos ao ensino superior, os universitários que de facto mantêm as preocupações e agora procuram a informação de forma voluntária não sabem como agir. Uns viram-se para movimentos de ativismo, outros procuram respostas com a ciência na esperança que os governantes ao ver dados deem também importância, outros seguem o exemplo da maior parte dos adultos e colocam os seus interesses acima de tudo e esquecem o bem comum. A verdade é que ninguém nos ensinou a importância que a agenda política tem nas decisões que ditam o futuro do nosso meio, ninguém nos ensinou que a nossa ação individual tem impacto, na realidade ninguém nos preparou para esta crise, que avançou silenciosamente durante décadas e que agora já provoca ruído. Tentamos mudar as mentalidades, da melhor forma possível, mas poucos são os “adultos” que colocam a crise climática em cima da crise económica. Torna-se frustrante para nós, futura sociedade, ver que o planeta onde vamos criar as próximas gerações está em degradação devido a prioridades trocadas dos nossos adultos. Tornamo-nos jovens ativistas, mas será esta a solução? É um facto que quanto mais barulho nós fazemos, mais o esforço para nos silenciarem e nos “fazerem as vontades”, mas a longo prazo serão as nossas pequenas vitórias nas ruas que farão a diferença quando deixar, por exemplo, de existir água potável?

Perante o quadro que se tem formado, a Educação Ambiental tem agora um papel fulcral nas ações e no futuro dos jovens cidadãos do mundo. Educação ambiental não só nos alerta para as problemáticas ambientais, como nos instrui de forma controlada, estruturada e cientificamente correta das formas possíveis para prevenir e remediar esses mesmos problemas. Desenvolve o nosso espírito crítico de forma que tenhamos a capacidade de filtrar, selecionar e a absorver a informação e de facto a arranjar soluções para resolver o que há que resolver.

Costumo dizer que o ser humano só dá a devida importância a um problema quando sofre na pele. Já estamos a sentir as mudanças, na temperatura, nas estações do ano, no preço dos bens, mas ainda não chega para de facto arregaçarmos as mangas e metermos mão à obra. Mas devemos esperar para chegar a esse ponto possivelmente sem retorno, ou devemos investir na educação dos nossos jovens?

Todos nós sabemos que as alterações climáticas são reais, que existe um continente de plástico no oceano, que a biodiversidade está em colapso, mas na realidade, muitos de nós não aprendemos na escola a separar os resíduos, ou qual a importância da redução do consumo de carne, ou, como ter um papel ativo na sociedade. Falta no nosso plano curricular disciplinas que nos preparem para lutar pelo nosso património ambiental. Falta-nos a componente teórica para passarmos à prática. Faltam-nos as ferramentas para metermos mãos à obra. E isso é algo que cabe aos mais velhos mudar.

* Engenheira do Ambiente / Estagiária na ASPEA no projeto “Vamos Cuidar do Planeta” (artigo publicado originalmente no site Essência do Ambiente).

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