Turismo Centro de Portugal.

O turismo pode (e deve) ser um motor de desenvolvimento regional, mas tem de o ser com respeito. Respeito pelas comunidades, pelo ambiente e pela identidade local.

Por Débora Silva *

Quando falamos de turismo em Portugal, os grandes centros urbanos continuam a concentrar a maior parte das atenções. No entanto, é longe dessas metrópoles — em vilas e aldeias muitas vezes esquecidas — que encontramos a verdadeira alma do nosso país. E é aí que o turismo revela o seu lado mais autêntico, mais transformador e mais humano.

Ao longo da última década, através do Prémio Cinco Estrelas Regiões, tive o privilégio de conhecer profundamente várias regiões do nosso território, num contacto direto com as suas populações, tradições e projetos locais. E posso afirmar com confiança: há um país extraordinário, verdadeiramente cinco estrelas, para lá das grandes cidades. Um país feito de pequenos gestos, de experiências genuínas e de uma enorme riqueza cultural.

O turismo fora dos grandes centros não vive de enchentes. Vive de encontros. Uma visita a Idanha-a-Velha, uma conversa com um oleiro em Barcelos, uma caminhada entre os socalcos do Sistelo ou um serão de fado vadio em Serpa ao sabor do vinho e queijo alentejano valem mais do que qualquer fotografia viral. São experiências que nos tocam e nos fazem regressar — muitas vezes não fisicamente, mas com o pensamento e com o coração.

Ao longo deste tempo temos vindo a procurar precisamente isso: valorizar o que é nosso, dar visibilidade ao que merece ser descoberto e reconhecido. Temos premiado não só produtos e marcas, mas também destinos, tradições, roteiros e projetos que ajudam a fixar pessoas, a criar emprego local e a preservar o nosso património imaterial.

Estes territórios, apesar de afastados dos grandes fluxos turísticos, têm investido de forma inteligente na autenticidade como ativo. Apostam no que têm de único, e é isso que os torna irresistíveis.

O turismo pode (e deve) ser um motor de desenvolvimento regional, mas tem de o ser com respeito. Respeito pelas comunidades, pelo ambiente e pela identidade local. O visitante não deve ser um intruso, mas sim um convidado. E o destino, mais do que um cenário, deve ser uma narrativa viva, contada por quem lá vive.

Acredito profundamente que o futuro do turismo em Portugal passa por este equilíbrio. O país não precisa de mais postais ilustrados. Precisa de experiências que se vivam com tempo, com emoção e com verdade. Pequenos momentos que nos marcam — uma prova de queijo de Vinhos em Sabrosa, uma noite num turismo rural, um passeio por Dornes à beira do rio Zêzere.

Cabe-nos a todos continuar a dar palco a estas realidades. Mostrar que o que é pequeno pode ser grande, e que aquilo que não atrai multidões pode, paradoxalmente, criar o maior impacto.

No turismo, como na vida, o que fica connosco não são as multidões — são os momentos. E os momentos verdadeiros continuam a acontecer, todos os dias, fora das grandes cidades.

* Co-fundadora do Prémio Cinco Estrelas. Artigo publicado originalmente em Publituris.pt.

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