
A evolução das cadeias de abastecimento impõe um novo olhar sobre os terminais de carga. Numa era em que a previsibilidade, a eficiência e a sustentabilidade são critérios determinantes para o desempenho das cadeias de abastecimento, os terminais intermodais – em especial os localizados fora de perímetro portuário – assumem um papel estratégico. Estes não devem ser encarados apenas como pontos de transbordo, mas como plataformas logísticas integradas, capazes de adicionar valor real à operação e à competitividade das regiões que servem.
Por Lucas Teixeira *
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A evolução para ecossistemas logísticos intermodais e sincronizados exige mais do que ligações físicas entre modos de transporte. Requer integração funcional, coordenação entre infra-estruturas e serviços, bem como uma visão sistémica do território logístico. Os chamados “dry ports”, ou portos secos, desempenham aqui um papel central: permitem massificar fluxos, reduzir pressões sobre os portos marítimos e potenciar a utilização de modos de transporte mais eficientes e sustentáveis, como a ferrovia.
A transferência modal, frequentemente tratada apenas como um exercício económico de comparação de custos, deve ser analisada como uma decisão estratégica. O modo ferroviário, quando articulado com terminais bem equipados e fiáveis, representa uma alavanca de competitividade e um instrumento de política ambiental. A capacidade de integrar, consolidar e desconsolidar cargas em terminais intermodais é essencial para garantir o equilíbrio operacional e reduzir a dependência excessiva da rodovia.
Em Portugal, os terminais intermodais devem evoluir para verdadeiras plataformas de valor. Quando bem posicionados no hinterland dos principais portos, funcionam como extensões logísticas avançadas e como instrumentos de captação e fidelização de carga.
Por outro lado, a visão do Corredor Atlântico não se pode limitar ao traçado geográfico. É necessário criar corredores logísticos funcionais, com interoperabilidade entre infra-estruturas, regras partilhadas entre operadores e autoridades, e uma clara orientação para o serviço. A Península Ibérica deve assumir-se como um único mercado logístico, sem fronteiras operacionais e uma conectividade transversal que favoreça a sua inserção plena nas cadeias europeias.
É igualmente fundamental repensar os indicadores com que avaliamos o desempenho logístico. Para além do volume movimentado, importa medir a taxa de transferência modal, a redução de quilómetros rodoviários, a fiabilidade dos serviços, o tempo de ciclo e o valor acrescentado por metro quadrado de infra-estrutura logística. Só com métricas ajustadas à nova realidade conseguiremos tomar decisões sustentadas e direccionar os investimentos com rigor.
O futuro da logística na Península Ibérica passa por uma nova geração de terminais logísticos: inteligentes, especializados, interoperáveis e integrados nos fluxos europeus. É nas plataformas logísticas intermodais “interiores” que reside uma parte decisiva da solução para aumentar a competitividade, promover a coesão territorial e assegurar a transição para um modelo logístico mais sustentável.
* Artigo publicado originalmente no site Transportes & Negócios.
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