
A União Europeia anunciou recentemente o programa “Choose Europe” para facilitar às alianças universitárias europeias o lançamento de programas de acolhimento capazes de atrair investigadores dos Estados Unidos.
Por Paulo Jorge Ferreira *
O momento é oportuno. Segundo um inquérito conduzido pela “Nature”, uma das principais revistas científicas mundiais, três em cada quatro dos cientistas norte-americanos ponderam emigrar. Um outro estudo, divulgado pelo “The Economist”, que inquiriu 150 mil graduados de 135 países, revela que Portugal é o 12.° país mais desejado por quem quer sair dos EUA.
O lançamento, no contexto do “Choose Europe”, de um programa de atração específico para o nosso país, “Choose Portugal”, surge assim como uma ideia natural. Mas para que tal programa possa fazer sentido, é preciso que não venha agravar as fragilidades do sistema científico e de ensino superior português, no que respeita ao financiamento e às carreiras. Não podemos tornar o país mais atrativo a investigadores baseados nos EUA e menos atrativo a investigadores radicados em Portugal.
O “Choose Europe” representa uma oportunidade porque permite encontrar financiamento adicional, sem comprometer os recursos já destinados ao sistema científico e de ensino superior, para melhorar a nossa atratividade internacional.
É importante notar que o programa não tem de se limitar a investigadores baseados nos EUA. A menor atratividade dos EUA pode induzir cientistas localizados noutros países, que normalmente encarariam os EUA como o destino preferencial, a considerar alternativas. Entre estes cientistas há certamente portugueses, que poderão considerar regressar a Portugal.
Temos uma oportunidade de inverter a perda de talento com que nos temos confrontado, mas não basta reforçar os programas de financiamento. Há dificuldades adicionais que precisamos de ultrapassar.
Sabemos que os tempos de espera para obter os vistos necessários para investigar em Portugal variam muito, de país para país, e até entre postos consulares. As universidades já sentem este problema há muito, com os estudantes internacionais. Para nos podermos afirmar como destino atrativo para talento internacional precisamos de mais do que condições de acolhimento favoráveis: precisamos de processos ágeis e de vencer a burocracia.
Vale a pena pensar nisso.
* Reitor da Universidade de Aveiro. Artigo publicado no Jornal de Notícias e no site UA.pt.
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