Recuperação dos solos – Um apelo no Dia da Terra

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Plantação.

Um solo saudável deve ser aproveitado como sumidouro de carbono para proteger contra o aquecimento de 2ºC. Peritos portugueses e de todo o mundo assinalam o Dia da Terra (22 de abril) juntando-se ao movimento Save Soil num apelo à recuperação e proteção da matéria orgânica do solo nacional, em resposta às crescentes preocupações com a segurança alimentar de Portugal e com o aumento das temperaturas.

Por José Franco *

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“Um solo saudável, tem uma grande capacidade de retenção de água, através da captação da humidade atmosférica e da água da chuva. Foi possível comprovar cientificamente que um solo com um bom teor em matéria orgânica, apresenta uma maior resiliência às secas. Uma boa gestão do solo, com base nos princípios da conservação, são um bom instrumento de mitigação da mudança climática.”- A matéria orgânica do solo é a parte orgânica “viva” do solo e pode ser restaurada através de resíduos vegetais ou animais. Um baixo nível de matéria orgânica resulta num baixo rendimento das culturas e num menor potencial de sequestro de carbono dos solos. Nos últimos 10 meses, Portugal registou temperaturas recorde e as recentes conclusões do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas da UE revelam que o mundo já está a ultrapassar o limite de 1,5 graus de aquecimento” – Prof. Maria José Roxo (Assessor at UNCCD and Researching Professor of Geography at NOVA-FCSH, Lisbon).

Uma análise recente efectuada pelo movimento Save Soil mostra que um solo agrícola saudável pode sequestrar 27% das emissões necessárias para manter o aquecimento global abaixo dos 2 graus. Em notícias relacionadas, no dia 10 de abril, o Parlamento Europeu adoptou a sua posição sobre a proposta da Comissão de uma Lei de Monitorização do Solo, o primeiro ato legislativo da UE dedicado aos solos, com o objetivo geral de ter solos saudáveis até 2050. Este facto foi saudado pelo movimento Save Soil como “maravilhoso em termos de intenção e consenso”.

Uma vez que o solo é o maior sumidouro de carbono terrestre do planeta, a nova lei europeia do solo é um passo extremamente bem-vindo. Um solo saudável dar-nos-á uma oportunidade de lutar para evitar que o aquecimento global atinja os 2ºC e inverter os resultados do aquecimento a que estamos a assistir atualmente. Estamos a apelar a uma maior atenção política à matéria orgânica do solo em Portugal para ajudar a concretizar este objetivo” – Praveena Sridhar, CTO do movimento Save Soil, apoiado pelo PNUA, pela CNUCD e pelo PAM

Em resposta às recentes conclusões do Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas da UE (que revelam que o mundo já está a violar o limite de 1,5 graus de aquecimento), os peritos apelam a uma mudança crítica na atitude mundial em relação à saúde do solo. A linguagem associada à saúde do solo deve afastar-se da “adaptação”; em vez disso, devemos tratar o solo como uma ferramenta de “mitigação” das alterações climáticas, permitindo o acesso a um financiamento significativamente maior.

Os sistemas alimentares são responsáveis por 1/3 das emissões globais de gases com efeito de estufa. Os peritos concordam que uma transição global para a agricultura regenerativa não só atenuaria este impacto, como também poderia sequestrar cerca de 27% das emissões necessárias para manter o aquecimento da temperatura global abaixo dos 2 graus. Com a agricultura regenerativa, os solos que emitem carbono tornam-se agora esponjas de carbono, fazendo com que as terras agrícolas não sejam neutras em termos de carbono, mas sim negativas.

Não se trata apenas de uma questão de perceção e semântica – é fundamentalmente uma questão de investimento. A disparidade no rácio de atribuição de fundos entre adaptação e mitigação é enorme – aproximadamente 1:10 (por exemplo, 46 mil milhões de dólares – 571 mil milhões de dólares em 2019-2020). Para fazer a transição para práticas regenerativas (culturas de cobertura, rotação de culturas, práticas de plantio direto), os agricultores precisam de apoio financeiro. Este rácio não se alterou drasticamente desde então e está longe da paridade visada pelo Acordo de Paris. Nem o “solo” nem a “agricultura” foram referenciados como estratégias de mitigação no Relatório de Avaliação Global da COP28, sendo que o “solo” não foi mencionado de todo.

Falando à Save Soil na COP28, o Diretor do Gabinete de Coordenação da Iniciativa Global Terra do G20 da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, Dr. Muralee
Thummarukuddy, afirmou: “A terra e o solo são uma solução importante contra as alterações climáticas, particularmente no sequestro de carbono, juntamente com a redução da poluição e a restauração da biodiversidade. É necessária uma atenção muito maior. Como podemos ver nesta análise, existe aqui um enorme potencial para evitar o aumento das temperaturas globais para 2 graus”.

* Voluntário Save Soil para Conscious Planet – https://consciousplanet.org/en. Save Soil é um movimento global de pessoas apoiado pela UNCCD, UNEP, UNFAO, IUCN e Programa Alimentar Mundial, entre outros, que apoia os governos no estabelecimento de políticas de saúde do solo.

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