Ensino.

A inteligência artificial veio para ficar. Perante o seu crescente uso nas escolas, o projeto GAI-SciTeach procura compreender como esta pode ser utilizada de forma pedagógica, ética e consciente.

Por Juliana Monteiro e Margarida M. Marques *

A inteligência artificial generativa (IAG) faz parte do nosso dia-a-dia. Segundo a UNESCO, a IAG é uma tecnologia que:

1) é treinada a partir de grandes quantidades de dados de páginas Web, redes sociais, livros, etc.;

2) analisa estatisticamente distribuições de palavras, pixels, etc., nos dados usados para a treinar, identificando padrões comuns e repetindo-os para gerar conteúdo novo;

3) cria automaticamente novos conteúdos, como textos, imagens e músicas, a partir de prompts (pedidos) escritos por humanos em interfaces de conversação em linguagem natural.

Esta é a base de ferramentas populares como o Gemini e ChatGPT.

Perante o crescente uso da IAG nas escolas, o projeto GAI-SciTeach procura compreender como esta pode ser utilizada de forma pedagógica, ética e consciente, em particular na educação em Ciências. Neste texto, apresentamos as ideias emergentes de uma análise de estudos científicos em curso no projeto.

Na educação, a IAG abre muitas possibilidades, mas também levanta sérias preocupações, como o plágio, a dependência excessiva, a erosão do pensamento crítico, os erros factuais e os preconceitos perpetuados. Além disso, surgem questões legais, como a proteção de dados pessoais e os direitos de autor, que reforçam a necessidade de uma reflexão ética estruturada.

Neste contexto, para que a IAG seja uma mais-valia para o ensino e aprendizagem, são necessárias orientações para o seu uso responsável. Vários possíveis caminhos são apontados, como a valorização do papel do professor, reconhecendo que a IAG não deverá substituí-lo no papel de mediador essencial no processo de aprendizagem. Assim, a formação de professores torna-se crucial, sendo importante desenvolver programas de capacitação que incluam componentes pedagógicas, técnicas e éticas. Outro caminho apontado é a promoção da literacia em IAG, não só em docentes, mas também em estudantes, de modo a que se capacitem para reconhecer e compreender estas tecnologias, assim como avaliar, criar e agir eticamente. Finalmente, destaca-se ainda a necessidade de desenvolver quadros que orientem a utilização da IAG na educação, de forma a garantir a transparência, a proteção de direitos e a coerência com padrões pedagógicos.

Em síntese, os caminhos para o uso responsável da IAG na educação passam por uma abordagem integrada, que ultrapassa o domínio técnico para incluir as dimensões pedagógicas e éticas. Acresce ainda um aspeto da IAG, transversal a todas as áreas de utilização, o seu impacto ambiental da IAG, em particular o elevado consumo de energia, a extração de metais para os seus componentes eletrónicos e os resíduos produzidos devido à atualização de equipamentos e servidores. Assim, uma utilização responsável da IAG deve também considerar a dimensão ambiental, promovendo escolhas informadas e sustentáveis. Ao integrar estas diferentes dimensões, a IAG pode contribuir para a formação cidadã e científica, promovendo uma educação mais justa, crítica e comprometida com a sustentabilidade.

* Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.

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