Preparar o futuro

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PEC, Águeda.

Os números mostram que em menos de 10 anos, Águeda perdeu cerca de 1.700 habitantes. Mas se olharmos apenas à população em idade ativa, no mesmo período, a perda ultrapassa os 2.400 munícipes. É o equivalente a 9 grandes empresas, ou a mais de 600 famílias.

Por Samuel Vilela *

Águeda, em linha com a maioria dos municípios portugueses, tem vindo a perder população ao longo dos últimos anos. É um fenómeno que todos estamos habituados a aceitar, com naturalidade, como uma espécie de inevitabilidade sem alternativa.

No entanto, além de fazer parte do “clube de concelhos que perdem população”, Águeda também faz parte do clube daqueles que não têm uma estratégia verdadeiramente pensada para combater essa realidade.

Muitos poderão dizer que iniciativas como o Parque Empresarial do Casarão, a Incubadora de Empresas, ou mesmo a “atmosfera” turística, artística e cultural que habitualmente caracteriza o período de verão, contribuem para a criação de emprego e para a atração de população. É verdade. Estes e outros exemplos farão parte dessa estratégia.

Porém, existe uma outra dimensão, complementar, que Águeda e um número significativo de municípios esquecem: fixar aqueles que já cá vivem – os jovens que aqui nasceram e/ou cresceram, aqueles que foram estudar para as grandes cidades, os trabalhadores que vivem em municípios vizinhos, mas vêm todos os dias trabalhar a Águeda, ou as famílias que se mudaram para cá, por motivos de trabalho, mas que não criaram laços.

Os números mostram que em menos de 10 anos, Águeda perdeu cerca de 1.700 habitantes. Mas se olharmos apenas à população em idade ativa, no mesmo período, a perda ultrapassa os 2.400 munícipes. É o equivalente a 9 grandes empresas, ou a mais de 600 famílias.

Este é um tópico importante. No momento em que nos encontramos, no início de uma crise económica sem precedentes, a contração generalizada do investimento e do consumo ou, em concreto, as falências e o desemprego, vão reduzir oportunidades e fomentar migrações.

Se no imediato é preciso um Fundo de Emergência Municipal que acuda às empresas e contribua para a salvação de postos de trabalho, para garantir o futuro é preciso tirar da gaveta o programa de apoio ao arrendamento jovem que nunca foi operacionalizado, investir numa regeneração urbana diferente, com mais espaços verdes e onde o foco esteja na sustentabilidade ou desenvolver um sistema de mobilidade ecológico e integrado, que permita às pessoas circularem não apenas no espaço urbano, mas também na globalidade do concelho.

Não faltam casas e apartamentos à espera de serem habitados, temos espaços verdes dentro da própria cidade, como o Parque de Alta Vila, um rio e praias fluviais, ou espaços naturais maravilhosos como a Pateira. A linha do Vouga, como tem sido falado, tem a potencialidade de se transformar num verdadeiro metro de superfície, servindo Águeda e os municípios vizinhos. E, em pleno século XXI, não faltam soluções para transportes coletivos rodoviários elétricos, ou movidos a gás natural.

O investimento que virá da Europa, a fundo perdido ou por empréstimo, servirá para modernizar o país para os desafios do futuro, com a sustentabilidade e a digitalização como critério principal. Será que, finalmente, estaremos preparados para investir diretamente no bem-estar das pessoas?

* Assistente Parlamentar e Auditor de Qualidade. Artigo partilhado pelo Facebook do PSD de Águeda.

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