Por que razão a política não entra na escola?

2003
Ensino secundário.

Chegamos hoje a um Portugal onde não se estimula a política nas escolas e onde se marginalizam os poucos jovens que ainda se interessam pelos destinos do seu país e querem dar, voluntária e desinteressadamente, o seu tempo ao partido ou juventude partidária que defende os seus valores

Por Marco Dias Carvalho *

Desde que me lembro, trazer a política para dentro da escola é uma dor de cabeça. Não é um tema aparentemente “sexy”, muitos diretores manifestam desconforto em lidar com debates de ideias e, juntamente com outras vicissitudes, assim se matou a esperança do amadurecimento da democracia portuguesa.

Aliás, eu fui testemunha da maneira como as escolas tratam, neste caso, as juventudes partidárias, enquanto presidente concelhio da Juventude Popular em Anadia. A proposta era simples: contactei todas as escolas do município com ensino secundário, públicas e privadas, para ministrar uma pequena palestra aos alunos sobre o funcionamento da democracia portuguesa. A intenção era ser até apartidária, não queríamos transformar aquele momento num comício, mas sim numa oportunidade dos jovens perto da idade de votar poderem estar mais informados em como votar, para que serve o seu voto e de que maneira isso se traduz em cada órgão político. Escusado será dizer que o meu contacto foi “olimpicamente” ignorado, sendo que apenas uma escola dignamente me respondeu, apenas para declinar, no entanto.

Fiquei muito frustrado, não por mim, não pelas escolas, mas por todos aqueles jovens a quem continuamente lhes é negado uma efetiva formação política no âmbito escolar.

Este conformismo, esta tentativa de evitar confrontos políticos dentro da escola teve, tem e terá efeitos nefastos para a nossa democracia, a começar pela preocupante abstenção que metade do país aplica a cada ato eleitoral. Depois, o evidente “analfabetismo” político que se denota na maioria dos nossos jovens em idade de votar. Muitos por desinteresse, outros porque até gostavam de perceber mais, mas não dão o próximo passo para entrarem esfera da política.

E não dão porquê? É fácil responder: a reboque de um certo populismo parvo e de algumas más experiências, ridiculizaram-se as juventudes partidárias. Desde o “só querem é tacho” ao “só servem para abanar bandeiras”, assim se perpetuou uma caça e matança aos partidos e às suas juventudes. Foi apenas mais um prego no caixão.

Chegamos hoje a um Portugal onde não se estimula a política nas escolas e onde se marginalizam os poucos jovens que ainda se interessam pelos destinos do seu país e querem dar, voluntaria e desinteressadamente, o seu tempo ao partido ou juventude partidária que defende os seus valores.

Quando vamos acabar com isto? Até quando é preciso esperar para percebermos que não estamos a criar cidadãos capazes de entender o funcionamento do sistema que governa todos os aspetos da sua vida? Quando é que vamos entender que não existe democracia sem partidos? Ninguém se preocupa com isso?

Porém, há sempre alguém que resiste. As juventudes partidárias – esses demónios – continuam a fazer o seu combate político, a abraçar todos os que querem contribuir para melhorar a sua comunidade, a prestar ajuda solidária às necessidades sociais identificadas, a fazer voluntariado por causas valorosas e a habilitar os seus jovens a serem cidadãos mais conscientes e informados para o resto da sua vida.

Isso já não importa falar, mas aqui estou e escrevo estas palavras por todos eles. Não desistam.

* Presidente da JP Distrital de Aveiro.

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