“O Carnaval de Ovar: A vitamina da Alegria” em livro

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"O Carnaval de Ovar: A vitamina da Alegria".

As primeiras notícias de que há conhecimento sobre o carnaval em Ovar, relativas ao final do século XIX (1878), indicam a existência de um Carnaval de rua, protagonizado por alguns mascarados, e que era satírico e sujo, com recurso a seringas e jatos de água malcheirosa, e até a laranjas que eram atiradas pelos intervenientes.

Jorge Almeida e Pinho Guilherme Terra *

Esta obra retrata a história e evolução do Carnaval de Ovar desde os seus primórdios até à atualidade. Dos primeiros anos, passando pelos bailes nos salões e pelo Carnaval “Sujo” nas ruas, passou-se a um evento organizado em 1952. Os carros alegóricos, os grupos, os Reis do Carnaval, as personagens, a participação popular e as inúmeras peripécias que o compõem, fazem de O Carnaval de Ovar um quadro completo e atualizado deste símbolo e maior festa de Ovar.

Ao longo de 368 páginas, em que a história e os factos são conjugados com mais de 500 fotografias ilustrativas, muitas são as informações, histórias, curiosidades e peripécias relatadas sobre o Carnaval de Ovar.
Sob a forma de caixas isoladas, ou em sequências de apresentação, como sucede com os destaques para os Grupos do Carnaval, os mais importantes coletivos que já participaram no Carnaval em Ovar, o perfil dos foliões, ou até as figuras dos Reis de Carnaval, descrevem-se os eventos e os factos mais relevantes relativos a esta festividade. No final do livro surge ainda uma completa sequência de dados, com as classificações alcançadas desde 1952 pelos diferentes grupos, participantes nas piadas ou até carros alegóricos de antigamente.

As primeiras notícias de que há conhecimento sobre o carnaval em Ovar, relativas ao final do século XIX (1878), indicam a existência de um Carnaval de rua, protagonizado por alguns mascarados, e que era satírico e sujo, com recurso a seringas e jatos de água malcheirosa, e até a laranjas que eram atiradas pelos intervenientes. Mas também se refere que havia um Carnaval mais civilizado e que decorria nos bailes particulares, em especial no Club Artístico Commercial e, no final do século, nos grandiosos bailes do Salão Picoto, propriedade de Silva Cerveira.

A partir de 1900 Entre 1900 e 1945 o carnaval continuaria a ser vivido nas ruas de formas diversas, com cegadas, contradanças, carros e flores, e ainda, e sempre, nos bailes dos salões. Todavia, a grande novidade na primeira década do século XX dá-se com a chegada do carnaval ao teatro, tendo-se registado tal pela primeira vez em 1904. Nessa ocasião, representou-se e festejou-se com serpentinas e confetti, tanto em palco como na plateia.

Depois do final da Segunda Guerra Mundial e até 1951 os festejos de Carnaval regressaram às ruas de Ovar e este final de década seria de grande folia carnavalesca. Os folguedos desenvolveram-se em crescendo, como que em preparação para uma grande mudança.

1952 1952 seria um ano extremamente marcante para o Carnaval de Ovar porque a folia nos cortejos carnavalescos começou a passar pelo crivo de uma Comissão Promotora que coordenava e avalizava os projetos apresentados pelos diversos bairros da vila. A história do primeiro desfile foi um sucesso, ainda que o evento tenha sido preparado em apenas 20 dias.

Mobilizados para o projeto, José Alves Torres Pereira, Aníbal Emanuel da Costa Rebelo e José Maria Fernandes da Graça incentivaram os jovens dos bairros de Ovar, a Câmara Municipal, a Junta de Turismo e o jornal “Notícias de Ovar” (onde eram colaboradores ativos) a pôr de pé o Carnaval organizado, que seria de grande festa para os vareiros, mas também para os forasteiros.

Angariados os apoios necessários, rapidamente a Comissão organizou e estipulou condições para a participação dos carros alegóricos no desfile. Havia a recomendação de que apenas seria permitido “o arremesso de flores, serpentinas e confeti” no cortejo carnavalesco e que era apresentada depois um extenso editorial que elogiava o “bairrismo em Ovar”, com as inúmeras participações dos bairros vareiros no Carnaval. O cortejo do desfile teria 8 carros alegóricos e um carro publicitário e saiu do Largo de S. Miguel às 14 horas exatas de domingo, de 24 de fevereiro de 1952, recolhendo no final ao Parque de Alexandre Sá Pinto, onde dispersaria. O rei do Carnaval nesse ano foi António Lírio Ramos, inaugurando a tradição dos reis vareiros, que se manteria até aos dias de hoje.

Carnaval “Sujo” O Carnaval “sujo” ou “porco” define-se como um carnaval popular anterior ao carnaval organizado e terá existido entre 1950 e 1956, e, mais tarde, entre 1963 e 1964. À terçafeira, depois do lançamento de um morteiro, iniciava-se este Carnaval, em que muitos participantes atiravam sobre os espectadores casca de arroz, serradura, farinha e outros produtos no centro de Ovar, em redor do Chafariz do Neptuno, numa espécie de continuação do antigo Carnaval. Apesar de uma coexistência pacífica e que até era defendida pelos organizadores iniciais do carnaval organizado, que desejavam promover o Carnaval “sujo” apenas à terça-feira, este rapidamente se extinguiu por causa dos exageros praticados e pelos estragos provocados no jardim do Largo Soares Pinto.

Depois de 1952 Depois do arranque organizado, o Carnaval de Ovar não mais parou de crescer e conquistar fama.

Nos primeiros anos (1953-59) o desfile carnavalesco seria constituído pelos Carros Alegóricos, pelas “Charges” (piadas), por conjuntos de Mascarados e, um pouco mais tarde, pela chegada do primeiro “grupo apeado”.

Durante a década de 1960, seria de forma lenta, mas constante, que os Grupos a pé foram crescendo de dimensão e importância, ultrapassando até o número de carros alegóricos.

Durante o período do Estado Novo a censura era extremamente ativa, ainda que em Ovar fossem permitidos alguns “excessos”. O clima de opressão não desencorajava o atrevimento dos vareiros, com muitas piadas brejeiras, mas também com diversas “farpas” de teor político local e até nacional. Contudo, e tanto quanto se pode perceber, havia uma espécie de acordo secreto para que pudessem ser aprovadas, com alguma permissividade, as piadas carnavalescas.

O clima revolucionário viria a afetar o Carnaval de Ovar, que não teve desfile em 1975 e sofreria com as várias “tricas” políticas. Perto do carnaval de 1976 surgiu uma solução de recurso para não interromper por mais de um ano a sua realização, decorrendo um desfile que seria uma retrospetiva de anos passados.

A década de 1980 traria grandes alterações e inovações ao Carnaval de Ovar, pois confirmou-se o fim anunciado dos carros alegóricos e respetivo desfile. Além disso, assistiu-se ao nascimento do Carnaval Infantil (1982) e à chegada da primeira Escola de samba, a “Costa de Prata” em 1984.

Entretanto, a evolução e empenho dos grupos carnavalescos produz diversas maquetes inovadoras e que influenciariam o carnaval durante muitos anos, como foi o exemplo de os “Caracolitos Foliões”, dos Pinguins. Era o tempo de surgirem fantasias que exibiam um cunho mais artístico e de maior trabalho de conceção, não se limitando ao trabalho de costureira a que se juntavam alguns adereços.

A partir de 1991, a diferenciação entre os objetivos de cada conjunto de grupos e da sua forma de participação leva-os a serem classificados em três categorias distintas: Carnavalesco, Passerelle e Escolas de Samba.
Em 1992 surgiram “As Joanas do Arco da Velha” – um grupo feminino de jovens que logo no primeiro desfile obtiveram o 1º lugar. Apresentavam fatos bem confecionados e desfilavam seguindo uma coreografia cuidadosamente preparada. Seria um dos grupos que marcaria a categoria de Passerelle, conquistando cinco vitórias até ao final da década.

Nas Escolas de Samba a Charanguinha com a alegoria de “Palhaço” surpreendeu com um fato simples, mais carnavalesco e multicolorido, mas que contrariava muitas das “regras” seguidas pelas outras Escolas de Samba, como a utilização exclusiva de uma cor base ou de um tipo de fantasia mais abrasileirado, imprimindo um cunho muito peculiar ao Carnaval de Ovar, que tem sido seguido pela maioria das Escolas de Samba desde então e que as leva a não enveredarem por fantasias ao jeito do que se faz no Brasil.
Já no século XXI, a Fundação do Carnaval viria a propor novas soluções para o percurso do desfile: entre a Avenida Sá Carneiro e o Centro, em 2000; entre a Avenida Sá Carneiro e a Rua de Timor, em 2002; e, por fim e em exclusivo, a Avenida Sá Carneiro, a partir de 2012.

A Noite Mágica de segunda-feira continuou a crescer e a aumentar de dimensão, pelo que a partir de 2000 viria a integrar o programa oficial.

Em 2013 festejou-se a inauguração da Aldeia do Carnaval, que substituiu os espaços degradados das sedes espalhadas por locais diversos no centro de Ovar. O espaço da Aldeia de Carnaval recebeu as sedes dos vinte grupos de Carnaval e das quatro Escolas de Samba. Assim ultrapassaram-se as condicionantes de manutenção das sedes dos grupos no centro de Ovar, com as dificuldades provocadas pelo ruído produzido e pela animação no espaço público. Esta mudança permitiu ainda solucionar os problemas de uso de alguns materiais, das dimensões das maquetes e dos carros, que há muito exigiam novas soluções.

Surgiriam entretanto novas iniciativas, como o Baile de Máscaras, a Caminhada Noturna e o desfile da “Farrapada”, que prolongam e incentivam a inovação e proporcionam aos foliões de Ovar, e não só, momentos de grande diversão e animação, na que é a maior festa e símbolo de Ovar.

Na secção final do livro são identificados todos os reis e rainhas vareiros que, ao longo dos anos participaram nesta festa, assim como as classificações dos diferentes grupos, piadas e carros alegóricos desde 1952 até 2018. É de realçar ainda que o livro contém mais de 500 fotografias relativas ao evento vareiro, nas suas diversas vertentes, retratando os momentos e as personagens mais relevantes de cada época.

(…) Este O Carnaval de Ovar procura ser, acima de tudo, a história de uma viagem que em si mesma transportará o viajante, reunindo viagem e viajante numa fusão entre o que se vê e o que é visto, num encontro por vezes confluente de objetividades e muitas subjetividades. Portanto, o choque, a surpresa, a descoberta, o conhecimento, a confirmação e o inesperado misturar-se-ão. O viajante habitual, conhecedor de Ovar, encontrar-se-á por aqui e reconhecerá vivências, mas é certo que verá também inusitadas paragens. O viajante ocasional, mais desligado da realidade ovarense, deparar-se-á com o potencial da fruição e da revelação inovadoras. Eis o que este livro quis ser e julga ter conseguido. Por isso, prossigam leitores nas vossas viagens de conhecimento do Carnaval de Ovar. Não esperem facilidades, nem se deixem enganar pelas curvas da estrada. Sigam em frente, voltem atrás, olhem para o lado. Deixem-se encantar ou perseverem até descobrirem e conhecerem novos atalhos para o que pretendem saber. Não encontrarão melhor forma de fazer esta viagem e, se vos pudermos pedir algo, registem o que descortinaram e sentiram, o que disseram e o que ouviram dizer, e dêem-nos conta disso mesmo. Fiquem sabendo que a vossa forma de ver este nosso mundo tem muitas e variadas pulsões. Entreguem-se a elas livremente e desfrutem sempre da paisagem. Esperamos que, no final, sejam reveladores e venturosos os momentos que lhes proporcionámos com esta centelha!

* Autores do livro “O Carnaval de Ovar: A vitamina da Alegria”

Jorge Almeida e Pinho
Nascido em Ovar, em 1966, é Doutorado em Estudos Anglo-Americanos – Tradução, Professor Adjunto Convidado na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto e Professor Auxiliar Convidado na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É ainda tradutor e autor de obras dedicadas à área dos Estudos de Tradução, nomeadamente O Escritor Invisível (QuidNovi 2006) e A Tradução para Edição (u. Porto Edições, 2014).

Guilherme Terra
Nascido em Ovar, em 1964, é Editor de Imagem na RTP, foi diretor do Ovarvídeo (Festival de Vídeo de Ovar) e entre 2006 e 2011 realizou diversos documentários em vídeo sobre a história do Carnaval de Ovar, sendo ainda o responsável pela página do Facebook “ovarmemorias”.

Edição: Câmara Municipal de Ovar

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