Florestas rápidas, um conceito inovador

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Trabalhos florestais (Foto Urbem.pt).

As mudanças climáticas fazem-nos sentir impotentes. Mas se unirmos esforços podemos fazer a diferença. A URBEM, organização não governamental com missão ambientalista, implementou em Portugal o conceito de Florestas Rápidas, em que o coletivo de voluntários é a peça-chave.

Por Diana Lima *

Calor, ausência de chuva, temperaturas cada vez mais elevadas… é o que nos espera nos meses mais quentes; a vida na cidade está a tornar-se insuportável. Já não é segredo que o clima está a mudar. Perante isto sentimo-nos impotentes, pensamos: “Será que há algo que eu possa fazer?”, “Sozinho não posso mudar nada. Sozinho é impossível inverter esta tendência”.

Se desistirmos, nada vai mudar. Ter iniciativa e dar um passo em frente para ajudar o planeta é o rumo certo. Cada pequeno gesto conta e o nosso empenho individual é a chave de tudo. E se unirmos esforços o impacto será determinante.

Quando, em meados de 2021, uma amiga me falou da URBEM e do projeto no Parque da Bela Vista fiquei muito empolgada por poder ajudar. Finalmente tinha encontrado um grupo de pessoas que, tal como eu, querem fazer a diferença.

A URBEM é uma ONG com missão ambientalista, fundada em Portugal, no início de 2021, por Sasi Kandasamy. O seu objetivo é lutar contra a crise climática através da criação de Florestas Rápidas. O método que aplica é baseado no trabalho do botânico japonês Akira Miyawaki e é inovador pois permite obter florestas naturais em pouco tempo e em espaços relativamente pequenos, como é o caso dos parques urbanos. Por isso o termo Florestas Rápidas.

Um dos lemas da URBEM é: “A melhor altura para plantar uma árvore foi há vinte anos atrás. A segunda melhor altura é agora”.

Para combater as elevadas temperaturas que afetam os centros urbanos precisamos de mais espaços verdes e mais árvores, mas estamos numa corrida contra o tempo. É aqui que o método Miyawaki se torna fundamental, pois permite criar miniflorestas, propositadamente concebidas e biodiversificadas, que atingem a autossustentabilidade em apenas três anos. Para além de crescerem mais rapidamente, estas florestas rápidas absorvem 265% mais carbono do que os métodos tradicionais de reflorestação.

Há uma segunda e importante parte da missão da URBEM: reconectar os habitantes da cidade com a natureza, algo que se foi perdendo com o passar do tempo. Para garantir que as pessoas voltem aos espaços verdes e que os utilizem e valorizem também como polos de ligação social, as miniflorestas da URBEM estão rodeadas de caminhos e incluem zonas de convívio. Estas zonas têm o potencial de funcionar como polos comunitários e acolher variados eventos, entre os quais a educação ecológica.

O coletivo de voluntários do qual faço parte inclui biólogos, engenheiros florestais, mas também muitos, muitos outros, não necessariamente especialistas, que continuam a doar o seu tempo e juntar esforços para que as Florestas Rápidas no Parque da Bela Vista se tornem uma realidade. Desde a projetação cuidada, adequada à parcela e ao clima, até à plantação e, por fim, o acompanhamento, com vista a criar um resultado sustentável com benefícios a longo prazo não só para o ambiente, mas também para as pessoas.

As florestas dão vida: além de purificarem o ar trocando CO2 por oxigénio, oferecem sombra e sustentam milhares de outras plantas, o que faz delas um trunfo importante na luta por temperaturas mais baixas. E ainda fornecem habitats para inúmeras espécies locais!

A primeira das Florestas Rápidas da URBEM surgiu no início de 2022 num terreno no Parque da Bela Vista cedido pela Câmara Municipal de Lisboa (CML). Neste projeto, a área plantada foi de 300 m2. Após o período de planificação, deu-se início à plantação, a qual decorreu de novembro de 2021 até fevereiro de 2022. Esta foi a nossa primeira Floresta Rápida e um projeto-piloto que teve os seus desafios, acrescidos da geografia física do terreno (em encosta), mas serviu para testar com sucesso em Portugal aquilo que era um conjunto de técnicas e métodos desenvolvidos e aplicados em outras zonas do planeta.

Um ano depois, está à vista a diferença: as plantas tiveram um crescimento notável e vemos efetivamente uma minifloresta no local. Para dar um exemplo, os mini rosmaninhos que plantámos são agora enormes arbustos viçosos, e os aromas (desde o alecrim, ao rosmaninho, à alfazema, à madressilva) estão muito presentes no espaço. Já observei uma abelha ou outra a pousar nas plantas floridas. Os resultados aqui obtidos são uma fonte de orgulho e uma recompensa pelos esforços de todos os que lá trabalharam (e voltam para cuidar e manter), servindo também de inspiração para os voluntários que se juntaram mais tarde a este projeto.

A segunda e mais recente minifloresta da URBEM surge numa área de 1165 m2 do novo terreno cedido pela CML no mesmo parque. Começámos a preparar o solo e plantar em novembro de 2022 e terminámos no início de fevereiro de 2023. O que aprendemos com o projeto-piloto foi aplicado neste seguinte e, como o terreno é plano, pudemos ainda incluir zonas de convívio (e de passagem) e três bacias para a criação de pequenos lagos.

Entrámos na primavera de 2023 na fase de manutenção da nossa segunda Floresta Rápida e encontramo-nos no local aos sábados de manhã para remoção de ervas-daninhas, substituição de plantas que não vingaram ou foram roubadas, para rega e aplicação de coberto vegetal (para manter a humidade do solo).

A segunda Floresta Rápida da URBEM ganhou vida com um maior número de voluntários comparada com a primeira. Muitos conheceram o projeto através das redes sociais; outros vivem na zona, puderam ver o que estamos a realizar e quiseram juntar-se; outros ainda foram trazidos por familiares ou amigos voluntários.

Ajudamos a natureza e ela retribui recarregando-nos com energias boas e proporcionando bons momentos ao ar livre, partilhados com pessoas com quem acabamos por criar laços de amizade. Por vezes juntamo-nos após o trabalho para um pequeno piquenique e convívio. Destaco ainda o nível de dedicação do nosso coletivo: temos uma voluntária que sofre de alergias e toma medicamentos para participar, outro nosso colega veio dos Estados Unidos para viver em Portugal e, por desejar retribuir e fazer algo pelo ambiente, vem de Setúbal todos os sábados para se juntar à equipa. Além das caras conhecidas que regressam semanalmente, temos sempre pessoas novas.

Com o passar do tempo, a missão ambientalista da URBEM está a ganhar mais força e visibilidade. Recentemente fomos contactados por associações de outros países com missões similares, que querem visitar as nossas florestas rápidas, ver pessoalmente o que estamos a realizar, e informar-se sobre os resultados, para poderem aplicar o método Miyawaki noutros locais. Um dos lemas da Sasi é que uma floresta pode não mudar o mundo, mas pode mudar as mentalidades. Pouco a pouco estamos a ajudar a criar uma mudança positiva e duradoura.

* Tradutora freelancer. Sempre empenhada na defesa do ambiente e dos animais, tem participado como voluntária no projeto URBEM about:blank, seja no terreno seja em divulgação. Artigo publicado originalmente em Florestas.pt.

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