Entre as boas e as más noticias…

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Televisão por cabo (imagem genérica).
Comercio 780

O relatório anual agora divulgado pela Reuters Digital News Report confirma que Portugal segue a “tendência global” de distanciamento em relação às más noticias, com a invasão russa da Ucrânia a ocupar uma posição dominante.

Por Dinis de Abreu *

De facto, de acordo com as conclusões do relatório, a guerra na Ucrânia “é o tema noticioso que os portugueses mais evitam”, seguindo-se as notícias relacionadas com entretenimento e celebridades, o desporto e as notícias sobre crime e segurança, conforme se indica noutro espaço deste site.

Observa-se, na generalidade, que o referido estudo aponta para cerca de um terço dos inquiridos que evitam, activamente, as más notícias, sendo claro que a guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia, contribuiu substancialmente para esse fenómeno de alheamento propositado da informação.

Diga-se que esta tendência defensiva crescente, adoptando uma certa “blindagem” perante a enxurrada de más noticias – que, diariamente, os media veiculam, por vezes, de uma forma especulativa ou sensacionalista -, corre o risco de ser confundida com uma típica atitude de “meter a cabeça na areia”.

Mas seria, talvez injusto, atribuir, exclusivamente, esse comportamento a razões de fragilidade emocional ou de apatia perante o sofrimento alheio.

A realidade é que os media, com relevo para a televisão, que continua a ser prioritária na informação dos portugueses – seguida pela Rádio e a Internet, ficando a Imprensa em último lugar, com uma influência residual – têm vindo a seguir, em muitos casos, uma orientação editorial muito próxima dos tabloides, o que talvez explique um certo pendor dos portugueses para privilegiarem o serviço público, avaliando-o como mais confiável.

Na análise do relatório, ressalta que o “ranking” da confiança em 2023, “em marcas de notícias”, continua a ser liderado pelo serviço público de “media”, o que não será alheio à opção de a RTP manter um formato prudente nos seus principais telejornais, sem cair nos exageros dos canais privados, temáticos ou generalistas, que esticam os blocos noticiosos de uma forma absurda, com intervalos publicitários de duração não menos absurda.

Nota-se, aliás, que as pessoas estão cada vez mais saturadas de notícias tratadas com excesso de crueza – e discutíveis critérios éticos – , havendo dois terços dos inquiridos a preferir noticias “com um pendor positivo e construtivo ou notícias que se foquem mais em soluções e não apenas em problemas”.

Apurados estes novos resultados, num trabalho exaustivo que abrangeu 46 países, com uma amostra superior a 90 mil entrevistados (cerca de dois mil por mercado), seria desejável que os responsáveis editoriais se debruçassem, sobre as conclusões naquilo que que nos diz respeito, e reflectissem, sobre o melhor caminho a seguir para reconquistar a confiança dos portugueses.

É de temer, porém, que a disputa das audiências arraste os operadores para uma insensata exploração emocional, que continuará a provocar a migração de portugueses para outros veículos informativos e a minar a sua confiança nas notícias. Uma pena.

* Jornalista. Artigo publicado originalmente no site Clube de Imprensa.

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