
Num mundo cada vez mais plural e em constante mobilidade, comunicar com estrangeiros tornou-se parte do dia-a-dia da maioria das cidades. Nestes contextos, o nosso maior desafio é muitas vezes entender quem fala outra língua, especialmente quando não dominamos o idioma, ou não nos sentimos confiantes. E se, em vez de recorrermos sempre ao inglês, ou ficarmos à espera das competências linguísticas perfeitas, considerássemos o potencial da Intercompreensão?
Por Cristina Bernardo Domingues *
A Intercompreensão consiste na compreensão do essencial de uma mensagem noutra língua, recorrendo ao repertório linguístico individual, sobretudo quando se trata de línguas da mesma família (como no caso das românicas – português, espanhol, francês, romeno ou italiano).
Há muitos momentos em que a Intercompreensão se pode revelar essencial, como em ambientes multiculturais (no convívio social ou numa sala de aula), ou permitindo que migrantes e turistas consigam entender orientações fundamentais, ou até para que os profissionais do setor turístico possam interagir de forma eficaz com visitantes de diferentes origens linguísticas, mesmo sem dominarem plenamente essas línguas. Enquanto ferramenta de comunicação, a Intercompreensão permite, por exemplo, que um português receba um turista italiano sem necessidade de recorrer a um idioma neutro. Cada pessoa pode expressar-se na sua própria língua, apoiando-se nas semelhanças existentes entre a mesma família linguística, num percurso partilhado de comunicação, onde a disponibilidade, a curiosidade e a tolerância ao erro assumem um papel fundamental.
A investigação tem demonstrado que conhecer uma língua de uma família facilita a compreensão das restantes línguas desse grupo. Saber duas, torna ainda mais fácil decifrar uma terceira. O objetivo não é dominar todas as línguas, nem compreender necessariamente cada palavra, mas sim desenvolver competências recetivas para construir significado a partir de pistas.
A Intercompreensão amplia, portanto, a visão mais tradicional da aprendizagem das línguas: desenvolve-se não só a partir de estruturas e vocabulário conhecidos, mas também pelo recurso a estratégias cognitivas (adivinhar, comparar, inferir), metacognitivas (refletir sobre o que se compreende, ajustar o discurso, reformular) e comunicativas (incluindo a comunicação não verbal, como gestos, expressões faciais e outras pistas contextuais).
Através destas estratégias, podemos criar experiências que facilitam a criação de sentido, para além das palavras, mesmo sem sermos peritos. Desta forma, valorizamos as competências comunicativas parciais e a capacidade de captar o sentido geral, o que muito contribui para a cooperação, a inclusão e o respeito mútuo, facilitando a integração. No contexto de diversidade em que vivemos, praticar a Intercompreensão pode ser afinal uma forma de construir pontes, em vez de muros.
*Centro de Investigação em Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) da Universidade de Aveiro. Artigo publicado originalmente no site UA.pt.
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