
À medida que o mundo evolui, a necessidade de energia elétrica continua a aumentar, prevendo-se que a produção global de energia triplique em 25 anos. A Bloomberg estima que, até 2050, teremos de gastar 21 biliões de dólares apenas na modernização da rede elétrica mundial, de modo a fazer face a este crescimento. Mas será que precisamos mesmo de expandir as redes elétricas? Não. Há um caminho mais inteligente a seguir com planeamento e, sobretudo, descentralização.
Por Luísa Matos *
As Comunidades de Energia Renovável (CER), onde os membros partilham a energia solar, podem satisfazer grande parte desta procura crescente sem que seja necessária uma expansão massiva da rede. Estas comunidades produzem e utilizam a energia exatamente onde ela é necessária, reduzindo a pressão sobre a rede elétrica. Além de representarem uma opção sustentável capaz de reduzir toneladas de emissões de CO2, representam ainda uma opção igualmente vantajosa do ponto de vista econômico. Para mudar mentalidades e criar uma cidadania energética, é essencial dar a perspetiva de que o modelo é escalável e economicamente sustentável, sem grande dependência de subsídios.
O modelo das Comunidades de Energia Renovável permite uma redução significativa de custos energéticos em 15 por cento, com poupanças adicionais de 35 por cento, provenientes da partilha local de energia. Uma empresa em Portugal que coloque painéis solares no seu telhado pode poupar 15 cêntimos por cada euro na globalidade da sua fatura da eletricidade.
Quando a energia produzida é partilhada em comunidade, a poupança duplica para 30 cêntimos por cada euro gasto. Quanto aos futuros membros da comunidade, reduzem também as suas faturas de eletricidade entre dez e vinte cêntimos por cada euro.
A gestão inteligente da energia é vital com a energia solar, que muda consoante as condições meteorológicas e a hora do dia. As Comunidades podem ser providas de sistemas operativos para controlar e reduzir a quantidade de energia que utilizam, bem como otimizarem o momento em que utilizam essa energia e desviarem os consumos das horas de custos mais elevados. Com estas ferramentas, é possível poupar mais 25 cêntimos por euro, o que representa uma redução total de cerca de 55% nos custos de energia. Quando as empresas, os municípios e as instituições gastam menos nas faturas de eletricidade, têm mais recursos para as suas missões centrais – quer seja criar emprego, prestar serviços públicos ou servir as suas comunidades. É por isso que as Comunidades de Energia Renovável têm potencial para alterar o futuro, permitindo economias locais fortes.
Portugal tem algumas das melhores leis da Europa para a partilha de energia solar entre vizinhos. No entanto, a morosidade do processo de obtenção de licenças e a burocracia adjacente atrasa o arranque e o crescimento das Comunidades de Energia no país. Embora haja avanços significativos nos processos de licenciamento, há ainda atrasos no registo de novos membros nas comunidades, o que impede empresas e famílias de verdadeiramente usufruírem dos benefícios da energia partilhada. A frustração reside no facto da grande adesão por parte de empresas e famílias às comunidades, estar condicionada por meses de espera para poderem ter acesso a essa energia, contribuindo para a descredibilização no mercado.
Combinando soluções orientadas para o mercado com uma legislação propícia, podemos criar um sistema energético que beneficia toda a comunidade: as empresas poupam dinheiro, as economias locais fortalecem-se e a rede elétrica torna-se mais sustentável.
Chegados aqui, o que falta para darmos este decisivo passo? É preciso incentivar a criação de CER, já que reduzem os custos, reorganizar a rede elétrica e otimizar os seus investimentos de forma a promover a sustentabilidade. Ao alavancar a economia de mercado e o apoio legislativo, podemos criar uma situação vantajosa para todas as partes interessadas, incentivando uma participação mais ampla – de todos – na transição energética.
* CEO da Cleanwatts. Artigo publicado originalmente no site Ambiente Magazine.
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