Anda comigo ver os navios na Gafanha da Nazaré

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Cais bacalhoeiro, Gafanha da Nazaré (foto de Tiago Neves).
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Vamos à Gafanha da Nazaré ver navios, entre os quais bacalhoeiros, mas já não somos acompanhados pelo cheiro intenso do bacalhau a secar ao sol e ao vento nas secas que se estendiam entre o Cais dos Bacalhoeiros e a vizinha Avenida dos Bacalhoeiros.

Por Manuel Cardoso Ferreira (texto e fotos) *

Saindo da A25 (autoestrada 25) no nó da Friopesca em direção à Gafanha da Nazaré, segue-se em frente na rotunda, estacionando entre esta e o Cais dos Bacalhoeiros.
No final deste pequeno arruamento, junto ao cais e à ria, no edifício situado na esquina do lado esquerdo há um grande painel de azulejos que retrata a antiga seca do Milena, quando os edifícios desta eram em madeira, imitando os “palheiros”. Aqui, podemos virar à direita e seguir o curto percurso até ao final do cais, sob as pontes rodoviárias da A25 e da antiga EN109-7, e a ferroviária de acesso ao Porto de Aveiro, regressando depois ao local de partida.

Porto de pesca bacalhoeiro (foto de Manuel Cardoso Ferreira).

De regresso ao local da antiga “Milena”, o percurso prossegue pela marginal. Do lado oposto do canal, ficam os estaleiros navais, com as suas docas e as embarcações em reparação. Poucos metros volvidos, desse mesmo lado, surge o canal da ria que conduz ao Terminal Sul do Porto de Aveiro, às instalações dos clubes náuticos, à zona da antiga Lota e à entrada da cidade de Aveiro. Durante algumas centenas de metros, o itinerário segue entre armazéns industriais (à esquerda) e a ria (à direita), com as suas pontes cais, algumas das quais têm atracados navios, de vários tamanhos e feitios, incluindo velhos “bacalhoeiros” que ainda resistem para perpetuar a memória da pesca do bacalhau. Outrora, durante alguns meses por ano, nestas pontes cais estava atracada a maioria da frota bacalhoeira portuguesa, o que fazia deste porto o mais importante porto português da pesca longínqua.

Porto de pesca bacalhoeiro (foto de Manuel Cardoso Ferreira).

Se os navios “bacalhoeiros” já não são presença tão assídua nos cais, o bacalhau ainda continua a “reinar” na maioria das instalações industriais que ladeiam a rua. Só que agora o bacalhau não seca ao sol e ao vento sobre os longos “secadores” que ocupavam áreas consideráveis das antigas secas de bacalhau, como em tempos idos.
Na margem da ria, e sobretudo nos cais de atracagem das embarcações, é frequente a presença de pescadores à linha, enquanto outros o fazem nas pequenas embarcações tradicionais aventurando-se pelas águas da ria em busca de outros pesqueiros. Para lá do canal, a vista perde-se pela imensidão do salgado aveirense, com muitas marinhas ao abandono, semidestruídas, e outras reconvertidas para piscicultura. Mais ao longe, avista-se o casario de Aveiro (e terras vizinhas) e, ainda mais distante, as serranias.
Uns velhos mastros chamam a atenção do caminhante. Atracado a um cais está o histórico navio bacalhoeiro “Argus”, que se apresenta como que um navio sucata, tal é o estado de degradação em que se encontra. Há um projeto, que envolve a Câmara Municipal de Ílhavo, para reconverter esta embarcação num polo turístico a instalar no Jardim Oudinot, onde já se encontra o Navio Museu Santo André.

Porto de pesca bacalhoeiro (foto de Manuel Cardoso Ferreira).

Aproximam-se as instalações do Terminal Especializado de Descarga de Pescado. Passado este edifício, o itinerário regressa à margem da ria. Pouco depois, voltamos a encontrar diversos painéis de azulejos, de pequenas dimensões, que retratam cenas relacionadas com a “faina maior”, tanto da pesca como do processamento do bacalhau nas antigas secas, colocados na fachada de um outro armazém.

Porto de pesca bacalhoeiro (foto de Manuel Cardoso Ferreira).

Pouco mais adiante, as instalações industriais dão lugar a um extenso descampado, com acácias a chegarem à beira da estrada. Nesta zona, há cais sem qualquer grande embarcação atracada, deixando espaço às bateiras da ria. Percorrido esse troço, a estrada vira à esquerda, já que em frente um esteiro da ria impede a continuação da via, vendo-se, do outro lado, as instalações da histórica EPA (Empresa de Pesca de Aveiro), com os seus navios atracados nos respetivos cais.

Porto de pesca bacalhoeiro (foto de Manuel Cardoso Ferreira).

Após a acentuada curva para a esquerda, o caminhante depara-se com as instalações da marina da Gafanha da Nazaré, repleta de embarcações de recreio e de barcos tradicionais da ria. Neste local, a estrada começa a subir, de modo a transpor a linha ferroviária de acesso ao Porto de Aveiro e a Avenida dos Bacalhoeiros. Do viaduto, avista-se uma enorme pintura mural, onde se destacam ursos a pescar salmão, da autoria do artista plástico António Conceição, que reveste a totalidade de duas fachadas de um edifício empresarial. Enquanto se percorre o viaduto, são perfeitamente visíveis algumas das pinturas que esse mesmo artista realizou nos pegões que sustentam essa ponte.

Chegado ao final do viaduto, o caminhante faz uma curva de 180 graus, para a rua que segue junto a este, com o objetivo de apreciar uma autêntica galeria artística de homenagem os pescadores do bacalhau, às mulheres que trabalhavam nas secas de bacalhau e aos tripulantes do navio bacalhoeiro “Maria da Glória”, afundado por um submarino alemão durante a Segunda Grande Guerra. Esta galeria artística é complementada por um núcleo museológico, constituído por fotos e textos, que descrevem a pesca do bacalhau, o processamento do bacalhau nas antigas secas, a construção naval, entre outros temas relacionados com a “Faina Maior”.

O itinerário agora segue pela rua que ladeia a Avenida dos Bacalhoeiros e, mais adiante, por essa mesma avenida. Do lado esquerdo, a linha ferroviária segue em paralelo, após a qual se erguem instalações industriais dedicadas ao processamento de pescado, a maioria das quais têm as frentes voltadas para a o Cais dos Bacalhoeiros, via percorrida na primeira parte do deste roteiro. Do lado direito, há pequenas unidades industriais, instalações comerciais e casas de habitação. Mais adiante, surge uma rotunda de onde partem dois viadutos sobre a linha ferroviária, e que ligam a Avenida ao Cais dos Bacalhoeiros.

Porto de pesca bacalhoeiro (foto de Manuel Cardoso Ferreira).

Volvidas poucas centenas de metros, o caminhante depara-se com uma nova rotunda, no centro da qual está um monumento evocativo da Faina Maior, acompanhado por um troço do casco do antigo bacalhoeiro “Novos Mares”. Numa das paredes que ladeia parte da rotunda pode-se admirar um grande painel de azulejos, da autoria do ceramista aveirense José Augusto.

O itinerário prossegue pela Avenida dos Bacalhoeiros. Um pouco mais adiante, do lado direito, erguem-se as desativadas instalações do Stela Maris de Aveiro, instituição que desempenhou relevante função assistencial a marítimos. Quase em frente, do lado oposto da avenida, e entre esta e a linha ferroviária, ainda são visíveis velhas bancas de secagem do bacalhau. Pouco depois surge uma nova rotunda, com um monumento evocativos dos “Dóri”, os pequenos barcos a remos antigamente usados na pesca do bacalhau, no tempo em que este era pescado à linha. Ao lado, um enorme âncora.
Chegado à rotunda, o viajante vira para a esquerda, para atingir o local de partida, situado entre a rotunda e a ria.

* https://www.facebook.com/manuel.cardosoferreira.5

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