Alojamento estudantil e autarquias

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Universidade de Aveiro (arquivo).
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A atração de investimento estrangeiro, a subida das taxas de juro dos empréstimos bancários e a forte aposta no turismo transformaram substancialmente o mercado nacional de arrendamento, com forte impacto na oferta de alojamento para estudantes.

Por Paulo Jorge Ferreira *

O impacto do turismo tem-se feito sentir de forma mais expressiva. Uma parte da oferta disponível transferiu-se para o setor do alojamento local, fazendo subir consideravelmente os preços das rendas. Já há seis anos a ONU tinha alertado para a “turistificação desenfreada” e o impacto que podia ter no direito à habitação dos portugueses mais vulneráveis.

De acordo com o relatório do Observatório do Alojamento Estudantil publicado em agosto, o preço médio de quartos e apartamentos para estudantes subiu no último ano mais de 10,5 por cento na maioria dos distritos. Apenas Beja, Bragança e Porto ficaram abaixo dos 10 por cento. O aumento em Portalegre foi de 33 por cento.

Refere o mesmo relatório que arrendar um quarto no Porto ou em Lisboa tem um custo médio superior a 400 euros. Em Setúbal, Faro ou Aveiro o valor é superior a 300 euros. O problema agrava-se quando há a exigência de pagamentos adiantados de rendas.

O setor privado e as autarquias têm tentado disponibilizar novos espaços para dar resposta à procura dos estudantes. O Governo também anunciou 26 mil novas camas para os estudantes do ensino superior até 2026, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, existindo neste momento 133 projetos em diferentes fases de concretização.

A Universidade de Aveiro, que já tem um dos mais elevados rácios de camas por estudante deslocado em Portugal, mas que tem também registado uma procura crescente, é uma das universidades abrangidas por este plano, prevendo iniciar em breve a construção de cinco blocos residenciais e lançar a concurso outras empreitadas em Aveiro e em Oliveira de Azeméis, permitindo aumentar a sua capacidade em 41 por cento. Também para breve está prevista a reabilitação de vários complexos residenciais.

A oferta anunciada pelos vários agentes privados e públicos continua, no entanto, a ser insuficiente para a procura registada. Para evitar a subida dos índices de abandono escolar devido a dificuldades económicas é importante continuar a trabalhar em soluções para alojamento de estudantes, em quantidade, em qualidade e a preços acessíveis.

Os municípios são e serão parceiros importantes das instituições de ensino superior neste objetivo. Juntos, podem continuar a apresentar soluções de alojamento que permitam atingir e manter um equilíbrio saudável entre a oferta turística e a oferta de alojamento estudantil.

O turismo é um importante setor para a nossa economia. Mas a qualificação é uma necessidade permanente num país que precisa de melhorar a sua produtividade, assegurar o crescimento económico, aumentar a capacidade de inovar e reduzir as assimetrias locais e globais. Todos beneficiaremos com a atração e retenção de talento e as autarquias também.

Vale a pena pensar nisso.

* Reitor da Universidade de Aveiro. Artigo divulgado no site UA.pt e publicado originalmente no Jornal de Notícias.

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