A imprensa na “mó de baixo”…

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Jornalismo.

A celebração recente do Dia Mundial de Imprensa não trouxe boas notícias em relação a Portugal.

Por Dinis de Abreu *

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Um estudo da Marktest, ao qual se fez referência neste espaço do CPI, revelou que o País perdeu mais de metade dos jornais e revistas nos últimos 20 anos e que, em 2022, em 126 dos 308 concelhos em Portugal não se publicava nenhum periódico.

A evidência do declínio da Imprensa baseia-se, segundo o mesmo estudo, em dados apurados pelo INE – Instituto Nacional de Estatística, e é naturalmente preocupante.

É certo que os indicadores de leitura de jornais e revistas nunca foram brilhantes em Portugal, mas o advento de novas fontes de informação, quer audiovisual, quer por via digital, ditaram o agravamento acelerado das perdas no sector.

Mesmo assim, e apesar do enfraquecimento brutal verificado na circulação de jornais e revistas de âmbito nacional, acreditava-se que a imprensa regional e local resistisse melhor, pelas suas características intrínsecas de proximidade ao leitor, o que não está a acontecer.

O suporte em papel foi substituído, nalguns casos, pelo digital, mas noutros nem isso.

Assistiu-se ao desvio progressivo de leitores para as grandes plataformas digitais e, nestas, as chamadas redes sociais, sobretudo devido à massificação de telemóveis, com a qual se criou uma forte dependência, em particular, nas populações mais jovens.

Depois, e ao contrário daquilo que se tem visto, tanto na Europa como nos EUA, as empresas editoriais portuguesas têm revelado uma fraca apetência pela inovação, perdendo em agilidade e em capacidade de reverter uma situação cada vez mais precária.

Mesmo a imprensa supostamente mais estabelecida, conheceu uma forte redução nas suas tiragens, o que tem vindo a complicar a sobrevivência económica até das distribuidoras, confrontadas com a manifesta exiguidade do mercado.

O panorama é sombrio. E pior ficará se os responsáveis editoriais e outros não cuidarem de adoptar experiências bem-sucedidas noutras latitudes, e os respectivos procedimentos, e o actual governo mantiver a mesma apatia, que prevaleceu em executivos anteriores.

Se as Artes, designadamente, o cinema e o teatro, são beneficiárias de significativos apoios estatais, talvez seja altura de incluir a Imprensa nesse elenco de incentivos, embora acautelando regras e salvaguardas para garantir a sua independência editorial.

Sem alternativas, seja por conta do Estado ou do mecenato desinteressado, a agonia da imprensa tornar-se-á irreversível. E a democracia carece de uma imprensa livre, influente e capazmente responsável. Haja quem perceba e respire o ar do tempo.

* Jornalista. Artigo publicado originalmente no site Clube de Imprensa.

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