
Celebramos 35 anos de acolhimento, cuidado e esperança. Trinta e cinco anos de mãos estendidas às nossas crianças. O Centro de Acolhimento Infantil nasceu em maio de 1990, fruto da cooperação entre a Cáritas Diocesana, a Câmara Municipal de Aveiro e a Segurança Social. Foi e continua a ser uma resposta essencial: proteger as crianças e devolver-lhes o direito mais elementar de ser criança.António Leandro *Está a ler um artigo sem acesso pago. Faça um donativo para ajudar a manter o jornal online NotíciasdeAveiro.pt gratuito.
Desde a origem, o CAI desenvolveu três respostas integradas: Creche, Pré-escolar e CAR – Casa de Acolhimento Residencial (anteriormente CAT). No CAR foram já acolhidas 400 crianças que chegaram com rostos fechados, carregando medos e histórias duras, mas que aqui encontraram afetos, rotina e a alegria de brincar, aprender e sonhar.
A proteção à infância pela Cáritas de Aveiro tem raízes profundas. Há mais de 65 anos, famílias da região acolhiam crianças órfãs da Áustria. Em 1956, o Bispo Dom Domingos da Apresentação Fernandes criou a Comissão Diocesana da União da Caridade Portuguesa. Em 1976, Dom Manuel de Almeida Trindade criou a Cáritas Diocesana de Aveiro, constituída como IPSS em 1982.
O CAI, nascido em 1990, não foi um projeto isolado, mas o culminar de décadas de vocação caritativa da Diocese, entidades e pessoas de Aveiro. Em 1988, um encontro sobre “A Criança em Situação Difícil” confirmou a necessidade real de apoiar crianças maltratadas, abandonadas e negligenciadas. Foi assim que nasceram as nossas respostas concretas de Creche, Pré-Escolar e Casa de Acolhimento Residencial, onde V. Exas. estão hoje.
Homenagem aos Pilares do CAI
Somos hoje uma equipa de quase 60 funcionários na Cáritas Diocesana de Aveiro. A todos os que trabalharam e trabalham no CAI e nas nossas outras respostas sociais, estamos profundamente agradecidos pelo contributo para esta missão comum: cuidar de quem mais precisa.
Destacamos especialmente os nossos colaboradores mais antigos. Hoje homenageamos nove pessoas que dedicaram 35 anos das suas vidas à Cáritas Diocesana de Aveiro: Cristina Pinho, Fátima Arnay Lopes, Fátima Machado, Concepción Valente, Isabel Osório, Conceição Rocha, Paula Tavares, Fernanda Guiomar e Dora Graça.
Embora as distingamos especialmente, homenageamos também todas as outras colaboradoras e colaboradores, com menos anos de casa mas de igual entrega e dedicação. Todos estes colaboradores extraordinários são o Centro de Acolhimento Infantil e são Cáritas Diocesana de Aveiro. São o coração desta casa. No seu colo cresceram gerações, com elas as crianças reaprenderam a confiar, e nós, como instituição, aprendemos a ser melhores.
Recordamos com profundo respeito a Dra. Maria José Falcão, aqui presente, que há 35 anos presidia a Cáritas Diocesana de Aveiro e foi determinante para que este sonho ganhasse forma, juntamente com o Sr. Presidente da Câmara Municipal de Aveiro, Diretor-Geral dos Serviços Tutelares de menores e o presidente do conselho diretivo do centro regional de segurança social de Aveiro. Foi ela quem assinou o acordo fundador em 1989, com os demais.
Obrigado, Dra. Maria José Falcão, por hoje estar aqui connosco, neste reencontro simbólico com o tempo e a memória e para quem peço uma salva de palmas.
Um Novo Capítulo
Mas este dia não é apenas uma celebração do passado e do presente — é, acima de tudo, um compromisso com o futuro. Assinamos hoje o projeto para o novo edifício do CAI, destinado às respostas sociais de creche e pré-escolar.
Ao longo das últimas décadas, foram várias as tentativas para desenvolver novas instalações para o CAI. Todos sabemos (e vemos) bem que o edifício atual, apesar de ter acolhido tantas histórias e afetos ao longo dos seus 35 anos, já não reúne as condições de conforto e funcionalidade que hoje se exigem a uma instituição desta natureza. As exigências legais e pedagógicas evoluíram, e com elas a consciência de que as nossas crianças merecem espaços mais amplos, seguros e ajustados às suas necessidades de crescimento e aprendizagem.
Muitos foram já os projetos sonhados, alguns esboçados, mas, todos interrompidos por falta de meios. E é por isso que este momento é tão simbólico: estamos a dar um passo concreto rumo a esse objetivo, com o lançamento do projeto para o novo edifício do CAI.
Expressamos profunda gratidão à Câmara Municipal de Aveiro, que, ao demonstrar um compromisso firme com esta causa, irá viabilizar os recursos financeiros para este novo projeto. A sua colaboração tem sido consistente e indispensável, e é também à Câmara que devemos a cedência do terreno que permitirá erguer este novo espaço. Também expressamos profunda gratidão ao Instituto de Segurança Social por todo o trabalho de parceria e (quase) mútuo entendimento, com quem temos trabalho de forma leal e construtiva para irmos resolvermos todos os problemas que vão aparecendo, sempre muitos.
Ao mesmo tempo, o edifício atual, onde hoje nos encontramos, será totalmente dedicado à Casa de Acolhimento Residencial (CAR).
No futuro, com dois edifícios — um dedicado à infância, outro ao acolhimento — teremos espaços verdadeiramente dignos das nossas crianças.
Aguarda-nos o desafio de reunir os recursos necessários para a construção e reabilitação destes edifícios. Mas temos confiança de que, tal como hoje, a generosidade e o apoio da comunidade estarão ao nosso lado para tornar este sonho realidade e esperamos que não demorem muitos anos até estas intervenções serem uma realidade.
Transparência e Compromisso
Não escondemos que os últimos anos têm sido desafiantes. A Cáritas Diocesana de Aveiro tem assumido, com coragem e sentido de missão, um esforço financeiro contínuo. As respostas sociais do CAI — sobretudo a Casa de Acolhimento Residencial (CAR) — têm registado défices expressivos e persistentes em todos os anos da última década.
É um esforço muito pesado, que temos suportado em nome da comunidade que servimos. E, apesar das dificuldades, temos sido agraciados com o apoio solidário de muitos — pessoas, empresas, parceiros — que partilham connosco esta responsabilidade. Mas precisamos de mais. Precisamos de garantir que este trabalho essencial pode continuar com dignidade e sustentabilidade.
Ainda assim, não desistimos, porque não desistimos das crianças. Onde é preciso proteger a infância mais vulnerável, onde é preciso devolver sorrisos, segurança e esperança, a Cáritas Diocesana permanece.
O verdadeiro valor do nosso trabalho não se mede em números, mas em vidas transformadas, em futuros reconstruídos, em dignidade restituída.
Uma Rede de Solidariedade
Hoje estão connosco personalidades da região, representantes de instituições públicas e privadas. A vossa presença é sinal de reconhecimento, mas também de compromisso. Uma Cáritas Diocesana forte precisa de uma comunidade que a apoie.
A Cáritas não trabalha sozinha. Durante estes 35 anos do CAI e dos quase 50 anos enquanto instituição (que iremos comemorar no próximo ano), fomos abençoados com uma verdadeira rede de solidariedade: as entidades oficiais parceiras, as empresas e particulares generosos, os voluntários dedicados.
Gratidão e Futuro
Terminando, quero expressar a nossa profunda gratidão. Aos que estiveram presentes desde a primeira hora, aos que se juntaram pelo caminho, aos que hoje renovam o seu compromisso connosco.
Muito se tem feito nestes 35 anos, mas muito mais há para fazer. A situação das crianças em risco continua a desafiar-nos. Mas temos esperança, porque temos ao nosso lado pessoas como vocês, que acreditam na nossa missão.
Que nunca nos falte a coragem de cuidar. Que nunca nos falte a ternura de acolher. Que nunca nos falte o compromisso de proteger as nossas crianças.
Bem-haja a todos.
* Presidente da Direção da Cáritas Diocesana de Aveiro. Discurso no 35º Aniversário do Centro de Acolhimento Infantil.
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