Região de Aveiro: Balanço ambiental de 2022 e perspetivas para 2023

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Limpeza de 'jacintos d'água' (Foto partilhada pela Quercus / Aveiro).
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O ano de 2022, apesar do desagravamento das medidas pandémicas, continuou a ser muito exigente para a população em geral, devido à conjuntura Nacional e Internacional marcada pela guerra na Ucrânia, pelos aumentos brutais da inflação e dos juros e por uma situação de seca grave que afetou todo o país.

Por Quercus (Aveiro) *

Contudo, estas dificuldades não devem fazer com que o Ambiente deixe de ser tema em 2022, bem pelo contrário. Estas reforçam a necessidade de mudar para políticas amigas do ambiente, mais sustentáveis, que visem a proteção e uma melhor gestão dos recursos naturais, que promovam a biodiversidade e que reduzam a dependência do exterior das energias fósseis.
Relativamente ao que toca à região de Aveiro, seguem-se os factos que consideramos ser o melhor e pior de 2022, bem como as expectativas para 2023:

Os piores factos ambientais de 2022

1. Monoculturas, espécies Invasoras e exóticas

A região de Aveiro continua a marcar posição pelos piores motivos neste ponto. Não se vêem grandes esforços para travar o crescimento das áreas de monoculturas de eucalipto (Eucalyptus globulus), nem de outras espécies invasoras como as acácias ou a erva-da-pampas (Cortaderia selloana), canas (Arundo donax). Continuam-se a passar licenças, não há vistorias aos terrenos plantados e, quando existem denúncias, não há lugar à reposição da legalidade.
O mesmo se pode dizer em relação às invasoras aquáticas, como o jacinto-de-água (Eichhornia crassipes) ou a pinheirinha-de-água (Myriophyllum aquaticum), que continuam a ocupar as nossas massas de água sem que haja ações eficazes no sentido de controlar o problema da eutrofização e perda de biodiversidade aquática.

No que diz respeito à fauna, existe, em relação à vespa-asiática (Vespa velutina), uma linha de apoio municipal onde a protecção civil atua na sequência de denúncias de avistamentos de ninhos, sendo que a eficácia do controle está dependente dos avistamentos de ninhos. Contudo, relativamente às espécies piscícolas como o Pimpão (Carassius auratus auratus), a Ameijoa asiática (Corbicula fluminea), a Gambusia (Gambusia affinis), o Lagostim vermelho do Louisiana (Procambarus clarkii) e a carpa comum (Cyprinus carpio) continuam sem ações de controle concretas. Todas estas espécies estão a colocar em grave risco parte da biodiversidade dos nossos rios.

Portanto, continua-se a fazer muito pouco ou nada para contrariar a expansão destas espécies, que causam graves problemas à nossa saúde (infecções respiratórias provocadas pela erva-da-pampas e pelas acácias), à biodiversidade (diminuição), aos produtores (apicultores, pescadores, agricultores) e no caso florestal ainda representa um risco acrescido de incêndios florestais, sendo um fator que agrava a severidade dos mesmos.

A falta de informação e de conhecimento da população, relativamente ao problema das invasoras, leva a que estas continuem a proliferar e o seu impacto seja cada vez maior. A inação para resolver estes problemas, que apresentam um crescimento exponencial, terá um impacto muito grande nos ecossistemas, na nossa saúde e na economia.

2. Erosão Costeira

Outro dos grandes problemas ambientais do distrito de Aveiro, que terá um grande impacto num futuro próximo é a erosão costeira.
A tendência de avanço do nível do mar, potenciado pelas alterações climáticas, é conhecida e a falta de recarga natural das areias na nossa costa também.  Contudo, para além de nada de significativo tem sido feito para contrariar a erosão, em termos de ordenamento do território, ainda são promovidas intervenções que causam deterioração das zonas dunares e costeiras, que são as defesas naturais do território contra o avanço do mar.
Continuamos a ver casos de abate de árvores e destruição de vegetação, como foi o caso do pinhal de Ovar, construções e movimentos de areia,  com o recurso a maquinaria pesada, nas zonas dunares, como se tem verificado nas praias da Barra e Vagueira.

3. Poluição de recursos hídricos

Apesar das denúncias, persistem as descargas sem tratamento para os rios e mar. Por falta de vontade das entidades fiscalizadoras em fazer cumprir a legislação e a impunidade leva a que as pessoas continuem a cometer os mesmos crimes ambientais.
Continuam a existir, por um lado, muitas situações de poluição por deposição ou abandono de lixos, plásticos que vão parar aos cursos de água e finalmente arrastados para o mar. Por outro lado, o uso excessivo detergentes, lixiviantes, fertilizantes químicos e herbicidas, nas nossas casas, na agricultura, na silvicultura ou pelas entidades locais, tem vindo a constituir um sério problema para os nossos recursos hídricos, levando à contaminação dos solos, dos lençóis freáticos, cursos de água, flora e fauna.

4. Índices de qualidade do ar

Existe uma grande falta de transparência por parte das entidades com responsabilidade na matéria. Os casos de Estarreja e das zonas urbanas atravessadas pela EN109 são exemplo, pela negativa. Mas existem outras situações que vão sendo denunciadas ao Núcleo de Aveiro, que raramente consegue que as entidades oficiais cumpram com as suas obrigações.

Em muitos casos é evidente que não se dá a devida atenção aos parâmetros de qualidade do ar, com consequências na saúde das populações e no ambiente.

5. Impermeabilização dos solos e destruição de áreas verdes

Este parece ser um problema recorrente do desenvolvimento urbano em Portugal. O alcatrão, o betão e o cimento são usados excessivamente, impermeabilizando os solos e aumentando drasticamente o risco de cheias em meio urbano.
A maioria das zonas verdes urbanas ou espaços públicos onde estão presentes árvores, sofrem uma pressão muito grande devido às limitações que se impõem ao espaço natural. As zonas pedonais encontram-se impermeabilizadas e os caldeirões, onde se encontram as árvores, muitas vezes tem pouco mais de um palmo de terra à volta do tronco. Acrescendo a isso, as podas drásticas que se continuam a fazer, para além de “tirar anos de vida”, fragilizam as árvores que depois são abatidas precocemente devido à inépcia de quem tem o dever de as tratar bem.
Acresce a isto que em muitos casos se verifica destruição de zonas verdes e árvores de grande porte (como foi o caso do abate das árvores nas Termas das Caldas de São Jorge em Santa Maria da Feira), tão importantes para melhorar a qualidade do ar, fazer regulação térmica do espaço urbano, promover a infiltração da água, bem como a biodiversidade em meio urbano.
A substituição destas árvores por betão traduz-se numa enorme perda ambiental e mesmo nos casos em que há plantação de novas árvores, o contributo destas é muito mais reduzido e terão de passar muitos anos até que voltem a ter o mesmo impacto das árvores de grande dimensão.

6. Gestão de resíduos

No distrito de Aveiro pouco ou nada continua a ser feito de concreto para reduzir a produção de resíduos e melhorar a sua gestão.
A reciclagem não é promovida nem incentivada e os materiais recicláveis continuam, na sua maioria, a ser enviados para aterro, assim como os bio resíduos que deveriam ser separados e transformados em composto orgânico.
Para além dos graves problemas ambientais que causam os aterros, ao não se promover a recuperação e reutilização dos resíduos recicláveis, não se diminui o nosso impacto sobre as matérias primas.
A excepção é o maior investimento em locais para os consumidores colocarem os resíduos,  contudo, este facto não chega para compensar a utilização crescente de embalagens e a produção crescente de resíduos. Infelizmente, para as pessoas que procuram contrariar este facto, algumas lojas que vendiam produtos a granel fecharam por falta de apoios/adesão.

Os melhores factos ambientais de 2022

1. Os efeitos do controle biológico da Acácia-de-espigas (mosquito/galhas)

Se há alguma exceção no que ao controle de invasoras diz respeito, é esta. Um pouco pela região começa-se a notar acácias-de-espigas repletas de galhas do mosquito Trichilogaster, o que se traduz numa significativa redução da produção de sementes desta espécie. Ainda muito há a evoluir no controle desta espécie, mas é um bom sinal.

2. Projetos de cariz ambiental no orçamento participativo

Outro dos pontos positivos do ano foi a presença de projetos comunitários relacionados com a gestão de resíduos no orçamento participativo de Aveiro. O que revela que alguns cidadãos começam a preocupar-se com estas temáticas e consideram que é necessário fazer algo para mudar o panorama atual da gestão de resíduos.
Desde a compostagem de resíduos orgânicos à redução dos resíduos plásticos, alguns projetos procuraram despertar consciências, com resultados bastante interessantes na dinâmica que conseguiram criar com a comunidade.

3. O regresso da chuva que veio retirar a região de Aveiro da situação de seca severa em que se encontrava

Este foi um ano bastante complicado em termos do clima, com um grande período seco e quente em todo o país. Aveiro não foi exceção, e portanto o regresso da chuva foi uma excelente notícia, permitindo recuperar os níveis de água no solo, bem como os caudais de rios e ribeiros, lagos e charcos.
São também excelentes notícias para a fauna e flora da região, que assim deixa de estar sujeita às consequências da falta de água nos ecossistemas.

Perspetivas ambientais para 2023

1. Maior envolvimento das populações relativamente ao ambiente

É algo que esperamos para 2023. É necessário que as populações se envolvam e pressionem os poderes locais a agir, não só em prol da preservação do ambiente mas também para que se comecem a tomar ações concretas para contrariar os efeitos das alterações climáticas.

2. Que o ano climático seja melhor que o de 2022

Seriam boas notícias o regresso e continuação de um cenário de normalidade climática, tanto para a regeneração de áreas naturais, como para todo o setor primário da região, em especial a agricultura de pequena escala que normalmente dispõe de menos recursos para contrariar as situações extremas.

3. Que haja um maior investimento dos poderes locais na Conservação da Natureza e combate aos diferentes problemas ambientais

É fundamental que se abordem as questões ambientais como prioritárias, tanto pela melhoria dos ecossistemas da região, como também para evitar outras consequências associadas, como os riscos para a segurança e saúde das populações e prejuízos para a economia local.

Continuar a ignorar os problemas ambientais não é solução. Se nada for feito, as consequências tenderão a ser cada vez mais frequentes e mais gravosas.

Devemos reaprender a trabalhar com a Natureza e não contra ela, destruindo-a ou não a protegendo, está-se a destruir a qualidade de vida das populações.

* Direção Regional de Aveiro da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza. https://www.facebook.com/QuercusAveiro

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